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Maria Emília Suplicy de Albuquerque: um sonho realizado por meio da nutrição infantil

No dia em que entrou no Hospital Pequeno Príncipe, em 20 de junho de 2005, Maria Emília Suplicy de Albuquerque escreveu um pequeno bilhete para sua mãe: “Eu consegui! Fui. Beijos felizes.” Depois, esse recado foi emoldurado, eternizando a realização de um sonho cultivado já na faculdade. Desde essa época, ela almejava cuidar de crianças por meio da nutrição no maior hospital pediátrico do Brasil.
A trajetória de Maria Emília passou por desafios e conquistas: da Residência em Nutrição Infantil em São Paulo à volta para Curitiba, onde começou no Hospital. De lá para cá, ela acompanhou o crescimento do Serviço de Suporte Nutricional e assumiu a supervisão de nutrição clínica. Assim, transformou a paixão em propósito, construindo uma carreira marcada pelo cuidado, aprendizado e impacto positivo na vida de milhares de pacientes.
Um sonho que começou na infância
“Sou de Curitiba e, desde muito nova, sempre gostei muito de crianças e já imaginava que, dentro da minha profissão, queria atuar com elas. Só não tinha muita certeza do que queria fazer e acabei realizando um teste vocacional. Ele apontou mais para a área da saúde, mas não exatamente para um curso específico. Meu pai é médico, e — pelas histórias que ele contava sobre a rotina das médicas e o impacto disso na vida familiar — percebia que aquele estilo de vida não era o que queria para mim. Sempre valorizei muito a família e sonhava em poder conciliar minha carreira com esse lado. Achei que a nutrição me permitiria esse equilíbrio. Fiz faculdade na Universidade Federal do Paraná e, ao me formar, o desejo de trabalhar com pediatria continuava muito forte.”
Especialização na pediatria
“Como em Curitiba ainda não havia formação nessa área, comecei a pesquisar o que existia no Brasil e descobri duas boas opções em São Paulo. Entrei na Escola Paulista de Medicina da Unifesp. Fui aprovada e, em 2002, me mudei para São Paulo para cursar a Residência em Nutrição Infantil. Foi um ano muito especial. Conheci profissionais incríveis, alguns dos quais mantenho contato até hoje. Uma das médicas, inclusive, escreveu minha carta de recomendação quando terminei a residência, para que eu pudesse voltar e trabalhar em Curitiba, no Hospital Pequeno Príncipe, que sempre foi meu grande objetivo. No início de 2003, voltei para casa com o coração cheio de gratidão e o sonho de atuar com as crianças que tanto me inspiraram a escolher esse caminho.”
O início da jornada no Pequeno Príncipe
“Quando voltei para Curitiba, meu objetivo era trabalhar no Hospital Pequeno Príncipe. Na época, os processos de contratação eram bem diferentes, não existia um setor de RH estruturado. Preparei meu currículo e o trouxe pessoalmente ao Hospital. A Solange, que trabalhava numa salinha de vidro com o Dr. Donizetti, sabia do meu interesse e me dizia: ‘Precisamos de uma profissional como você, mas no momento não conseguimos contratar.’ Mesmo assim, de vez em quando me ligava: ‘Vem aqui, aparece, para te verem.’ E eu vinha, conversava, mostrava minha vontade. Até que um dia, a ligação tão esperada chegou. Lembro da alegria como se fosse hoje! Na época, ainda não existia WhatsApp ou celulares como agora. Em casa, a gente costumava deixar bilhetes para avisar onde ia. E naquele dia, deixei um bilhete na mesa dizendo: ‘Mãe, eu consegui! Fui. Beijos felizes.’ Minha mãe, toda emocionada, escreveu atrás: ‘1.º dia Hospital Pequeno Príncipe — dia 20 de junho de 2005’. Esse bilhete, inclusive, foi emoldurado e até hoje guardo com carinho. Quando olho para trás e lembro de toda a luta e da vontade que eu tinha de estar aqui, meu coração se enche de gratidão. Por isso, foi realmente uma conquista muito especial.”
