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Luiz Renato Valério: de um sonho de infância ao compromisso de uma vida

Desde criança, Luiz Renato Valério sabia que a medicina seria seu caminho. Inspirado pelo pediatra que o acompanhou na infância, ele cresceu com o desejo de fazer a diferença na vida das pessoas – e encontrou na pediatria sua verdadeira vocação. Sua jornada é marcada por dedicação, aprendizado contínuo e olhar humano que vai além da técnica. Da rotina intensa na UTI Neonatal aos desafios da Emergência, cada atendimento reforça o que sempre o motivou: cuidar com afeto e transformar realidades. Para ele, os avanços tecnológicos são importantes, mas a essência da medicina está na conexão genuína com as crianças e suas famílias. E é assim, com alma e coração, que escreve sua história no Hospital Pequeno Príncipe desde 1985.
Inspiração da pediatria
“Nasci em Curitiba e amo essa cidade profundamente. Me sinto incrivelmente abençoado por ter encontrado aqui o lugar onde trabalho há tantos anos, e a cada dia minha paixão só aumenta. Desde criança, sempre tive o sonho de ser médico. Na minha família, não havia nenhum médico, nem do lado do meu pai, nem do lado da minha mãe. Foi o pediatra que me atendeu na infância quem despertou em mim essa admiração. Ele tinha uma maneira única de conversar comigo sobre tratamentos, e eu o admirava profundamente. Ele até fazia visitas em casa para cuidar de mim, resolvendo minhas questões de saúde. Ele foi, sem dúvida, minha maior inspiração.”
Impacto da medicina
“Quando eu era pequeno, vivi uma experiência marcante. Meu irmão, que tinha uns 12 anos, adorava brincar comigo. Um dia, ele fazia um truque com uma moeda: jogava para cima, fingia que desaparecia e depois fazia surgir de novo na mão, escondendo-a dentro da manga. Eu, com 7 anos, achava aquilo incrível. Quando ele saiu para tomar água, resolvi tentar sozinho. Mas, ao jogar a moeda para cima, acabei engolindo. Fui levado ao hospital, onde fizeram uma endoscopia para retirar a moeda. Naquela época, o procedimento era feito com um aparelho rígido, e mesmo sob anestesia, no dia seguinte, eu mal conseguia mexer a boca. Mas aquela intervenção me salvou. Essa experiência reforçou algo que sempre me encantou na medicina: a capacidade de devolver a saúde e a tranquilidade para as pessoas. O alívio de uma família ao ver um ente querido fora de perigo é algo indescritível. Seja um pai, um bebê ou um irmão, saber que alguém pode voltar a viver plenamente graças a um cuidado médico é algo que sempre me motivou.”
Jornada pessoal
“Fiz faculdade na PUCPR e, desde o início, nunca tive dúvidas sobre o caminho que queria seguir: sempre fui direcionado à pediatria. Entrei na faculdade com 18 anos e me formei aos 24. No quinto e sexto anos, tive aulas no Hospital Pequeno Príncipe com o médico Plínio de Mattos Pessoa. Foi nessa época que comecei a frequentar a instituição com mais frequência, conhecendo médicos residentes como Wilmar Guimarães e Flora Mitie Watanabe. Sem compromisso fixo, ia ao Hospital duas ou três vezes por semana, criando laços e aprendendo cada vez mais. Em 1976, no último ano da faculdade, prestei concurso para residência e, com muito orgulho, passei em primeiro lugar. Fiz dois anos de residência e, depois, passei três anos morando em Caçador, Santa Catarina. No entanto, sentia falta de Curitiba e do Pequeno Príncipe. Quando voltei, tive ainda mais certeza do quanto esse Hospital é especial. Hoje, é o maior pediátrico do Brasil e está entre os 150 melhores do mundo. Às vezes, só percebemos isso quando conhecemos realidades diferentes.”
Olhar especial aos bebês
“Em 1985, quando voltei de Caçador, comecei a fazer plantões na Emergência, que era bem menor do que hoje. Poucos anos depois, fui indicado pelo médico Ivan Beira Fontoura para integrar a equipe da UTI Neonatal, que estava prestes a ser inaugurada. Em 1989, tive a honra de fazer parte desse projeto desde o primeiro dia, ao lado de um grupo de 12 médicos. Trabalhei ali por 27 anos. A experiência foi maravilhosa, apesar dos desafios. No início, era extremamente estressante, mas com o tempo desenvolvi habilidades que tornaram o trabalho mais fluido. A parceria com a cirurgia pediátrica se fortaleceu e evoluímos juntos. No passado, algumas doenças tinham um prognóstico difícil, mas com os avanços técnicos e o aprimoramento do pós-operatório os resultados melhoraram muito. Olhar para essa trajetória me enche de orgulho. Saber que fiz parte desse processo e contribuí para tantas histórias de superação é uma das maiores recompensas da minha vida profissional.”
