Especialista da Unicamp aponta prevenção como melhor forma para reduzir número de suicídios
O Complexo Pequeno Príncipe recebeu na noite desta sexta-feira e na manhã de sábado o pós-doutor pela Universidade de Londres e doutor em Saúde Mental pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Neury Botega, para a palestra “Suicídio, uma tragédia silenciosa”. O psiquiatra fez uma contextualização sobre o suicídio ao longo da história, desde a antiguidade até os tempos modernos. Também apresentou um panorama sobre o tema no mundo e destacou a importância do papel do serviço de saúde na prevenção.
Na Antiguidade, o suicídio era tolerado. Na Idade Média, era considerado uma tentação demoníaca. Nos tempos atuais, se tornou um dilema, um problema de saúde pública. Uma pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2003, apontou que dos 15.629 casos investigados, 35,85% apresentavam transtorno de humor, 22,4% estavam relacionados ao uso de substâncias tóxicas, 10,6% à esquizofrenia, 11,6% a transtorno de personalidade e apenas 3,2% não tinham diagnóstico.
Segundo Botega, sempre há muitos fatores que se combinam e que ocasionam o suicídio. “Nunca é apenas um motivo. Há causas genéticas e biológicas, o grau de impulsividade e agressividade, abusos físicos ou sexuais, disponibilidade de meios letais, entre outros. Há pesquisas que demonstram que até o perfeccionismo está associado ao suicídio, especialmente de adolescentes”, explica o especialista.
De 1980 a 2006, o suicídio aumentou entre os meninos adolescentes de 15 a 24 anos, e se manteve estável entre as mulheres. Entre os grupos que mais se suicidam no Brasil, além dos jovens, estão indígenas, agricultores e policiais. Diferente do que se pode imaginar, os maiores coeficientes estão em cidades de médio e pequeno porte do país. No Brasil, em 2010, segundo dados do DataSUS, foram 9.500 suicídios, uma média de 26 por dia. Em um ranking mundial, o Brasil é o 10º país do mundo em suicídios.
Orientações aos profissionais de saúde
De acordo com Botega, que é consultor de organismos nacionais e internacionais na área da saúde mental, o papel dos atendentes em saúde é muito importante. “Em geral, os profissionais de saúde têm muito medo de perguntar sobre suicídio para os seus pacientes porque não sabem o que fazer se a resposta for sim. É necessário ouvir calmamente, muitas vezes só ouvir já dá paz ao paciente. Em outros casos é necessário chamar um especialista, um psiquiatra para orientar o melhor tratamento”, aponta.
O especialista apresenta uma dica simples e efetiva para análise de risco iminente de suicídio: a regra dos Ds (Desespero, Desesperança, Delirium, Desamparo, Depressão e Dependência química). Além de ficar atento a esses fatores, é necessário observar se o paciente cogita a possibilidade de praticar suicídio. “Quando a pessoa fala que pensa em tirar a própria vida, dimiui o risco de praticar o ato. Por isso é importante trabalhar esse paciente e não dar um tapinha nas costas”, diz. “São nas grandes crises existenciais que é preciso questionar qual é o sentido da vida, ajudar ao paciente a organizar o caos emocional”, observa.
Em casos de internamento, há atitudes preventivas que auxiliam de forma efetiva para o êxito no tratamento. Botega destaca o cuidado que os profissionais de saúde devem ter quanto:
– avaliação de licença – paciente somente deve ser liberado para se ausentar do quarto quando estiver em condições emocionais para não praticar nenhum ato contra a própria vida;
– segurança nas enfermarias – manter o paciente em um quarto em constante observação pela equipe de Enfermagem;
– plano de contingência – estratégias definidas e claras em situações que possam vir a ocorrer e como proceder.
Por fim, no quesito de manejo do paciente, o especialista destaca estratégias de curto, médio e longo prazo. “Num hospital geral, a principal medida num curto prazo é manter o paciente seguro. Já a médio e longo prazo, é mantê-lo estável com medicamentos e reuniões com a família”.