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Maria Teresa Resnauer Taques: das raízes simples à dedicação plena na medicina
Apaixonada pelo que faz, a médica Maria Teresa Resnauer Taques desde cedo transformou as dificuldades em motivação para ajudar os outros. Criada entre as raízes simples da vida rural e a busca por conhecimento na cidade grande, ela encontrou na medicina o equilíbrio entre técnica e humanidade. Com uma trajetória marcada por superação de desafios e uma conexão genuína com as crianças, ela dedica sua vida a cuidar, ensinar e aprender. Desde 2004, atua na Emergência Convênios do Hospital Pequeno Príncipe, local que considera um verdadeiro porto seguro.
Das raízes rurais ao sonho da medicina
“Nasci em Curitiba, mas passei minha infância numa fazenda. Naquela época, mulher fazia magistério, ou seja, era professora. Mas a minha mãe bateu o pé e falou que iríamos para a ‘cidade grande’ para escolher o que eu quisesse ser. Então, deixei minhas raízes lá e vim para Curitiba. Acho que toda criança, toda menina, principalmente, quer ser professora. Eu sempre quis lidar com gente, pois nunca gostei de coisas exatas. Mas por outro lado, gosto de desafio. E eu fiquei pensando, o que é bem difícil? Medicina! É isso que quero, é isso que vou ser. Então, cursei Medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR).”
Superando desafios desde a infância
“Meu pai ficou doente muito cedo. Minha mãe assumiu a casa, com três crianças, e eu comecei a trabalhar muito cedo, fazia de tudo um pouco para sobreviver. Tenho raquitismo, uma doença crônica. Hoje o que chamam de bullying, eu sofri muito disso na infância. E acho que fiz tanto para mostrar que podia, sabe? E sempre fui muito abençoada, porque amo o que eu faço. Fiz psiquiatria e brinco que eu namorei com essa área, mas não casei. Acho que me ajudou muito. Me ajudou muito no sentido de aprender a lidar com o doente, não com doença só.”
Pediatria como propósito
“E foi trabalhando com psiquiatria que me dei conta que o que eu queria mesmo era fazer pediatria. Isso porque trabalhar com crianças envolve muito a arte de conversar. Tem a parte técnica, obviamente. Mas a parte humana da pediatria é fundamental. Me encontrei. Eu amo trabalhar com crianças, porque elas são puras, autênticas, 100% sentimento. Criança não finge, não disfarça. Se estão bem, demonstram. Se estão mal, você percebe de imediato. Elas até brincam com a gente, tipo: ‘Tia, por que você não cresceu?’ E eu brinco de volta: ‘Porque não comia feijão na sua idade.’ Elas são diretas e sinceras. Se algo vai doer, você explica: ‘Vai doer um pouquinho, mas já passa.’ E elas aceitam, confiam. O que mais me encanta é essa autenticidade. Trabalhar com elas é gratificante justamente por isso: é simples, verdadeiro e cheio de vida.”
Início da jornada no Hospital
“Cheguei no Hospital Pequeno Príncipe em 2004. Comecei na Emergência Convênios fazendo suplência de plantão, porque uma colega que trabalhava comigo no outro hospital me chamou. Depois de uns quatro meses, a chefe de emergência me chamou e falou: ‘Quer entrar pra escala?’ Então, me agarrei a essa oportunidade. Tempos depois, fui convidada a internar os pacientes. Com o tempo, fui percebendo que é o que a gente precisa, né? Mudar, se desafiar, aprender. Quando falam ‘nossa, você está lá no Pequeno Príncipe ainda?’, eu digo que sim, porque vivo no meio de aluno e de professor. O risco de enferrujar e parar no tempo é menor, né? Adoro estar aqui. Não tem um dia que eu não aprenda alguma coisa aqui dentro.”
Fazer a diferença
“O que mais me encanta é a satisfação de resolver casos, ver as crianças crescerem e saber que fiz diferença na vida delas. Não é sobre dinheiro, mas sobre paixão pelo que faço e a alegria de atuar em várias áreas, unindo a prática clínica ao cuidado humano. Sou profundamente grata por isso. O internamento é desafiador, pois tem pessoas que ficam meses aqui. Cheguei a ficar com uma mãe internada por nove meses. Ela era chinesa, não falava uma palavra em outra língua, nem inglês, nem coisa nenhuma. E a criança tinha uma doença neurológica grave. Me marcou muito, principalmente a questão da comunicação. Usamos muito o Google Tradutor para se comunicar e, no final, estávamos conseguindo entender melhor. Tanto que ajudei muito ela em outras questões também. Então, internar é complicado, porque se lida com a angústia das famílias todo santo dia.”
