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Deusiana Rios: a enfermeira que encontrou liberdade no diagnóstico de transtorno do espectro autista
Natural de Curitiba, Deusiana Rios foi morar em Porto Rico – uma cidade perto de Foz do Iguaçu – por conta do tratamento médico do irmão, que nasceu com apenas um pulmão. A trajetória da profissional foi marcada por inúmeros obstáculos, mas que, corajosamente, foram vencidos por ela. Formada em Enfermagem, Deusiana recebeu o diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA) na fase adulta. É casada, tem uma filha e um canal no YouTube sobre autismo.
Infância e formação
“Quando criança, meus pais começaram a perceber que eu era um pouco diferente. Lembro que quando chegava uma visita em casa, eu chorava até a pessoa ir embora, porque não gostava de ter gente desconhecida em casa. Também não conseguia entender as relações sociais que existiam entre as crianças, por isso me isolava. Tinha dificuldade de socialização e era muito apegada à minha mãe. Não ficava com ninguém, além dos meus pais, e chorava muito – principalmente à noite, porque era muito agitada e não dormia. Nesta época, meus pais buscaram saber o que estava acontecendo comigo, porque era difícil eles conseguirem descansar em casa. Fui diagnosticada com terror noturno [um distúrbio do sono] e me receitaram calmante. Durante minha adolescência, tive muitas dificuldades na integração com outras pessoas. Na faculdade, não foi diferente, mesmo tendo superdotação não conseguia acompanhar a dinâmica da turma. Em 2011, me formei em Enfermagem.”
Tratamento da filha no Pequeno Príncipe
“Eu já tinha história com o Hospital. Fiz acompanhamento na instituição durante minha infância. Quando adulta, me casei e tive uma filha – que nasceu com displasia do quadril. Nesta época, comecei a saga de procurar um ortopedista pediátrico para o tratamento da minha filha. Muitos especialistas falaram que minha pequena nunca ia andar. Meu pai me lembrou que quando eu era criança me trouxeram no Pequeno Príncipe, porque é uma instituição experiente e pediátrica. Então eu trouxe minha filha para o Hospital; a situação dela era delicada e tardia. Mas os médicos do Pequeno Príncipe fizeram todo o possível para que ela andasse. Hoje ela não só anda como também corre.”
Diagnóstico de transtorno do espectro autista
“Eu fiz terapia por muitos anos, mas só tive o diagnóstico na fase adulta. Busquei de muitas formas entender o que acontecia comigo. Muitos achavam que eu só tinha timidez, mas no fundo eu sabia que não. Então busquei uma terapeuta alternativa para me auxiliar a me encontrar. Essa terapeuta um dia me disse que achava que eu estava enquadrada no TEA, mas na época não busquei um especialista no assunto. Depois de sete anos, percebi que ainda não entendia o que acontecia comigo e que deveria investigar a questão do autismo. Procurei um terapeuta especializado em transtorno de espectro autista. Fiz inúmeros exames e tive meu diagnóstico de TEA confirmado. Foi um dia especial, tanto quanto o dia do meu casamento. Foi libertador.”
Aprender e inspirar todos os dias
“Sempre digo que foi a enfermagem que me escolheu. O primeiro vestibular que passei foi para cursar a graduação em Enfermagem. Minha admiração pelo Hospital aumentou quando comecei a trabalhar na instituição. Uma enfermeira, que mora no mesmo condomínio residencial que eu, trouxe meu currículo no Pequeno Príncipe. Fiz uma entrevista e fui contratada. No Hospital, já atendi muitas crianças com autismo. Quando conto para as mães que sou autista, elas ficam muito felizes, porque percebem que os filhos delas podem chegar onde quiserem. Tendo o tratamento adequado e apoio, conseguimos agarrar as oportunidades que surgirem. Quando vou atender uma criança atípica igual a mim, consigo conversar com ela de uma forma muito natural e espontânea – e assim ela entende melhor o procedimento que vou realizar. As pessoas com TEA têm um tempo diferente das demais, são mais ansiosas. Uma vez recebemos um paciente de 3 anos para fazer punção, e ele não deixava ninguém fazer o procedimento. Eu estava de plantão, fui até ele e perguntei se queria segurar a seringa para conhecer. Ele pegou, apalpou, mexeu, viu a agulha. Então eu expliquei a ele que precisava usar a seringa, com a agulha, para fazer a punção. Ele estendeu o braço, e eu fiz o procedimento.”
Pela frente, um caminho de alegrias!
“Na época do diagnóstico eu já atuava como enfermeira no Pequeno Príncipe. Apresentei meu laudo para a coordenação, que ofereceu todo o suporte que eu precisei. A instituição até me deu uma espécie de fone de ouvido, para quando tiver muito barulho no Hospital eu poder usar, porque muitos autistas têm sensibilidade ao barulho e luzes fortes. Ter o diagnóstico, falar para minha supervisora e colegas de trabalho foi uma das melhores atitudes que tive, porque quando apresento alguma dificuldade tenho liberdade de conversar e pedir ajuda. Gosto muito de trabalhar no Hospital, pois tenho a oportunidade de crescer, me desenvolver e me sinto motivada a continuar estudando.”
“O Pequeno Príncipe representa um jardim na minha vida, pois encontrei aceitação e hoje trilho um caminho de alegrias.”
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