Série Adolescência expõe desafios reais dos jovens na atualidade

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Série “Adolescência” expõe desafios reais dos jovens na atualidade

O Hospital Pequeno Príncipe aborda as principais reflexões que a produção propõe com o olhar de psicólogas
28/03/2025
série Adolescência
A série Adolescência, disponível na Netflix, traz uma abordagem intensa e dramática desse período complexo.

A adolescência é um período marcado por descobertas, vulnerabilidades e desafios sociais cada vez mais complexos. A série Adolescência, disponível na Netflix, traz uma abordagem intensa e dramática dessas questões ao contar a história do assassinato de uma adolescente de 13 anos, tendo como suspeito um colega da mesma idade. Mais do que um enredo trágico, a produção oferece um retrato fiel das dificuldades enfrentadas pelos jovens nos dias de hoje, abordando temas como inseguranças, redes sociais, misoginia e distanciamento familiar.

Muito provavelmente os adolescentes estejam assistindo – e é importante que os adultos, sejam pais, educadores, atores de referência para crianças e adolescentes, assistam também, com disponibilidade para olhar para algumas realidades e dialogar sobre elas. A seguir, o Hospital Pequeno Príncipe aborda as principais reflexões que a série propõe com o olhar das psicólogas Angelita Wisnieski da Silva e Simone Passos Valesi.

Reflexões sobre a série Adolescência

A busca por aceitação e a pressão das redes sociais

A adolescência é um período de transformações físicas e emocionais, no qual a necessidade de pertencimento se torna um fator central. A série evidencia como as redes sociais amplificam essa busca por aceitação, colocando os jovens sob constante avaliação e comparação.

Nesse contexto, qualquer erro ou comportamento “fora do padrão” pode resultar em exclusão e humilhação pública, levando muitos adolescentes a adotarem comportamentos de risco para serem aceitos. Esse fenômeno se agrava quando a popularidade e o reconhecimento são conquistados à custa da desvalorização de outros, fortalecendo uma cultura de competitividade e desrespeito.

O impacto do distanciamento familiar e da solidão

Outro ponto levantado pela série é a solidão vivida pelos adolescentes, especialmente quando não encontram apoio na família. O afastamento do núcleo familiar é natural nessa fase, pois os jovens buscam novas referências e experiências. No entanto, quando esse distanciamento se torna excessivo e há um vácuo de suporte emocional, eles ficam ainda mais vulneráveis a influências externas negativas.

Pais e cuidadores podem acreditar que manter os filhos em casa é suficiente para protegê-los. Contudo, a realidade é que os riscos muitas vezes estão “nos bolsos e nas mãos” dos adolescentes, por meio de celulares e computadores conectados à internet. Por isso, é fundamental que os adultos busquem se aproximar-se e dialogar com os jovens, compreendendo suas angústias e desafios.

A autorregulação e os riscos do comportamento impulsivo

A série também destaca a importância da autorregulação, ou seja, a capacidade de reconhecer e respeitar os próprios limites. Na adolescência, o corpo já possui força e capacidade cognitiva avançada, mas o desenvolvimento do autocontrole ainda está em construção. A necessidade de testar limites e experimentar o novo pode levar os jovens a se colocarem em situações de risco.

A forma como a criança é ensinada a lidar com frustrações e regras desde a infância influencia diretamente essa capacidade na adolescência. Quando os limites não são bem estabelecidos ou internalizados, o jovem pode ter dificuldade em frear impulsos, resultando em comportamentos imprudentes.

O perigo da misoginia e do cyberbullying

A misoginia, ou seja, atitudes de ódio e desprezo contra as mulheres, é outro tema explorado na série. O crescimento de conteúdos misóginos nas redes sociais impacta adolescentes em um momento de vulnerabilidades, como a baixa autoestima e a necessidade de validação externa. Por isso, a importância do diálogo acerca das questões de gênero desde sempre.

Aliado a isso, o cyberbullying surge como uma ferramenta cruel de exclusão e humilhação. Diferente do bullying presencial, as agressões virtuais têm um impacto ainda maior, pois alcançam um público ampliado e permanecem registradas na internet, aumentando o sofrimento das vítimas.

Linguagem própria e códigos indecifráveis

Os termos abaixo, abordados na série Adolescência, são frequentemente discutidos em contextos que exploram ideologias extremas de gênero e suas repercussões sociais. Conheça-os!

  • Incel: originado de “celibatário involuntário”, refere-se a homens jovens, muitas vezes ligados à internet, que se sentem incapazes de ter um relacionamento amoroso e culpam as mulheres por suas frustrações sexuais e emocionais.
  • Redpill: inspirado no filme Matrix, indica uma ideologia que alega revelar a verdade sobre as relações de gênero, argumentando que as mulheres são opressoras e os homens são injustiçados.
  • Blackpill: versão mais radical do redpill, caracterizada por visões extremamente pessimistas sobre as relações de gênero e a sociedade.
  • Discord: plataforma de comunicação inicialmente para gamers, utilizada por grupos redpill e blackpill para troca de mensagens, áudios e formação de comunidades.
  • Reddit: plataforma de fóruns na qual grupos de incels propagam ideias misóginas e compartilham experiências.
  • White knight: homens que defendem mulheres online e são ridicularizados por grupos como os incels.
  • Masculinismo: movimento que busca afirmar a masculinidade tradicional, muitas vezes percebendo os avanços femininos como uma ameaça.
  • Homens beta: na hierarquia incel, são vistos como submissos e inseguros em relação às mulheres.
  • MGTOW: acrônimo para “Men Going Their Own Way”, movimento que rejeita relacionamentos com mulheres, considerando-as manipuladoras.
  • Chad: termo usado para descrever homens atraentes e confiantes, vistos como superiores pelos incels.
  • Stacy: mulheres vistas como atraentes e desejáveis pelos incels, que supostamente preferem os chads.

O papel dos adultos: diálogo, valores e alternativas saudáveis

Diante desse cenário, a série reforça a importância de um papel ativo dos adultos na vida dos adolescentes. O ensino de valores, o exemplo de atitudes éticas e o fortalecimento de vínculos de confiança são essenciais para que os jovens se sintam seguros e amparados. Além disso, oferecer alternativas saudáveis é fundamental. Atividades culturais, esportivas e contato com a natureza podem substituir parte do tempo de tela e proporcionar experiências mais significativas para os adolescentes.

Conclusão: um olhar coletivo sobre a adolescência

A série Adolescência não oferece soluções, mas provoca reflexões urgentes sobre o mundo dos jovens na atualidade. Como diz um provérbio africano: “É preciso uma aldeia para se educar uma criança.” Mais do que um desafio exclusivo dos pais e das escolas, compreender e apoiar a adolescência é uma responsabilidade de toda a sociedade. Nesse sentido, inclui a necessidade de políticas públicas e de dispositivos sociais e culturais que contemplem as vulnerabilidades e potencialidades da adolescência e possam dar estrutura às famílias.

  • Confira, no vídeo a seguir, o olhar de uma psiquiatra sobre a série:

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