Mara Lúcia Schmitz Ferreira Santos: a missão de cuidar que ultrapassa fronteiras

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Mara Lúcia Schmitz Ferreira Santos: a missão de cuidar que ultrapassa fronteiras

“Meu conselho para quem tem um sonho é nunca desistir e enfrentar os medos. Não viemos a passeio, viemos para fazer alguma diferença no mundo! Seja resiliente com você mesmo e enfrente as dificuldades e empecilhos que a vida dá.”
31/07/2023
Mara Lucia Schmitz Ferreira Santos
A neuropediatra Mara Lucia Schmitz Ferreira Santos realizou o sonho de criança ao trabalhar no Hospital Pequeno Príncipe.

Com o propósito de ajudar o próximo e deixar uma marca especial no mundo, a médica Mara Lúcia Schmitz Ferreira Santos saiu de Ponta Grossa e se mudou para Curitiba para estudar. Aos 11 anos, ao passar de ônibus em frente ao Hospital Pequeno Príncipe, pensou: “Um dia ainda vou trabalhar aqui.” No quinto ano da faculdade de Medicina, ela conseguiu um estágio e iniciou sua jornada de transformação de vidas no maior hospital exclusivamente pediátrico do país. Foi uma das primeiras médicas a integrar o Serviço de Neurologia, que hoje é um dos mais completos serviços no Brasil na área de pediatria. Ainda na década de 1990, Mara saiu do país para buscar conhecimento em doenças raras neurológicas e atualmente coordena o ambulatório dessa área na instituição. É também a preceptora do Programa de Residência em Neurologia Pediátrica – um dos processos seletivos mais concorridos do país nessa especialidade.

Propósito em ajudar o próximo

“Sou do interior do Paraná, Ponta Grossa, e vim de família bem humilde. Apesar de os meus pais serem semianalfabetos, eles sempre estimularam meus irmãos e eu a estudar muito. Por isso, sempre fomos bons alunos e tínhamos vontade de estudar cada vez mais. Tentava ajudar sempre o próximo que tinha alguma necessidade, por exemplo, dando aula para os vizinhos e conhecidos que tinham dificuldade na escola. Então vi o meu objetivo: melhorar a qualidade de vida dos próximos. E, em função disso, vim para Curitiba, pois tinha uma avó que já morava na cidade, para estudar. Aos 11 anos, eu pegava um ônibus e sempre passava em frente ao Hospital Pequeno Príncipe e falava: ‘Um dia ainda vou trabalhar aqui.’ Passei em Medicina pela Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná e, no segundo ano da faculdade, pedi estágio no Hospital para o médico Ismar Strachman [fundador da UTI Pediátrica], e ele falou: ‘Vamos esperar você aprender mais um pouco e no quinto ano você volta aqui.’”

O início no Pequeno Príncipe

“No quinto ano da faculdade de Medicina, em 1985, voltei e fiz uma prova para começar a fazer estágio no Hospital Pequeno Príncipe. Me formei em 1987, fiz a residência de pediatria também na instituição. Na época, me convidaram para atuar na UTI Pediátrica, pois eu era muito boa em atender emergências. Já trabalhava também em vários outros locais, pois precisava ajudar meu pai e minha mãe, e a residência na época não tinha salário – fazíamos por amor. Recordo-me que, de tanto trabalhar, eu dormia umas 15 noites no mês. No decorrer da atuação dentro da UTI, comecei a me interessar pelo cérebro humano, pela neuropediatria e querer entender a origem das doenças. No paralelo, eu me aproximei do doutor Alfredo Löhr Júnior, que era o único médico do Serviço de Neurologia, e pedi para ficar nesta especialidade, à qual me dedico até hoje.”

Missão que ultrapassa fronteiras

“Me vi como Sherlock Holmes, investigando ao máximo sobre as doenças neurológicas e suas origens, mas vi que não tinha resposta para tudo. Então, guardei dinheiro e fui morar em Barcelona, na Espanha, para tentar achar algumas respostas. Percebi que o mundo era muito maior do que eu imaginava. Na década de 1990, nós não tínhamos o Google, que você joga e te dá as respostas. As informações eram mais restritas do que são hoje. Para ler um artigo, precisava pagar em dólar e chegava só um mês depois. Lembro-me que enviei para o Brasil xerox de vários livros para eu poder continuar estudando quando voltasse. Se você quisesse saber algo, precisava ir atrás, buscar, ir a congressos, aprender. Me especializei em erros inatos do metabolismo e voltei para o Hospital Pequeno Príncipe, em 1993, para aplicar meus conhecimentos e experiências obtidos em doenças raras neurológicas.”

Marcos importantes

“Acredito que ao longo desses anos me marcou muito o fato de ter iniciado o estágio no quinto ano da faculdade no Hospital Pequeno Príncipe, pois eu sempre quis isso desde criança. Outro marco foi a expansão da doença neurológica, que até então tinha-se pouco conhecimento. A partir da década de 1990, o mundo e a ciência começaram a debruçar-se nos novos conhecimentos do cérebro e da mente, e começamos a ter medicações específicas e também formas de diagnosticar algumas doenças, como exames genéticos. No Pequeno Príncipe, o Serviço de Neurologia expandiu-se – hoje somos dez neurologistas pediátricos atuando em diferentes segmentos. A neurologia cresceu junto com o conhecimento de novas tecnologias do cérebro. Atualmente temos a etiologia das doenças. Aquilo que sempre quis saber eu posso ver acontecendo hoje. Sou grata em estar viva e poder viver tudo isso.”

Histórias que ensinam

“Os residentes sempre falam que eu tinha que escrever um livro, pois a cada dia conto uma história diferente para eles. Várias me marcaram, uma delas é muito antiga, de um paciente com doença neuromuscular. Na época, eu tinha duas escolhas: entubar para ele viver mais, mesmo sabendo que não ia ter muito tempo de vida, ou não. Não tínhamos ainda os cuidados paliativos. Como eu acredito muito em Deus, pedi: ‘Deus, me dê uma luz’. E, naquele exato momento, escorreu uma lágrima na criança. Ele me deu a resposta, ele queria viver! Hoje, o menino está bem e com 28 anos. Outra história, mais recente, que marcou muito, é de uma menina que fez um transplante e teve sua doença curada. Antigamente, se uma criança tivesse uma doença metabólica, ficava com sequelas e não tinha qualidade de vida. Hoje é muito gratificante ver que elas podem viver bem. Essas histórias mostram a importância de estarmos aqui. Os pacientes nos ensinam muito todos os dias.”

“Meu conselho para quem tem um sonho é nunca desistir e enfrentar os medos. Não viemos a passeio, viemos para fazer alguma diferença no mundo! Seja resiliente com você mesmo e enfrente as dificuldades e empecilhos que a vida dá.”

Inspiração para a vida

“Meu conselho para quem tem um sonho é nunca desistir e enfrentar os medos. Não viemos a passeio, viemos para fazer alguma diferença no mundo! Seja resiliente com você mesmo e enfrente as dificuldades e empecilhos que a vida dá. Tem uma frase da Cora Coralina que eu amo e me representa muito: ‘Desistir… eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos, do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça.’”

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