Crescimento, aprendizado e liderança
“Com o passar do tempo, o serviço cresceu muito. Aos poucos, conseguimos ampliar a equipe e estruturar melhor. No início, era tudo diferente do que temos hoje. Naquela época, não existia um serviço de nutrição hospitalar formado, com equipe multiprofissional integrada como temos atualmente. Não havia um espaço físico próprio nem protocolos definidos. Em alguns períodos, cheguei a ficar sozinha atendendo o Hospital inteiro. Eram dias bastante intensos, mas também muito desafiadores e de grande aprendizado. Conforme o Hospital foi crescendo, surgiu a necessidade de uma supervisão mais próxima. Assim, assumi o cargo de supervisora da equipe de nutrição. A partir daí, o serviço começou a se estruturar. Criamos protocolos, indicadores, e fortalecemos a atuação multiprofissional junto a médicos e enfermeiros. Hoje, temos uma equipe consolidada e com profissionais que estão há bastante tempo, o que faz toda a diferença. Cada nutricionista organiza sua rotina de acordo com os pacientes do seu posto. Logo cedo, recebemos um relatório com todos os internados e definimos quem será avaliado. Depois disso, saímos para as visitas, discutimos as condutas com os médicos e voltamos para registrar e prescrever tudo no sistema. Dessa forma, conseguimos manter o cuidado nutricional de forma organizada, segura e integrada com toda a equipe.”
O encantamento pela pediatria
“O que realmente me move são as crianças. Sempre gostei desse universo infantil, pois é algo muito natural em mim. No consultório, a maior parte dos meus pacientes são crianças. Costumo dizer que quem trabalha com crianças consegue atender adultos com facilidade, mas o contrário nem sempre é verdadeiro. Atender crianças exige sensibilidade, paciência e, principalmente, saber entrar no mundo delas. É preciso entender os desenhos que estão na moda, as brincadeiras do momento, e transformar a consulta em um espaço leve e acolhedor. Eu brinco, converso, deixo que elas se expressem, e isso cria uma conexão única. Atender criança é diferente, o clima é outro. E eu realmente amo isso. Desde pequena, já demonstrava esse perfil: nas festas das minhas amigas, eu sempre acabava brincando com os irmãos menores. Acho que essa afinidade me acompanhou até hoje e acabou se refletindo naturalmente na minha profissão. Trabalhar com pediatria é, sem dúvida, o que faz mais sentido para mim.”
Desafios da área hospitalar
“A gente vive muitas situações que vão muito além da parte clínica. Existem fatores sociais que impactam diretamente o tratamento e, muitas vezes, estão fora do nosso controle. Aqui dentro do Hospital, tudo está sob meu domínio — eu sei o que estou fazendo, acompanho de perto, consigo garantir que o paciente receba o cuidado certo. Mas, a partir do momento em que ele recebe alta e sai pelo portão, muita coisa foge das nossas mãos. Nem sempre sabemos como será o cuidado em casa. Alguns pacientes continuam sendo acompanhados no ambulatório, mas é uma rotina diferente. Já tive, por exemplo, situações em que a mãe era analfabeta, e precisei explicar passo a passo, de forma simples e visual, como preparar a dieta e cuidar da criança. São esses momentos que mostram o quanto o nosso trabalho vai além da técnica — ele envolve empatia, paciência e um olhar muito humano.”
Trabalho em equipe
“Um exemplo que me toca muito é o das mães de bebês internados na UTI. Muitas vezes, o bebê depende do leite materno, mas a mãe está num momento de tanta tensão que simplesmente não consegue produzir. E é compreensível, pois para amamentar o corpo precisa de descanso, hidratação e, principalmente, tranquilidade. Nesses momentos, meu papel vai muito além da nutrição. Eu converso, acolho, explico que está tudo bem fazer o possível. Sempre digo: ‘O que você conseguir já é ótimo. Se não der, não tem problema, você está fazendo o seu melhor.’ É uma forma de aliviar um pouco o peso que essas mães carregam. E, claro, a equipe de psicologia tem um papel fundamental nesse apoio emocional. Outra área com que trabalhamos muito de perto é a fonoaudiologia. Além disso, estamos sempre em contato com os médicos durante as visitas diárias. Eles avaliam o quadro clínico, e juntos decidimos as condutas nutricionais. É um trabalho realmente em equipe, com muita troca entre os profissionais, sempre pensando no bem-estar e na recuperação do paciente.”