Gestos que transformam
“A mãe de uma amiga, que havia perdido o marido recentemente, viu na TV a história de uma menina de 7 ou 8 anos que aguardava um transplante de coração. Quando perguntaram o que ela queria, respondeu que desejava um gatinho de crochê, um amigurumi. A mãe da minha amiga, que fazia crochê lindamente, decidiu fazer o gatinho e pediu para que eu o entregasse. No fim, não só fizeram o gato chegar até ela, como a mãe da minha amiga foi quem entregou. Eles até esterilizaram o bichinho, que acompanhou a menina no centro cirúrgico e durante toda a internação na UTI. Para mim, foi emocionante. Me senti madrinha da menina e do gatinho.”
Encontros inesperados
“Uma vez, eu estava no Ceará, esperando na fila para andar de buggy, bem à paisana, com uma turma. De repente, uma mulher atrás de mim tocou no meu ombro e perguntou: ‘Com licença, a senhora é do Sul? Médica?’ Confirmei, e ela contou que era de São Paulo e que sua única experiência no Paraná foi quando seu filho quase morreu e acabou internado no Pequeno Príncipe, comigo como médica. Fiquei impressionada: no meio das dunas, no Ceará, ela me reconheceu! Então, ela chamou o filho: um rapaz enorme, com uns 20 anos, já grandão. Esses encontros inesperados são muito especiais. Às vezes, não lembro de imediato, mas quando puxam a história vem um monte de memórias. É algo que me emociona e me alegra.”
Tecnologia e humanização
“A tecnologia mudou muito, trazendo avanços enormes em prontuários, informação e comunicação. Mas o que me encanta é a evolução na parte humana. Sou do tempo em que crianças eram internadas sozinhas, sem a presença da mãe. Era triste, terrível, sofrido. Hoje, não só a mãe, mas toda a família participa ativamente do cuidado, e essa mudança é, para mim, a mais importante. A parte humana é o que transforma. Aqui, a gente resolve quase tudo com cuidado humano: entregar um gato, esterilizar um bichinho, acompanhar uma criança no centro cirúrgico, batizar, até arranjar roupas de batizado. Essas ações, religiosas ou não, são o que realmente importam. Durante a pandemia, mesmo com as limitações, conseguimos preservar essa essência. A evolução tecnológica é enorme e indispensável, mas o impacto da humanização é o que mais marca e deixa memórias.”
Para além do Hospital
“Fora do Hospital, sou uma pessoa muito simples e tímida, apesar de não parecer. Sou profundamente religiosa, católica, e canto. Gosto do coral, porque é como uma equipe: pessoas de todas as idades e histórias se apoiando para criar algo bonito juntas. Também adoro cuidar das minhas plantas, tenho uma horta e um jardim, e meus luxos são meus cachorros, minhas amizades e a música. Passei 22 anos cuidando do meu pai, que já faleceu, e agora estou reaprendendo a viver, buscando um pouco de cuidado para mim também. Sou simples, prefiro ser a ter, e encontro alegria nas coisas mais essenciais da vida.”
Um porto seguro
“O Hospital é uma das maiores conquistas da minha vida, um verdadeiro porto seguro. É aquele lugar que, quando penso no que é realmente importante pra mim, me vem à mente como algo essencial. Antes, mandava as crianças para o Pequeno Príncipe. Hoje, sou o Pequeno Príncipe. E isso é muito forte! Muitas vezes, nem percebemos a grandiosidade disso. Em eventos como o Jogo Pelé Pequeno Príncipe Legends, por exemplo, levei meus sobrinhos e fiquei emocionada ao ver a força dessa instituição. É algo construído a muitas mãos, e fazer parte disso é incrível. Esse lugar é mais do que um trabalho para mim. É uma potência, um símbolo de tudo o que me inspira e me motiva.”