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Neuza Barbarini: uma vida dedicada ao cuidado

A técnica de enfermagem Neuza Barbarini atravessa os corredores do Hospital Pequeno Príncipe com a mesma leveza de quem caminha por sua própria casa. A profissional ingressou na UTI da Cardiologia em 1993 e, desde então, tornou-se parte indissociável da instituição. Sua trajetória se entrelaça com a evolução do Hospital, desde os tempos das seringas de vidro até a introdução dos equipamentos mais avançados. Com uma forma única de acolher pais e crianças em momentos de dor, Neuza não é apenas uma profissional da saúde: é uma presença afetiva, firme e serena. Seu jeito de conversar antes de tocar, sua voz reconhecida até pelos bebês e a tranquilidade no dia a dia a tornaram uma referência entre colegas, pacientes e familiares.
Como tudo começou
“Vim para Curitiba com 15 anos. Na época, caiu aquela neve que queimou todos os cafezais do meu pai. Muitos vieram para Curitiba e fizeram a vida aqui. Já estou há mais de 50 anos nesta cidade. Em um domingo, estava em casa lendo o jornal — naquela época, a gente comprava todo domingo — e vi um anúncio procurando atendente. No outro dia, vim até o Hospital Pequeno Príncipe. Cheguei, e tinha uma fila enorme, achei até que era para vaga de emprego, mas era a fila dos pais que vinham visitar os filhos. Então, fiz a entrevista e no dia seguinte comecei a atuar na UTI da Cardiologia — e ali fiquei.”
Cardiologia: seu lugar no mundo
“Comecei como atendente, depois me tornei auxiliar e concluí o curso técnico. Embora não tenha formação em enfermagem, adquiri um vasto conhecimento na área técnica. No meu trabalho, sei que há limitações, mas consigo lidar com elas sem dificuldade. Para mim, isso é extraordinário. Na cardiologia, especificamente, é onde me sinto em casa desde 1993, quando entrei nesse campo no dia 23 de novembro. Conheço tudo aqui e é onde verdadeiramente pertenço. Sempre afirmo: ‘Se precisarem me dispensar, tudo bem. Mas não me mudem de setor. Ou fico aqui ou prefiro ir para casa.’”
O vínculo com as crianças
“Não consigo tocar numa criança sem antes conversar com ela. É o meu jeito. As meninas até falam: ‘Meu Deus, dona Neuza, você fica se apresentando para as crianças.’ Mas é isso mesmo. Converso, explico o que vou fazer, digo que tudo é para o bem dela. Até os bebês pequenos reconhecem minha voz. Teve uma vez que a mãe de uma criança começou a chorar enquanto eu conversava com a filha dela — achei que tinha feito algo errado. Ela disse: ‘Não, é que nunca vi ninguém fazer isso. Por isso, ela deixou você aspirar.’ Depois, ela me escreveu uma carta contando tudo que eu falei, igualzinho. Então, sinto que tenho dom para cuidar das crianças.”
Pais dentro da UTI: um avanço importante
“Antes, os pais não podiam ficar com as crianças. Era muito difícil. A gente via criança chorando sozinha. Hoje é diferente, e isso ajuda muito na recuperação. Tem pai que se cansa, vai descansar, mas se a criança começa a chorar a gente chama. Porque se choram muito, descompensam. Eu digo: ‘Sinto muito, mas teu filho te quer aqui.’ E eles vêm. É lindo ver como a presença deles ajuda.”
Momentos difíceis que marcam para sempre
“Teve um dia muito difícil. A criança faleceu, e o pai estava fora de si. Então, fui conversar com o pai, mesmo assustada. Cheguei, abracei os dois e disse: ‘Pai, mãe, já aconteceu o pior. Agora vamos deixar ela em paz. Vamos fazer uma oração.’ Rezamos uma ave-maria, e eles se acalmaram. É nessas horas que a família precisa de um carinho, um apoio. E eu tenho isso para dar. Sei que eles gostam de mim — e eu gosto de todo mundo também. Sempre digo para as meninas: ‘A gente dança mais que bailarina.’ Tem que saber falar, sem falar o que não pode. Quem explica o diagnóstico é o médico. A gente pode explicar as medicações, conferir com os pais, orientar e acolher.”
A evolução da enfermagem na prática
“Quando eu entrei aqui era seringa de vidro, fervia agulha no álcool. Hoje é tudo descartável, tudo eletrônico. Os monitores pareciam televisão antiga, eram bem grandões. Hoje você aperta um botão e programa tudo. Até os respiradores a gente monta — e eu adoro ensinar as meninas, porque tem muita gente que tem medo. A estrutura mudou muito, mas a gente participou de tudo. Os suportes de bomba, onde colocar os monitores… tudo teve ideia da enfermagem. Cada cantinho tem nossa mão.”
“Eu me sinto em casa aqui. […] Se um dia sair, passo por aqui e digo: ‘Trabalhei tantos anos nesse Hospital.” E vou embora com o coração cheio.”
O Pequeno Príncipe é um lar
“Eu me sinto em casa aqui. Às vezes sento lá fora, na hora da janta, fico olhando o Hospital. Uma menina me perguntou: ‘Tá olhando o quê?’ Eu disse: ‘Nada… só olhando.’ Já são 32 anos. Se um dia sair, passo por aqui e digo: ‘Trabalhei tantos anos nesse Hospital.’ E vou embora com o coração cheio.”
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