Histórias que marcam
“Às vezes, não somos favoráveis a determinadas prescrições, mas quando a criança pede acabamos cedendo. Claro, se alguém lesse, poderia pensar: ‘Meu Deus, Maria está prescrevendo isso!’ Mas conviver com o dia a dia, ver o sofrimento da criança, da mãe e o tempo de internação, nos ajuda a tomar essas decisões com humanidade. Por exemplo, havia crianças que não comiam nada pela boca. Clinicamente estavam bem, mas se recusavam a se alimentar. Recentemente, trouxe um pacotinho de balinhas para uma delas. Ela conseguiu comer apenas o bracinho do ursinho, não a cabeça inteira, mas foi um pequeno avanço. Então, sim, a gente tenta. Mas é preciso entender que, muitas vezes, a parte emocional da criança é um todo complexo, algo que não conseguimos captar completamente. Por isso, nosso trabalho vai muito além da prescrição: é olhar, compreender e agir com cuidado, sempre buscando equilibrar o bem-estar físico e emocional do paciente.”
Pequenas histórias que marcam a caminhada
“Tem uma história simples, mas muito marcante para mim. Há anos, estaciono o carro numa quadra próxima e venho a pé até o Hospital, Sempre no mesmo horário. E, nesse trajeto, acabei criando uma amizade inesperada. Tem um gari que trabalha ali, o José. A gente começou com aquele ‘bom dia’ de todo dia, até que um dia paramos para conversar. Ele perguntou meu nome, e eu disse: ‘Maria.’ Ele riu e respondeu: ‘Olha só, Maria e José!’ E desde então criamos uma amizade muito especial. De vez em quando, eu trazia alguma coisa que não servia mais pros meus filhos ou um panetone no Natal — pequenas gentilezas que ele sempre recebia com um sorriso enorme. Teve uma época, perto da pandemia, que ele sumiu. Fiquei preocupada, sem saber se estava afastado, se tinha acontecido alguma coisa… até que um dia ele reapareceu, e foi uma alegria encontrá-lo ali de novo. Não é uma história do Hospital, mas é algo que faz parte da minha rotina. O José está ali todos os dias, e nosso ‘bom dia’ virou parte do meu caminho. Então, é uma lembrança simples, mas muito bonita.”
Família, amor e rotina fora do Hospital
“Tenho três filhos, e todos nasceram em Curitiba. Minhas filhas também já tiveram suas passagens pelo Hospital. Além disso, quando elas eram bebês, deixava as duas no Centro de Educação Infantil (CEI) do Hospital Pequeno Príncipe, e foi uma experiência maravilhosa. Saber que elas estavam pertinho e bem cuidadas fazia toda a diferença. Ser mãe é uma bênção, mas é importante também ter esse equilíbrio. Trabalhar faz bem, ajuda a manter a mente ativa e traz mais leveza para os momentos com os filhos. Tenho uma união familiar muito grande. A rotina durante a semana é bem corrida entre trabalho, escola, compromissos e a vida em casa com meu marido e os filhos, mas é no fim de semana que tudo desacelera. É quando nos reunimos em família, e isso é algo que valorizamos muito. As crianças adoram! Sempre perguntam: ‘Posso dormir na casa da vovó hoje?’ ou ‘Quando a gente vai ver os primos?’ — e é uma alegria só. Os finais de semana viraram sinônimo de convivência e aconchego.”
“Desde a época da faculdade, eu já me encantava pelas disciplinas de pediatria e sonhava em um dia trabalhar no Hospital Pequeno Príncipe. Já tinha essa visão muito clara, pois sabia que era aqui que queria estar.”
Um sonho realizado e em constante evolução
“O Hospital fez parte de tudo: da minha juventude, do meu casamento, da chegada dos meus filhos e do meu amadurecimento como pessoa e profissional. Acho que tudo isso fez parte do meu crescimento profissional. Desde a época da faculdade, eu já me encantava pelas disciplinas de pediatria e sonhava em um dia trabalhar no Hospital Pequeno Príncipe. Já tinha essa visão muito clara, pois sabia que era aqui que queria estar. Foi um caminho construído com muito estudo, dedicação e conquistas ao longo do tempo. Cada etapa, cada desafio e cada pessoa que encontrei nessa jornada contribuíram muito para a minha formação tanto em conhecimento quanto em aprendizado humano. Hoje, olhando para trás, vejo o quanto cresci. Consegui realizar aquele sonho de atuar na pediatria e ainda tive a oportunidade de evoluir profissionalmente assumindo a supervisão da área. Então, é gratificante perceber que todo aquele desejo do início se transformou em uma trajetória sólida e cheia de significado.”