Dia Mundial de Combate à Hanseníase: na pandemia, desabastecimento de medicamentos é um desafio para superar a doença
Neste 31 de janeiro, Dia Mundial de Combate à Hanseníase, faz-se necessário um alerta importante em tempos de pandemia: o Brasil passou a sofrer desabastecimento de medicamentos para o tratamento da doença. Por conta do problema, a Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) tem discutido com autoridades do país e organismos internacionais soluções para evitar que pacientes em tratamento e novos diagnosticados fiquem sem os remédios necessários.
O Brasil é o segundo país no mundo com casos de hanseníase, ou seja, mais de 90% do total verificado na América Latina (a Índia ocupa o primeiro lugar). Por isso, o Janeiro Roxo, mês dedicado à conscientização da doença, é fundamental para superar estigmas em torno da questão.
Existe a crença errônea de que a doença faz cair pedaços do corpo (pele, sola do pé, dedos, entre outros). O que ocorre na verdade é que, devido à anestesia, a pessoa pode se queimar e se machucar sem sentir. “O que percebemos é uma falta de informação e formação sobre essa enfermidade. Mesmo que exista há séculos, a doença ainda é subdiagnosticada”, explica a médica dermatologista Nádia Almeida, que atua no Hospital Pequeno Príncipe.
Outra informação errada é achar que esses pacientes devem ser isolados. “Isso não é verdade, pois, com a medicação e acompanhamento corretos, eles podem se tratar normalmente em casa e sem se afastar do convívio familiar”, completa a especialista.
O diagnóstico da doença é clínico, detectado por meio do exame de toda a pele, olhos, palpação dos nervos, avaliação da sensibilidade superficial e da força muscular dos membros superiores e inferiores. “Quanto antes for identificada, maior é a chance de não haver nenhum comprometimento nos membros do corpo e de evitar a transmissão para um maior número de pessoas. O tratamento se dá com o uso de medicamentos específicos, no período de seis meses a um ano, disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, diz Nádia Almeida.
Doença
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, também conhecido como bacilo de Hansen. De acordo com a OMS, o Brasil registra 30 mil novos casos da doença todos os anos. “É uma enfermidade desafiadora, pois a pessoa tem que lidar com a incapacidade física e também com muito preconceito”, comenta a profissional.
A transmissão ocorre pelas vias respiratórias (secreção nasal, tosse, espirro, gotícula de saliva). O contágio intradomiciliar é mais frequente (entre os membros da família e devido ao contato prolongado). “Por conta dessa proximidade, as crianças também podem ser contaminadas, mas as manifestações clínicas demoram para surgir”, observa a dermatologista.
Entre os possíveis sinais e sintomas, destacam-se dormência, formigamentos e queimações localizadas, acompanhadas pelo surgimento de manchas na pele e perda de sensibilidade local. “Alguns cuidados podem preveni-la, mas é essencial garantir as boas condições socioeconômicas, ou seja, que essas pessoas não vivam aglomeradas e que tenham acesso à higiene adequada. Novos casos da enfermidade surgem, geralmente, entre aqueles que têm contato direto com um doente. Por isso é importante o exame periódico de contatos familiares dos pacientes. A partir do momento que o doente começa o tratamento, ele deixa de ser transmissor da doença”, reitera a médica.