Claudio Teixeira: o educador que inaugurou o Setor de Educação e Cultura

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Claudio Teixeira: o educador que inaugurou o Setor de Educação e Cultura

“Esse é o trabalho da minha vida. Sinto que tudo que eu fiz antes foi uma preparação para fazer o que faço hoje. Aqui a gente tem a escola dos sonhos.”
05/03/2020
Claudio Teixeira
Foi com a chegada do educador Claudio Teixeira que o Setor de Educação e Cultura foi criado

No Hospital Pequeno Príncipe, a função dos educadores é diferente das escolas tradicionais. Aqui, esses profissionais são verdadeiros guias e valorizam as necessidades, potencialidades e desejos de cada criança e adolescente. Apesar do pioneirismo da instituição em disponibilizar atendimento educacional aos pacientes internados ter sido na década de 1980, foi com a chegada do educador Claudio Teixeira que o Setor de Educação e Cultura foi criado. Há 20 anos, o profissional dedica seu tempo, talento e amor para transformar vidas por meio da educação, cultura e arte.

Psicólogo por formação, educador por paixão

“Vim para Curitiba após finalizar a faculdade, pois me senti atraído pelo tamanho suficiente da cidade e pela vida cultural que ela proporcionaria. Sou formado em Psicologia, mas quando fiz um estágio em uma escola, na área de pedagogia, eu me apaixonei. A minha criança está muito viva dentro de mim. Por mais que eu não tenha nenhuma formação acadêmica para ser professor, essa já é a minha vocação há 25 anos. Em uma das escolas que trabalhei antes de entrar aqui, foi que eu conheci a diretora Ety. Ela gostou muito do meu jeito de ensinar e me chamou para atuar no Hospital Pequeno Príncipe em 2000. No início, eu assessorava a Ety em uma série de projetos, na área cultural e de humanização. Até que 2 de março de 2002, o Setor de Educação e Cultura foi inaugurado.”

O início do Setor de Educação e Cultura

“Foi um começo bem pequeno, era uma ‘euquipe’. Para ter ideia, nós tínhamos uma sala dentro de Serviço de Voluntariado. Mas logo de início, entrei em contato com a Secretaria Municipal da Educação e conseguimos ampliar a quantidade de professores. Procuramos os cursos de Pedagogia da cidade para conseguirmos estagiários e os capacitávamos para atuarem com as crianças. Em 2007, foi retomado o convênio com a Secretaria do Estado da Educação, que atende os adolescentes do sexto ano ao ensino médio. A medida em que a equipe aumentou, precisamos de um local maior e tivemos a reforma, que nos proporcionou uma área adequada para receber as crianças e adolescentes. Nessa mesma época, fomos beneficiados com projetos da Lei Rouanet e temos hoje de 8 a 10 projetos por ano, com uma grade diária de atividades. Nesse contexto, contamos com nove educadores, que dão apoio ao ensino educacional, mas tem como foco a área cultural.”

“Esse é o trabalho da minha vida. Sinto que tudo que eu fiz antes foi uma preparação para fazer o que faço hoje. Aqui a gente tem a escola dos sonhos.”

Escola dos sonhos

“Esse é o trabalho da minha vida. Sinto que tudo que eu fiz antes foi uma preparação para fazer o que faço hoje. Aqui a gente tem a escola dos sonhos, nós não somos enquadrados por uma série de jeitos de fazer que a escola tradicional tem. A margem de inovação em uma escola é muito menor. No Pequeno Príncipe, a gente pode ser o que realmente é. Nós ousamos, inventamos, vamos atrás, buscamos maneiras diferentes de fazer. Nada do que fazemos é imposto, é tudo por adesão – elas têm o direito de aceitar ou não. Isso não significa que vamos brincar o tempo inteiro para agradar a criança. Significa pensar a educação e o processo de aprendizagem de uma maneira que seja envolvente, rica e que traga a criança para a ação. A grande sacada do educador é descobrir a área cinzenta das crianças e buscar outras maneiras para explorar essa área difícil e torná-la mais colorida.  Outro ponto muito bacana dessa escola dos sonhos é a presença dos pais, que estão o tempo todo com os pacientes, fazendo a atividade, participando das oficinas e aprendendo juntos. O vínculo entre eles é um momento qualificado. Trazer os pais para a aprendizagem é uma oportunidade de compartilharem o que eles sabem. A gente recebe pais que vêm do interior e nas oficinas de jardinagem, por exemplo, tornam-se educadores também. Por isso digo que o Pequeno Príncipe é uma escola especial.”

Jeito diferente de ensinar e envolver

“Um dia desses, estava ensinando uma criança a fazer a conta de soma e subtração com umas peças coloridas e a mãe viu que, apesar de saber fazer os cálculos, não sabia o que era o ‘vai um’ ou o ‘empresta do vizinho’. Isso nós conseguimos mostrar dessa forma mais lúdica, sem ser algo tão abstrato para criança. Outra questão para mim é a música. Sou músico amador e considero-a com um poder mobilizador impressionante. A música chega onde nada mais é capaz de alcançar. Um exemplo disso é nos casos das crianças que não se mexem, não falam e não reagem. Mas, quando uma música toca, o corpo tenta mexer e os olhos brilham. Não sei o que ocorre em termos neurológicos, mas é muito forte.”

Quando a arte une a amizade

“Uma história marcante foi com o paciente Nyltow Rafael, que conheci quando caminhava por uma enfermaria e ouvi uma flauta doce saindo de um quarto. Eu também toco flauta doce e isso me chamou a atenção. Já entrei no quarto e foi o início de uma amizade, até quando ele nos deixou. Ele era um guri incrível, cheio de vida, me aproximei muito da família. Como ele não podia frequentar a escola, a mãe criou uma escola de contraturno no jardim da casa dela, para que ele pudesse ter convivência com as crianças da redondeza. Ele marcou, sem dúvidas, todos que conheceram ele. O Nyltow tocava flauta, violino, acordeon e teclado, mas nunca tinha visto um concerto de música. E um dia combinei de levá-lo para assistir e ele amou, ele era muito sensível.”

Eterna gratidão

“A Ety sempre teve uma clareza muito grande sobre a importância de ter esse trabalho no Hospital Pequeno Príncipe. Nunca nos faltou nada, desde apoio material até operacional. Sou extremamente grato e tenho um respeito enorme sobre a clareza que ela tem do que é realmente importante e onde precisamos dedicar nossa energia. Me considero sortudo demais. Tudo que o Hospital faz é fundamental, mas estamos com a parte de trazer sorrisos. De propósito, usamos um avental laranja para mostrar que proporcionamos cultura e educação. As crianças e famílias já sabem que a gente leva ânimo e aprendizado para superar o momento. Apesar de comandar o setor, sei que ele só existe porque a direção quis muito que acontecesse e porque contamos com uma equipe que se dedica e acredita muito no que faz. Maior parte da minha vida foi engajado nesse projeto com muita relevância social e vivencial. Só tenho a agradecer a cada dia, morreria de tédio trabalhando com coisas que não vibrassem e não sorrissem. Sou movido a sorrisos!”

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