Sharenting: os riscos da superexposição de crianças nas redes sociais

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Sharenting: os riscos da superexposição de crianças nas redes sociais

Hospital Pequeno Príncipe alerta sobre os impactos negativos dessa prática no desenvolvimento infantil e na segurança de meninos e meninas
13/07/2025
Sharenting, adultização, superexposição, redes sociais
Como a prática do sharenting afeta os direitos das crianças? (Foto: Complexo Pequeno Príncipe/Camila Hampf)

Com as redes sociais fazendo parte do cotidiano de milhares de famílias, o hábito de compartilhar imagens, vídeos e momentos da vida dos filhos se tornou algo comum. Essa prática, conhecida como sharenting (termo em inglês que une “share”compartilhar — e “parenting”parentalidade), levanta questões sérias sobre privacidade, segurança e bem-estar de crianças e adolescentes. Nesse sentido, vale a reflexão: até que ponto a sociedade está protegendo ou expondo meninos e meninas a riscos?

O sharenting e o ECA

É natural os pais sentirem orgulho dos filhos e quererem registrar momentos especiais. Entretanto, a assessora da diretoria e psicóloga Thelma Alves de Oliveira relembra que antigamente era comum essa admiração ser expressa por meio de álbuns fotográficos, restritos ao círculo familiar. Hoje, as redes sociais transformaram esse ato em algo público e irrestrito, muitas vezes sem a reflexão crítica sobre as consequências. Assim, as imagens passam a ser acessíveis a desconhecidos, sem significado e fora do contexto familiar.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é claro: toda criança tem direito à proteção da sua imagem, identidade e privacidade. Além disso, a lei estabelece que a criança é um sujeito em fase peculiar de desenvolvimento. Ou seja, ela ainda está em formação e não possui maturidade cognitiva ou emocional para consentir com a exposição. Por isso, precisa ser protegida de forma integral pela família, pelo Estado e pela sociedade.

Os riscos do sharenting

Segundo um relatório divulgado pela Children’s Commissioner, em média, uma criança tem 1.300 fotos publicadas nas redes antes de completar 13 anos. Entre os riscos da superexposição estão:

  • perda de privacidade e controle sobre o que é postado, já que conteúdos podem ser salvos, editados, compartilhados e até manipulados;
  • uso indevido dessas imagens por pedófilos e exploradores sexuais, que utilizam fotos inocentes para reproduzi-las em redes criminosas;
  • revelação de detalhes privados do cotidiano, aumentando a ação de criminosos, como risco de sequestro ou perseguição;
  • bullying e cyberbullying, afinal o que parece engraçado hoje pode tornar-se um gatilho de humilhação e comentários odiosos.

Diante desse cenário, Thelma reforça que ainda falta uma regulação mais efetiva das plataformas. “As políticas públicas brasileiras têm respaldo no ECA, mas a fiscalização é limitada. Por isso, a mudança real depende da consciência coletiva. Mesmo que a intenção dos pais e cuidadores seja boa, cabe aos amigos e familiares conversar e alertar para os riscos, bem como reconhecer que até as postagens consideradas ‘fofas’ podem comprometer a segurança e bem-estar da criança”, orienta.

Como a superexposição afeta o desenvolvimento infantil?

Apesar de ser um tema relativamente novo, Thelma salienta que o sharenting é capaz de afetar o desenvolvimento emocional e psicológico e até desencadear transtornos como ansiedade, depressão e distorção de imagem. A criança pode desenvolver uma autoestima fragilizada, bem como insegurança, pela quebra de confiança daqueles que deveriam protegê-la. Além disso, pode adotar uma percepção distorcida de si mesma, por achar que precisa ser perfeita na visão dos outros. “A construção de um ‘sujeito perfeito por fora e vazio por dentro’ é um risco real quando a criança não pode errar, experimentar ou simplesmente ser criança, interferindo na formação natural da personalidade”, alerta Thelma.

Dicas práticas para preservar a imagem infantil

Mais do que registrar momentos, é fundamental que os pais e cuidadores estejam emocionalmente presentes e reconheçam o valor dos filhos no cotidiano. “Às vezes, o pai ou a mãe põe a foto na internet, mas não diz para a criança: ‘Nossa, você está linda hoje.’  Então, não podemos perder aquilo que é essencial: a presença e a relação afetiva e significativa”, relembra Thelma.

Antes de optar por compartilhar imagens dos seus filhos, considere adotar medidas de segurança digital. Veja!

  • Reflita: quando a criança olhar a publicação no futuro, vai gostar de ver? Essa imagem pode afetar a sua autoestima? Estou expondo a sua intimidade ou informações privadas?
  • Prefira compartilhar apenas com quem interessa — e que tenha alguma relação com a criança. Esse grupo restrito tende a proteger mais a criança.
  • Nunca divulgue nome completo, data de nascimento, localização ou momentos da rotina.
  • Não poste fotos de crianças não totalmente vestidas e em situações constrangedoras.
  • Sempre peça consentimento a crianças que já demonstram condições de opinar e decidir, antes de publicar.

E os influenciadores mirins: qual é o limite?

Atualmente, a legislação brasileira não acompanha com clareza a atuação de crianças como influenciadoras digitais. Em outros meios, como na TV, o trabalho infantil artístico é regulamentado com autorizações judiciais, limites de carga horária e garantias de que os ganhos sejam protegidos. No ambiente digital, essa proteção ainda é falha — por isso, o debate é tão urgente.

Thelma realça que o problema não está necessariamente no trabalho remunerado, mas na ausência de limites e de estrutura adequada: “Nem toda atividade desenvolvida pela criança é exploração, desde que haja limites e proteção. A criança precisa ter espaço para brincar, descansar, se expressar de forma espontânea. O problema é quando ela vira um personagem, perde a identidade ou a liberdade de ser ela mesma e começa a viver para alimentar uma audiência ou o desejo dos pais.”

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