Eurípides Ferreira: o hematologista que realizou o primeiro TMO do Brasil

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Eurípides Ferreira: o hematologista que realizou o primeiro TMO do Brasil

"Ninguém faz nada sozinho e a estrutura que temos é o que permite que o trabalho seja realizado e que o cuidado com as crianças aconteça.”
10/12/2020
Eurípides Ferreira
Eurípides Ferreira foi responsável pela implantação dos serviços de Oncologia, Hematologia e Transplante de Medula Óssea no Hospital.

Com uma trajetória de vida de muita dedicação e atuações decisivas, Eurípides Ferreira marcou a história da medicina brasileira e do Pequeno Príncipe para sempre. O hematologista, que realizou o primeiro transplante de medula óssea do Brasil, foi responsável pela implantação dos serviços de Oncologia, Hematologia e Transplante de Medula Óssea no maior hospital pediátrico do país, além de contribuir para transformar a instituição em um centro de referência no tratamento do câncer infantojuvenil. Com seu andar calmo, falas serenas e brincadeiras, Eurípides já salvou a vida de milhares de crianças e mudou a história de tantas outras famílias.

O caminho até a medicina

“Na minha família éramos em 13 filhos legítimos e 10 adotados. Desde que me entendo por gente eu trabalho e já atuei em várias profissões. Aos 8 anos eu entregava jornal no sinal, mas também fui de engraxar sapatos até vender fios elétricos e lâmpadas. Eu trabalhava durante o dia no comércio e estudava à noite. Eu sabia que seria médico desde que nasci. Meu primeiro vestibular para Medicina foi em 1959, mas eu não consegui a vaga na faculdade. Em 1960 eu tentei de novo e obtive êxito. Então comecei a estudar e me formei pela Universidade Federal do Paraná.”

O encontro com o Hospital Pequeno Príncipe

“Eu comecei a trabalhar no César Pernetta como acadêmico, em 1965, eu era monitor da disciplina de Hematologia. Então, eu vinha aqui quando tinha alguma criança com doença hematológica ou com leucemia, por exemplo. Juntava todos os dados dos pacientes e levava para o meu professor, que dava as diretrizes para o tratamento. Em 1966, quando eu já era médico, comecei a atuar mesmo aqui. Naquela época, todas as crianças que eu recebia morriam, porque os medicamentos não eram capazes de controlar as doenças. No começo, as crianças ficavam todas juntas nas enfermarias. Onde hoje é o Marketing do Hospital, foi a primeira enfermaria que trabalhei. Depois, passei para outra enfermaria, onde hoje fica a sala do Programa Família Participante, e ali cuidávamos das crianças com diferentes tumores e problemas hematológicos.”

Um fato decisivo para se dedicar às crianças

“Em 1966, quando eu já atendia no Pequeno Príncipe, houve um acontecimento que marcou profundamente a minha vida. Um menino chamado Henrique tinha leucemia e naquela época não tinha medicamentos com eficácia para o controle e cura dessa doença. Eu me recordo que ele, com o retorno de sua leucemia e com um quadro de infecção muito grave, sem os antibióticos e antifúngicos que existem hoje, ao entrar em seu quarto e perguntar ‘tudo bem, Henrique?’, ele respondeu ‘tudo bem, tio, mas, me faz um favor? Me deixa falecer em casa?’. Ele tinha seis anos de idade e aquilo me marcou profundamente. Nesse mesmo dia eu prometi a mim mesmo que iria lutar com todos os conhecimentos possíveis para ajudar crianças.”

A implantação dos serviços de Oncologia, Hematologia e TMO no Pequeno Príncipe

“Em 1968 tivemos nossa primeira enfermaria própria, conseguimos ter um espaço físico para um serviço que já vinha sendo realizado desde 1962, o de onco-hematologia. Com muito esforço e dedicação, também conseguimos criar uma unidade de Transplante de Medula Óssea. Ela foi inaugurada em 2011 com 3 leitos e posteriormente conseguimos ampliar a unidade para 10 leitos. Hoje, com todos os avanços da medicina, curamos 80% das crianças com câncer. Eu sempre sonhei em ser útil nessa vida, porque dentro de toda minha formação, eu creio que temos nesse mundo uma passagem e que temos de oferecer o nosso melhor. Nunca estou satisfeito, quero sempre mais, mas creio que eu tenha contribuído um pouco para minha cidade e para meu país.”

Primeiro transplante de medula óssea no Brasil

“Entre 1969 e 1970, eu fui para a Itália fazer um curso de especialização em doenças do sangue e fiz um estágio no Instituto de Genética Médica em Turim. Ali a minha vida mudou completamente. Eu entrei em contato pela primeira vez com a identificação dos antígenos de histocompatibilidade, que são utilizados para a seleção do doador e receptor de transplantes, particularmente o de medula óssea. Quando retornei ao Brasil, continuei seguindo o que queria: aprofundar mais e mais meus conhecimentos dentro da histocompatibilidade. Havia um concurso público, promovido pela Associação Médica Brasileira, e eu participei com uma bolsa patrocinada por um laboratório. De todos os concorrentes do Brasil, eu ganhei essa bolsa e pude desenvolver muito mais meus conhecimentos. Em 1978 eu estava agoniado com os pacientes que possuíam uma doença hematológica chamada anemia aplástica, porque todos evoluíam a óbito. No Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, tínhamos todos os requisitos necessários para iniciar um serviço de transplante de medula óssea. Então, em 15 de outubro de 1979, realizamos o procedimento, que foi o primeiro no Brasil.”

“Ninguém faz nada sozinho e a estrutura que temos é o que permite que o trabalho seja realizado e que o cuidado com as crianças aconteça.”

Sonhos que fazem acontecer

“A minha ligação com a Dona Ety vem da data em que entrei e comecei a atuar no Hospital. A Ety Cristina ainda era uma menininha que corria pela praça do Bibinha. Dona Ety é uma sonhadora que faz acontecer. Assumimos o compromisso de realizar e com carinho e cuidado tratamos nossos pacientes. Eu sempre digo aos médicos mais novos que estão chegando: estudem, sejam ótimos, mas, acima de tudo, sejam humildes e faça tudo com amor. As crianças sentem isso ainda mais. Quando chamei a Dra. Flora Watanabe para fazer oncologia, ela negou, porque não queria assinar atestados de óbitos e hoje é chefe do Setor de Oncologia do Pequeno Príncipe onde 80% dos pacientes são curados. A instituição, que antes era um hospital de atendimentos primários e secundários, hoje conta com UTI Neonatal e Cardiologia, entre tantos outros serviços. É um oásis dentro de um cenário de tantas dificuldades enfrentadas na saúde. Ninguém faz nada sozinho e a estrutura que temos é o que permite que o trabalho seja realizado e que o cuidado com as crianças aconteça.”

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Evento em homenagem ao Dr. Eur’pedes Ferreira, no Hospital Israelita Albert Einstein

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