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Sandra Correa de Bem: cuidado e empatia que acolhem
A catarinense Sandra Correa de Bem encontrou um propósito singular após deixar para trás uma carreira na contabilidade. Ao chegar a Curitiba, o destino a conduziu ao Hospital Pequeno Príncipe por uma combinação de experiências que a prepararam para uma função inesperada: acolhedora. Desde 2013, ela dedica-se a esse papel com empatia, compaixão e zelo, com o objetivo de oferecer conforto às famílias em seus momentos mais difíceis. Em um trabalho sem rotinas, ela se adapta a cada necessidade. Ao longo dos anos, Sandra considera que a verdadeira riqueza está nas relações e na capacidade de estar plenamente presente.
Resiliência
“Sou de Laguna, Santa Catarina e vim para Curitiba em 2009. Desde criança, sempre tive que aprender a lidar com as minhas perdas. Com 9 anos, perdi minha avó que morava na época. E, depois disso, infelizmente, foram várias outras perdas de familiares e amigos muito próximos. Então, acredito que várias situações me moldaram para eu estar onde estou hoje. Infelizmente, não há nada que possamos fazer para evitar que a morte ocorra.”
Destino
“Venho da área financeira, fiz técnico em contabilidade e sempre trabalhei com isso. Tinha uma amiga que era educadora no Hospital Pequeno Príncipe e falou que havia uma vaga aqui para mim, na área de humanização. Paralelamente, eu já estava saturada, pedi demissão e fiquei uns dois meses sem trabalhar. Até que fiz o processo seletivo e fui chamada para trabalhar no Serviço de Acolhimento ao Óbito, em janeiro de 2013, e estou aqui desde então. Para ser acolhedor é muito mais do que um currículo, pois tem que saber lidar com a dor do outro sem misturar as suas próprias emoções. Além disso, é essencial estar acostumado a trabalhar com plantões e horários muito diversos.”
Propósito
“Depois de uma semana ao chegar ao Hospital Pequeno Príncipe, tive que acompanhar o primeiro atendimento para, só então, descobrir se estava realmente pronta para trabalhar com isso. Afinal, envolve muitas emoções, sentimentos, cheiros, lembranças, enfim. Me preparei, respirei fundo e logo nesse primeiro atendimento a criança tinha o mesmo nome do meu sobrinho, que também tinha falecido. Na época, eu vivi toda a rotina hospitalar com minha irmã lá em Santa Catarina. Então, considero que esse primeiro atendimento foi um divisor de águas, pois já não era mais a minha história e sim a de outra pessoa. O meu papel aqui é ajudar e estar totalmente inteira para as famílias.”
Humanização
“O Núcleo de Humanização é incrível. E é muito bacana poder trocar e conviver com mulheres. Amo poder aprender com tantas pessoas diferentes, mas que se respeitam e aprendem tanto umas com as outras. Hoje, o Serviço de Acolhimento ao Óbito é formado pela Maria, que é a coordenadora, eu como acolhedora e a Vitória como assistente. E sempre acionamos a nossa rede de apoio, que inclui o Serviço Social, a Psicologia, a Pastoral da Espiritualidade e, em casos específicos, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT).”
Sem rotinas
“Não gosto de rotinas, então posso dizer que estou no lugar certo. De modo geral, participo de reuniões com as equipes multidisciplinares, faço relatórios e também realizo o plantão, pois posso ser acionada em qualquer horário. Quando sou chamada, converso com as equipes para entender a demanda. Me apresento para família e me coloco totalmente à disposição para ajudar. Nesse momento tão difícil, representamos um apoio para auxiliar no que for necessário, desde orientar, organizar a documentação, levar em locais específicos, ajudar a comunicar para outros familiares ou simplesmente dar um abraço. E fico até o último momento, quando a criança sai do Hospital. Então, existe uma confiança grande em nós e nesse trabalho.”
Histórias
“Um dia acordei agoniada, pois estava sonhando que pedia para algo parar. Passou dois minutos e o telefone tocou. Cheguei ao Hospital e o falecimento era de um paciente bem jovem, que fazia acompanhamento na área de cardiologia. Quando olhei para o menino ele estava com semblante de quem estava rindo. Então, a mãe dele falou: ‘reanimaram ele duas vezes e ele pediu para parar’. Há situações que acontecem aqui dentro que simplesmente não sei explicar. São muitas histórias. Tem pais que eu tenho contato até hoje. Alguns me mandam fotos de filhos que tiveram, outros um exame de gravidez que deu positivo. Às vezes, estou em casa, e alguém manda mensagem dizendo que se não fosse nosso apoio, não sabe como seria. Por isso, sou sempre grata.”
Aprendizados
“Desde que estou no Hospital, aprendi a dar mais valor para os pequenos momentos. Simplesmente viver e não pensar muito no dia de amanhã. Afinal, a vida é hoje. Às vezes, brigamos e corremos atrás de coisas que não vamos levar. E tudo passa tão rápido. Gosto de ter tempo para viver e o tempo que vivo eu gosto de estar viva. Hoje, eu exerço um tipo de amor que é a presença física. Quero ser presença para as pessoas. Muita coisa mudou, amadureci e me transformei. E eu sempre achava engraçado quem ficava muitos anos na mesma empresa. E, veja só! Estou há 11 anos e não me imagino fazendo outra coisa. Quem está aqui e não se transforma de alguma forma, é porque está no lugar errado.”