“Mulheres na Ciência” é tema de mais um encontro do projeto Pequeno Príncipe Conhecimento
No mês em que é lembrado o Dia Internacional da Mulher, o Hospital Pequeno Príncipe, em conjunto com o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, promoveu, na última sexta-feira, dia 19, uma importante palestra que apresentou um cenário sobre as mulheres no campo da ciência. O evento on-line, que faz parte do projeto Pequeno Príncipe Conhecimento, foi conduzido pela pesquisadora Vanessa Bryant, líder de grupo de pesquisa no Instituto de Pesquisa Médica Walter & Eliza Hall, em Melbourne, na Austrália.
Além de se dedicar às atividades no laboratório e aos estudantes que recebe no local, Vanessa atuou como conselheira da iniciativa feminina da Sociedade de Imunologia da Austrália e da Nova Zelândia, onde elaborou a primeira política de igualdade de gênero, com incentivos para mulheres cientistas com filhos. “Um dos mitos nessa área é de que as mulheres pesquisadoras que têm bebês vão sair do trabalho por causa disso”, afirmou ela, que é mãe de um menino de 9 anos e de uma menina de 7 anos.
A pesquisadora também destacou os desafios enfrentados pelas mulheres que se dedicam à ciência. “Elas têm acesso mais limitado a financiamento do que os homens, os papers das mulheres levam mais tempo para serem aprovados, e as publicações de pesquisadoras não recebem tantas citações quanto as dos pesquisadores homens, por exemplo”, disse. “A disparidade de gênero também é maior para mulheres negras, bem como a disparidade de gênero aumentou durante a pandemia global”, acrescentou.
Para Vanessa, alguns caminhos para diminuir essa desigualdade estão relacionados à infraestrutura e a iniciativas, como trabalhar pela igualdade de gênero em painéis de subsídios e na concessão de bolsas de estudo, expandir métricas de sucesso, clamar por mudanças de cultura e desenvolver políticas em benefício das mulheres pesquisadoras. “Precisamos ser voz em conferências e congressos científicos e também na mídia, para falarmos sobre assuntos relacionados à ciência. É necessário ampliarmos a nossa voz e as vozes de outras mulheres. Precisamos ser ouvidas”, observou.
A pesquisadora também defendeu que mais mulheres precisam ocupar posições de liderança. “É necessário promover treinamentos de liderança e sustentar a liderança feminina, pois temos um déficit de mulheres nessas posições”, pontuou. Vanessa explicou que já estão sendo vistos resultados desse trabalho, como mulheres ocupando mais cargos de liderança e um número maior delas apresentando palestras e trabalhos científicos em conferências, por exemplo, mas ponderou que esse é um trabalho que está em progresso. “Ainda temos um longo caminho a percorrer para atingir a equidade. Se trabalharmos juntas, conseguiremos coisas maravilhosas”, concluiu.
As mulheres no Pequeno Príncipe
A médica imunologista e diretora de medicina translacional do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, Carolina Prando, destacou a importância do debate sobre as mulheres na ciência. “Precisamos trazer visibilidade ao trabalho das mulheres, não somente no que se refere ao levantamento de fundos para o desenvolvimento de pesquisas, mas também ações para melhorar a autoconfiança feminina, lembrando-as do quanto podem realizar”, ressaltou ela.
Carolina também salientou a similaridade dos trabalhos desenvolvidos no Pequeno Príncipe e na instituição na qual Vanessa atua na Austrália, não apenas em relação às atividades realizadas no laboratório como também à agenda da igualdade de gênero. “Temos mulheres na liderança desde o início da história da nossa instituição. A trajetória do Pequeno Príncipe começou a partir do trabalho de um grupo de mulheres, e temos a Dona Ety [Ety da Conceição Gonçalves Forte] na presidência voluntária da associação mantenedora há mais de 50 anos”, completou.
Por fim, a diretora-executiva do Hospital Pequeno Príncipe e diretora-geral do Instituto de Pesquisa, Ety Cristina Forte Carneiro, fez uma reflexão relacionada aos assuntos abordados pela pesquisadora australiana Vanessa Bryant. “Nós podemos fazer mais. No Pequeno Príncipe, temos mais de 80% das colaboradoras mulheres. Trabalhamos duro para difundir mais conhecimento, e podemos intensificar ainda mais esse trabalho, além de empoderarmos as meninas e de atuarmos no desenvolvimento de políticas voltadas às mulheres”, concluiu.
Vanessa Bryant é doutora em Imunologia pelo Garvan Institute of Medical Research, em Sydney, e pós-doutora em Genética do Sistema Imune pela The Rockefeller University, em Nova York. Desde 2016, faz parte do Comitê de Equidade de Gêneros da União Internacional das Sociedades de Imunologia (IUIS). Suas pesquisas combinam genômica funcional com imunologia quantitativa para transformar a maneira de abordagem e tratamento de distúrbios imunológicos complexos e raros.