Suspensão de medicamento por fabricante pode comprometer até 70% dos transplantes de medula óssea realizados no Pequeno Príncipe
Um dos centros mais ativos na realização de transplante de medula óssea (TMO) pediátrico do país, o Pequeno Príncipe, com sede em Curitiba (PR), alerta sobre o impacto que o desabastecimento do medicamento bussulfano, que deixará de ser distribuído em junho deste ano no Brasil, também vai causar a pacientes de doenças raras. Responsável por 61 dos 534 procedimentos pediátricos realizados em 2019 no país, o Hospital prevê que 70% de seus transplantes deixariam de ser feitos devido à falta do remédio.
A suspensão na distribuição do bussulfano foi anunciada em novembro de 2020, pelo laboratório francês Pierre Fabre, único distribuidor do medicamento no país. Muito associado ao tratamento oncológico, o TMO é também a única esperança de vida para pessoas com diversas doenças raras.
Referência nacional em doenças raras, o Pequeno Príncipe contabiliza 40% de seus procedimentos para o tratamento de imunodeficiência e erros inatos do metabolismo como a imunodeficiência combinada grave, também conhecida como doença da bolha. Nesse caso, em que ocorre uma alteração no sistema imunológico do paciente, o transplante de medula óssea é a única opção para que a criança tenha uma chance de viver. A estimativa é que, sem o transplante de medula, 98% dos bebês diagnosticados com essa síndrome possam morrer antes dos 2 anos de idade.
O TMO trata doenças malignas e não malignas, como as leucemias, linfomas, mieloma múltiplo, neuroblastoma, imunodeficiências, falências medulares, entre outras. Em 2019, o Pequeno Príncipe foi o principal transplantador pediátrico do Paraná. Com 93 procedimentos, o estado foi o que mais realizou TMO por milhão de habitantes. O Hospital foi responsável por 65,5% desses transplantes. Atualmente, 52 crianças e adolescentes esperam por um transplante de medula óssea no Pequeno Príncipe. “Utilizamos o medicamento em cerca de 70% dos transplantes de medula óssea feitos no Hospital. Mas essa não é uma realidade somente da nossa instituição. Se não resolvermos esta situação, todo o transplante de medula óssea realizado no país estará comprometido, e muitos pacientes brasileiros não poderão mais receber este tratamento. Atualmente não existe outro medicamento que substitua o bussulfano”, considera a chefe do Serviço de TMO do Pequeno Príncipe, Carmem Maria Sales Bonfim.
Ciente da urgência de solução que a situação exige, o Pequeno Príncipe se une às vozes de organizações, profissionais de saúde e pacientes que estão mobilizando-se em todo o território nacional. Diante da informação de que o Instituto Nacional do Câncer (Inca) conta com estoque que pode durar somente três meses, a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia, a Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO) e a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope) também manifestaram preocupação como a inviabilidade de realizar qualquer transplante de medula óssea no país, seja adulto ou pediátrico, caso não haja nenhuma medida para impedir a interrupção do acesso ao bussulfano ou alguma alternativa seja encontrada brevemente.
TMO no Pequeno Príncipe
O Serviço de Transplante de Medula Óssea do Pequeno Príncipe foi inaugurado em 2011 e passou a ser ofertado dentro do Serviço de Oncologia, que já funcionava desde 1968. Em dezembro de 2016, o número de leitos de TMO foi ampliado e mais que triplicou – de três para dez –, referenciando o Hospital como um dos maiores centros pediátricos do país para a realização do procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Desde sua implantação foram realizados 225 transplantes. Em 2020, mesmo durante a pandemia, 52 procedimentos foram contabilizados.