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Quais são as consequências da distorção de imagem na adolescência?

O número de procedimentos estéticos entre adolescentes de 13 a 18 anos cresceu 141% nos últimos dez anos, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Entre os mais procurados estão prótese de silicone nos seios, redução de mamas, lipoaspiração, rinoplastia (correção do nariz) e otoplastia (correção das orelhas). Mas esse fenômeno não é só sobre vaidade — é um reflexo de algo mais profundo: a pressão estética e a distorção de imagem em tempos de redes sociais.
Espelho digital
A adolescência é um período de transição da infância para a vida adulta, com transformações físicas e psíquicas. Nesse sentido, a pessoa se despede do corpo e dos papéis infantis para explorar uma nova imagem corporal e compromisso social. Além disso, é o momento em que há, naturalmente, certo afastamento da família e busca pela própria identidade e espaços de pertencimento.
Para a psicóloga Luana Santi, do Hospital Pequeno Príncipe, hoje isso acontece sob holofotes digitais. “Portanto, é natural que nesse processo de transformação o adolescente sinta algum grau de estranheza com relação ao próprio corpo. Isso pode colocá-lo ainda mais suscetível às influências da mídia acerca dos padrões de beleza. Esse risco tem sido potencializado pela hiperconectividade”, reflete.
Os influenciadores digitais representam, para muitos jovens, a imagem do sucesso e da validação externa. Por isso, adolescentes acabam tomando esses criadores de conteúdo como referência para definir suas próprias atitudes — desde as escolhas pessoais e hábitos cotidianos até a forma de interagir e relacionar-se nas redes sociais.
“Então, quando, por exemplo, um influenciador muito jovem exibe seus procedimentos estéticos, está transmitindo uma mensagem. O adolescente pode sentir que precisa agir imediatamente para se ajustar a um ideal externo e o corpo passa a ser tratado como um projeto a ser consertado”, complementa Luana.

Quando o filtro vira prisão
Filtros e edições criam versões idealizadas — suavizam traços, afinam rostos, apagam marcas. Aos poucos, isso passa a ser o novo “eu” de referência. “Ao usar filtros, o adolescente começa a lidar com um rosto idealizado. Essa distância entre o filtro e o real pode gerar um sentimento de inadequação e a ideia de que a realidade é insuficiente”, explica a psicóloga.
Luana faz um paralelo com o mito de Narciso: “Preso à ilusão do reflexo, Narciso perde a possibilidade de viver e de se relacionar com o mundo real. Hoje, muitos adolescentes vivem algo semelhante com as redes sociais: contemplam uma versão editada de si, acreditando que apenas ela é digna de aceitação. Como Narciso, podem ficar aprisionados em uma relação estéril com a própria imagem, esquecendo-se da experiência viva de estar no corpo real, imperfeito e único.”
Sinais de alerta para distorção de imagem
Os pais e cuidadores podem identificar precocemente quando a autoestima do filho está sendo impactada pelas redes por meio de alguns sinais.
- Mudanças de humor (irritação, tristeza, autocrítica…) após o uso das redes.
- Comparações constantes e busca por validação em curtidas.
- Checagem compulsiva ou evitação total de espelhos e fotos.
- Recusa em aparecer sem filtro ou em fotos naturais/sem maquiagem.
- Isolamento social, queda no rendimento escolar e abandono de hobbies.
- Comentários autodepreciativos (“sou feio”, “tenho o nariz horrível”…).
- Gasto excessivo com cosméticos ou roupas da “tendência”.
- Condutas de risco, como dietas severas, overtraining, automedicação e busca precoce por procedimentos.
Como os pais e cuidadores podem ajudar?
A construção de uma imagem saudável é uma responsabilidade compartilhada entre família, escola e sociedade. Veja algumas dicas da psicóloga!
- Elogie conquistas, esforços e qualidades, não só a aparência. Desloque o foco do “como você parece” para o “quem você é” e “o que o corpo permite viver”.
- Valide os sentimentos do adolescente e amplie a conversa para qualidades internas, talentos e experiências, para relacionar-se com o corpo real.
- Estimule atividades que conectem ao corpo real (dança, esporte, teatro, arte…) para perceber o corpo como um instrumento de ação, prazer e vínculo.
- Mostre que rostos e corpos reais — com marcas, diferenças e singularidades — também carregam valor e beleza.
- Incentive o autoconhecimento para além de tendências de beleza. Afinal, os padrões de beleza são diferentes em cada cultura e se transformam com o tempo.
- Ao perceber os sinais de alerta que indicam sofrimento, busque apoio psicológico ou psiquiátrico.
Além disso, Luana pontua o papel da escola de formação cidadã, ainda mais por ser nesse ambiente que os adolescentes passam boa parte do tempo. “Quando a instituição promove a diversidade, combate o bullying e abre espaço para discussões sobre mídias sociais e padrões de beleza, ela contribui para que os adolescentes construam uma visão ampla e pensamento crítico”, expõe.
Atenção: quando o cuidado com a imagem vira sofrimento
Quando o adolescente passa a depender da aprovação externa para sustentar sua autoestima, instala-se um ciclo de insatisfação constante. Cada elogio se torna essencial para sentir-se bem, enquanto críticas ou a ausência de reconhecimento intensificam sentimentos de insegurança e inadequação.
Essa vigilância constante sobre o próprio corpo pode gerar novas queixas, num efeito de “descobrir outro defeito”, como se a aparência nunca fosse suficiente, de acordo com a psicóloga. “Além disso, ao buscar apenas soluções externas para lidar com essas insatisfações, o jovem perde a chance de compreender e elaborar as mudanças corporais e emocionais típicas da adolescência, o que fragiliza seu desenvolvimento psicológico”, diz.
A vulnerabilidade emocional e a insatisfação com o corpo podem levar adolescentes a desenvolver problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. Quando o sofrimento com a aparência é constante, essa distorção de imagem pode agravar-se e evoluir para transtornos mais sérios, como o transtorno dismórfico corporal (TDC) e a vigorexia, ambos marcados por uma percepção distorcida e obsessiva do corpo.
O Pequeno Príncipe é participante do Pacto Global desde 2019. E a iniciativa presente nesse conteúdo contribui para o alcance do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS): Saúde e Bem-Estar (ODS 3).