Pequeno Príncipe conta com esqueleto humano centenário
A peça veio da França no século passado para compor o acervo de Benjamin Lins d’Albuquerque, entusiasta da medicina e um dos fundadores da Universidade Federal do Paraná
Em sua história centenária, o Pequeno Príncipe conta com inúmeras relíquias que ajudam a contar um pouco da trajetória do cuidado voltado a crianças e adolescentes no Brasil. Algumas delas, estão presentes na instituição há anos. Outras, chegaram recentemente, como um esqueleto humano. A raridade veio da França para compor o acervo de Benjamin Lins d’Albuquerque, entusiasta da medicina e um dos fundadores da Universidade Federal do Paraná.
Por mais de 100 anos, a peça esteve sob a responsabilidade de tradicionais famílias de Curitiba até ser doada ao Complexo. O esqueleto humano está na instituição há alguns anos, integrando o patrimônio do Pequeno Príncipe. “Esse esqueleto humano centenário é uma verdadeira raridade e pode ser considerado uma peça de museu. Tem todo o tratamento de ossos preservados e o seu valor é inestimável, significativo e histórico”, ressalta o médico responsável pelo Serviço de Ortopedia do Pequeno Príncipe e doador do esqueleto, Luiz Antonio Munhoz da Cunha.
Ainda na sua redoma de vidro original, a peça é um importante marco para o ensino da Medicina, pois possibilita que estudantes e profissionais da área possam observar um esqueleto humano, e não apenas reproduções. “O esqueleto humano é fundamental no estudo da Medicina. É por meio dele, por exemplo, que estudamos a anatomia humana e a osteologia”, explica o médico.
História de gerações Era verão, já se ouviam os sinos do Natal e a virada do ano prometia ser um marco para a comunidade estudantil de todo o Brasil. Foi no dia 19 de dezembro de 1912 que Curitiba foi carimbada com mais um marco histórico: a primeira Universidade do Brasil. Entre as comemorações e as palavras de prosperidade estava à voz de Benjamin Lins d’Albuquerque, um dos fundadores da Universidade Federal do Paraná. Oriundo de um século marcado pelo desenvolvimento científico, o advogado, além do nome cravado em uma importante rua do bairro Batel em Curitiba, deixa mais uma herança histórica para a cidade e, principalmente, para a medicina: um esqueleto humano.
No Casarão Benjamin Baptista Lins de d’Albuquerque, localizado no centro histórico de Curitiba, o professor, entusiasta da medicina, recebia, vindo diretamente da França, um esqueleto feminino com a idade estimada perto dos 35 anos. Avanço das telecomunicações, surgimento de novos medicamentos, desenvolvimento tecnológico e muitas viagens para o espaço depois, um século se passou e o esqueleto se manteve como parte da herança de Benjamin para sua família. Após o falecimento do patrono, a relíquia foi concedida ao seu sobrinho, Oswaldo Faria da Costa, na época cirurgião pediátrico do Pequeno Príncipe. Alguns anos se passaram e a peça retornou à filha de Benjamin, que a entregou para o seu genro, o médico ortopedista Luiz Antonio Munhoz da Cunha, responsável por ceder o esqueleto ao Complexo.
Conheça mais
Benjamin Baptista Lins d’Albuquerque Filho de capitão, nasceu em João Pessoa (PB), em 1876. Formou-se na Faculdade de Direito de Recife (PE) e em 1907, acompanhado pelo amigo Lindolpho Pessoa da Cruz Marques, mudou-se para Curitiba, onde abriu um escritório de advocacia. Integrante do grupo de fundadores da então Universidade do Paraná, lecionou as disciplinas de “Enciclopédia Jurídica”, “Filosofia do Direito” e “Introdução à Ciência do Direito”.
Na revolução de 30, foi nomeado para o cargo de diretor da Instrução Pública e, posteriormente, Procurador Regional da República. Também foi um dos fundadores do jornal Gazeta do Povo, em 1919 e do jornal O Dia. Pela sua representatividade, seu nome foi dedicado a uma das vias do bairro Batel.
Oswaldo Faria da Costa Renomado cirurgião, foi responsável pela primeira grande cirurgia no Hospital Pequeno Príncipe, em 1933. Ao lado do colega Reinaldo Machado, realizou uma laparotomia – incisão no abdômen com o intuito de investigar possíveis doenças. O procedimento foi um marco da pediatria paranaense, pois na época não existiam unidades de terapia intensiva.
De 1964 a 1966, presidiu a Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro – mantenedora do Hospital Pequeno Príncipe. Por anos, também foi vice-presidente da entidade. Em sua vida dedicada à medicina, deixou o exemplo de cirurgião dinâmico e incansável, dedicado e amigo de todos, especialmente das crianças. Seu legado permanece nos inúmeros médicos que receberam ensinamentos e formação. No seu pioneirismo na multiplicação do conhecimento, teve também contribuição com o ensino na Universidade Federal do Paraná, a partir de aulas teóricas e práticas voltadas para cirurgia infantil e ortopedia.
Luiz Antonio Munhoz da Cunha Natural de Curitiba, o médico começou a trabalhar no maior hospital exclusivamente pediátrico do Brasil em 1979, porém, a sua história com o Pequeno Príncipe teve início em 1974, quando ainda era acadêmico da Universidade Federal do Paraná. Na época, o até então Hospital de Crianças César Pernetta recebia estudantes para as aulas pela referência em Pediatria e por tratar patologias raras.
Hoje, com uma trajetória de mais de 40 anos de dedicação à ortopedia pediátrica, com ênfase em cirurgia, é chefe do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Pequeno Príncipe. Além da graduação em Medicina, pela Universidade Federal do Paraná (1975), possui mestrado Clínica Cirúrgica pela mesma universidade (1991) e doutorado em Ortopedia e Traumatologia pela Escola Paulista de Medicina (1999). Em 1989, participou da fundação do Comitê de Ortopedia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e em 2016 presidiu a entidade.Também é catedrático da Universidade Federal do Paraná UFPR, como professor do Departamento de Cirurgia e coordenador da disciplina de Ortopedia e Traumatologia. Sua competência e dedicação à cirurgia pediátrica lhe renderam dezenas de reconhecimentos públicos, menções honrosas e prêmios.
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