Na véspera do Dia Nacional da Criança Traqueostomizada (18/2), o maior hospital exclusivamente pediátrico do país, o Pequeno Príncipe, chama atenção para os direitos e os cuidados que esse público precisa. Estima-se que duas em cada cem crianças submetidas à intubação orotraqueal prolongada necessitem de traqueostomia, a maioria delas menores de 1 ano de idade. No entanto, após a alta hospitalar, um dos problemas comuns é a falta de destino para o acompanhamento médico da criança.
Já a taxa de mortalidade relacionada à traqueostomia, de acordo com a literatura internacional, gira entre 0% e 5,9%. Num estudo brasileiro de 2009, no Rio Grande do Sul, foi identificada a mortalidade de 4%. “Além dos riscos, a traqueostomia tem um grande impacto na vida da criança e sua família, com interferências nas esferas social, física e psicológica. Precisamos focar em todos os aspectos envolvidos, porque é uma situação muito complexa para ser deixada de lado”, ressalta o otorrinolaringologista pediátrico Fabiano Gavazzoni, do Hospital Pequeno Príncipe.
Criada em 2021, a data tem como um de seus objetivos salientar a necessidade de assistência profissional adequada para atender essas crianças. A traqueostomia ajuda na respiração, mas tem implicações que precisam ser tratadas por profissionais multidisciplinares. “A criança não consegue se comunicar direito, nem tossir, e pode até apresentar uma dificuldade de engolir. Sendo assim, precisa de fonoaudiólogo para trabalhar a deglutição e a fonação e de uma fisioterapeuta para ajudar o pulmão a trabalhar melhor”, explica o médico.
Cuidados importantes à criança traqueostomizada
O especialista também lembra a importância de orientar pais, responsáveis e familiares sobre os cuidados a serem tomados com as crianças que passaram pelo procedimento. “Existe um risco alto de mortalidade envolvendo a traqueostomia em caso de obstrução da cânula, especialmente naquelas crianças que têm fechamento completo da via natural. E como médicos temos o papel de prover as famílias de informações e orientações. Uma criança que passou pelo procedimento não pode ser abandonada, o profissional de saúde precisa dar sequência ao atendimento, e os familiares não podem ir para casa sem entender todas as necessidades de seu filho”, reforça.
Com acompanhamento médico contínuo, meninos e meninas traqueostomizados podem ter qualidade de vida, bem-estar e segurança, garantindo outra questão levantada por Gavazzoni: o direito dessas crianças estarem inseridas socialmente, ou seja, ir à escola, brincar e divertir-se com os amigos. “Ela já tem uma série de limitações e restrições, não podemos excluí-la ainda mais. O que precisamos é garantir uma certa assistência nos espaços frequentados pela criança”, coloca o otorrino.
Evento para as famílias
Com objetivo de ampliar o conhecimento sobre os cuidados e os direitos de crianças traqueostomizadas, o Pequeno Príncipe promoveu um evento para pais, responsáveis e profissionais da saúde sobre o tema. O encontro, realizado no sábado, dia 25, organizado pelo Pequeno Príncipe, em parceria com a Academia Brasileira de Otorrinopediatria, possibilitou que os participantes tirassem dúvidas com os médicos e enfermeiros especialistas e pudessem aprimorar a percepção sobre esse tema.
“Muitas crianças realizam a traqueostomia, mas não têm acesso ao acompanhamento adequado e a informações sobre os cuidados diários, que são fundamentais para garantir qualidade de vida aos pacientes”, detalha Gavazzoni. O médico reforçou aos participantes que um paciente que necessita deste procedimento precisa dar continuidade ao tratamento, evitando riscos de infecções e asfixias.
“Eu achei um evento muito interessante, uma oportunidade pra aprender um pouco mais sobre os cuidados. Meu filho é traqueostomizado desde os quatro meses e ele faz todo acompanhamento aqui no Pequeno Príncipe”, conta Paloma Cristine dos Santos, mãe do paciente Bryan dos Santos Camargo.
Sobre a traqueostomia
A traqueostomia é um procedimento cirúrgico de baixa complexidade que dura cerca de 40 minutos e que, por meio de um pequeno orifício no pescoço (traqueia), o médico insere uma cânula (um tubo) para facilitar a chegada de ar até os pulmões em pacientes que apresentem uma obstrução na laringe. Relativamente comum na população pediátrica, inclusive na com menos de 1 ano, o procedimento é indicado nos casos de intubação prolongada para ventilação mecânica; pacientes com pneumonias de repetição; malformações; tumores na face e no pescoço; paralisia bilateral das cordas vocais; trauma no pescoço, entre outros.
O tempo necessário de traqueostomia depende de cada diagnóstico e também do cuidado com a manutenção dos materiais. É essencial realizar a troca da cânula regularmente, de acordo com a recomendação médica. Para evitar que o paciente fique traqueostomizado mais do que o necessário, é importante fazer o acompanhamento médico e tirar todas as dúvidas no momento das consultas.
Com os avanços das técnicas de suporte de vida e o tratamento de doenças crônicas, cada vez mais aumenta o número de pacientes portadores de condições que, temporariamente ou permanentemente, utilizam esse tipo de dispositivo. Levantamento com os 11 centros especializados no atendimento a esse público e que participaram da Campanha do Dia Nacional da Criança Traqueostomizada revela que, em 2021, 257 crianças de 0 a 3 anos realizaram o procedimento de traqueostomia. Em 2022, esse número subiu para 318.
Ambulatório de Traqueostomia
O Ambulatório de Traqueostomia do Hospital Pequeno Príncipe funciona uma vez por semana para acompanhamento de pacientes que já receberam alta hospitalar, mas continuam traqueostomizados. O atendimento e orientação às famílias são realizados por enfermeiros especializados. Esses profissionais também são responsáveis pelo encaminhamento à equipe multiprofissional que presta assistência na retaguarda e é composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e fonoaudiólogos. Atualmente, 82 crianças traqueostomizadas são atendidas pelo Hospital, 78% delas com idade entre 1 e 10 anos.
Confira, na playlist a seguir, tudo o que você precisa saber sobre traqueostomia:
O Pequeno Príncipe é signatário do Pacto Global desde 2019. A iniciativa presente nesse conteúdo contribui para o alcance do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS): Saúde e Bem-Estar (ODS 3).
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