Trajetória especial
“No entanto, com o passar do tempo, é preciso ter bom senso para reconhecer que novas gerações chegam com inovação e energia renovada. Esse ciclo é essencial para o crescimento da medicina. Foi nesse contexto que fiz a transição para a Emergência e Ambulatório de Especialidades. Assim, há cerca de 12 anos, passei a atuar nesses setores. Hoje, trabalho menos horas, mas sempre com intensidade e dedicação. Procuro oferecer o melhor atendimento aos pacientes e acredito que eles sentem esse cuidado. Minha principal atuação é na neonatologia, atendendo bebês nos primeiros meses de vida, mas também recebo pacientes de outras faixas etárias. Hoje, recebemos pacientes de diversas partes do Brasil, como Belém, Manaus, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. O reconhecimento que o Hospital conquistou ao longo dos anos faz com que muitas famílias venham em busca de um verdadeiro milagre.”
“Acredito que ser médico vai muito além de um simples ofício, é um instinto. […] A medicina, especialmente a pediatria, tem algo único. Muitos pediatras carregam um coração quase infantil, porque enxergamos nos pequenos pacientes algo especial.”
Propósito
“Acredito que ser médico vai muito além de um simples ofício, é um instinto. Para quem imagina que essa profissão é cheia de glamour, há sim momentos assim, mas a realidade é bem diferente. Trabalhei por 27 anos na UTI Neonatal do Hospital, e estar de plantão durante a madrugada, exausto após um dia inteiro de trabalho, com 16 vidas sob minha responsabilidade, não é algo prazeroso – é uma grande responsabilidade. Fazemos isso com amor, mesmo quando o corpo pede descanso, porque sabemos que não é hora de parar. A medicina, especialmente a pediatria, tem algo único. Muitos pediatras carregam um coração quase infantil, porque enxergamos nos pequenos pacientes algo especial. Ver um bebê que chegou durante a madrugada em estado grave, precisando de suporte respiratório, e depois sair do plantão vendo-o estável e confortável não tem preço.”
Evolução
“Se eu comparar o presente com o tempo em que era um adulto jovem, parece que vivi em dois mundos completamente diferentes. O conhecimento e a evolução médica nos últimos 30 ou 40 anos avançaram tanto que parecem ter acelerado séculos de progresso em poucas décadas. A tecnologia revolucionou os exames e o aperfeiçoamento das imagens diagnósticas. No Hospital Pequeno Príncipe, essa evolução é evidente para quem observa com atenção. O crescimento não foi apenas em tamanho, mas também em qualidade de atendimento, inovação e humanização. O cuidado vai além da tecnologia. O ambiente do Hospital é pensado para que as crianças não se sintam em um lugar frio e tenso. Basta olhar ao redor: bichinhos pintados nas paredes, passarinhos no teto, cores suaves. Até a UTI, que poderia ser um espaço pesado, há anos conta com pinturas e elementos que tornam tudo mais leve e acolhedor. Além disso, o carinho da equipe e a excelência da enfermagem fazem toda a diferença. A evolução é contínua, e tenho certeza de que, daqui a 15 ou 20 anos, olharemos para 2025 e diremos: ‘Nossa, como as coisas melhoraram desde então!’.”
Momentos inesquecíveis
“Entre tantas histórias, uma das que mais me emocionaram foi a de um bebê que chegou transferido de outra maternidade. Ele tinha um catéter central por onde recebia nutrição parenteral, mas, infelizmente, o catéter rompeu internamente e extravasou o líquido para o abdômen. Quando peguei o plantão, a médica me alertou sobre a gravidade do caso. Ao examinar o bebê, percebi que o abdômen estava muito rígido. Liguei imediatamente para o cirurgião Sylvio Ávilla e insisti para que ele subisse o mais rápido possível. Ele veio, confirmou minha suspeita e levou o bebê para a cirurgia. Antes de descer para o centro cirúrgico, o pai pediu um minuto com o filho. Ajoelhou-se ao lado da incubadora, rezou e chorou. Foi um momento de muita emoção. Felizmente, a cirurgia foi um sucesso. O bebê se recuperou bem e, uma semana depois, já estava de alta. Um ano depois, a mãe me convidou para a festa de aniversário do menino. Quando cheguei, o pai me reconheceu de longe. Ele olhou, olhou de novo e perguntou para a esposa se era quem ele estava pensando. Quando ela confirmou, ele desceu correndo a rampa e me deu um abraço tão forte e cheio de gratidão que até hoje me emociono ao lembrar. Esse é um dos momentos mais marcantes da minha carreira. Até hoje, a família me manda mensagens, e o menino já tem cerca de 12 anos. O cirurgião me disse: ‘Foi você que salvou esse bebê.’ Mas, no fundo, eu apenas fiz o que precisava ser feito. E é isso que nos move todos os dias: saber que, com insistência e dedicação, podemos realmente fazer a diferença na vida de alguém.”
Amor pela pediatria
“Acredito que o que mais gosto na minha profissão é ver os resultados. Ver aquela criança que estava sofrendo, com dor, em uma situação de risco de vida, e de repente, com o antibiótico certo, se recuperar. Ver uma criança que estava com pneumonia correndo pelos corredores não tem preço. Acho que o amor pela pediatria se resume a isso: querer ser útil, fazer a diferença na vida dos pequenos. As crianças criam um carinho pela gente que, às vezes, até assusta. Algumas têm medo, claro, por causa das vacinas e procedimentos, mas muitas nos veem com muito afeto. Lembro de uma menininha que gostava muito de mim porque uma vez sonhou que eu estava andando na praia em um cavalo branco. Eu brinquei: ‘Nossa, parece que você sonhou que eu sou um príncipe!’ E ela apenas balançou a cabeça, concordando. Durante a pandemia, quando o movimento na Emergência estava mais baixo, a mãe dela me ligou perguntando se eu ainda estava atendendo. Quando vieram, eu estava de avental, máscara e gorro. Cumprimentei a menina de soquinho, passamos álcool na mão e seguimos com a consulta. Na saída, depois de explicar tudo para a mãe, ela se aproximou e, com uns 4 aninhos, me disse: ‘Sabe, senti muito a tua falta.’ Aquilo me pegou de jeito. Momentos assim são impagáveis.”
Sherlock Holmes na pediatria
“Quando eu ainda era estudante, atendi alguns casos e percebi que, para quem não tem um olhar atento, pode ser mais fácil atender adultos do que crianças. O adulto, muitas vezes, já chega com uma ideia do que tem. Por exemplo, alguém me procura sabendo que sou pediatra e comenta: ‘Puxa, essa sinusite está me incomodando muito.’ A medicação é clara, o diagnóstico já vem quase pronto. Ou então, alguém diz: ‘Quando tomo leite, preciso correr para o banheiro.’ Isso já sugere uma intolerância à lactose ou alergia à proteína do leite. Com bebês, a história é completamente diferente. Eles não dizem o que sentem, apenas choram. E quem conta a história deles é outra pessoa, geralmente os pais ou avós, que interpretam o que acham que o bebê está sentindo. Um bebê pode chorar por fome, por dor, por medo, porque alguém o pegou de um jeito que machucou o cotovelo, ou por um desconforto qualquer. Por isso, dizem que todo pediatra precisa ser um detetive. Na pediatria, somos um pouco Sherlock Holmes, buscando pistas e informações de alguém que não pode se expressar claramente. Além disso, precisamos filtrar o que ouvimos, já que muitas vezes há crenças e interpretações equivocadas. O raciocínio clínico tem que ser ágil, atento a todos os detalhes.”
Coxa-branca e gente boa
“Sou coxa-branca, mas estou triste porque o Coritiba não anda nada bem. Me considero uma pessoa gente boa. Sou casado há bastante tempo e tenho dois filhos, ambos médicos. Nenhum deles seguiu a pediatria. Um é ortopedista, especializado em ombro e cotovelo, e mora em Jaraguá do Sul. Ele tem dois filhos, meus netos, e sua esposa é oftalmologista. Meu outro filho mora em Itajaí, trabalha com medicina da família, e sua esposa atua em uma área menos comum: ela é médica legista. Tenho muitos amigos e, como dá para perceber, falo bastante. Falam que falo bem, mas não sei, só sei que gosto de conversar e estou sempre disposto a ajudar. Não sou santo, ninguém é, e estou longe de ser canonizado, mas me esforço para ser uma boa pessoa.”
Extensão de casa
“O Hospital é uma extensão da minha casa. E tenho muito orgulho de trabalhar aqui. Venho com o objetivo de ser cada dia melhor, e isso me dá prazer. Acho que o Pequeno Príncipe complementa minha vida de uma forma única. Quando eu parar de trabalhar, vou sentir muita falta – e sei que esse momento está se aproximando. Realmente não me vejo trabalhando em outro lugar, pois sinto que posso exercer minha profissão de forma plena. Isso me fez ser uma pessoa melhor, e tenho muito orgulho de fazer parte dessa equipe.”