Adriano Maeda: onde a neurocirurgia encontra o cuidado genuíno

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Adriano Maeda: onde a neurocirurgia encontra o cuidado genuíno

“O que eu mais gosto na minha profissão é cuidar. Acho que o médico é, essencialmente, um cuidador. Amo o contato com as crianças, pois sinto uma paixão por elas. Na minha prática, aprendi a envolver a família, pois o cuidado com a criança precisa ser estendido aos pais.”
04/08/2025
Adriano Maeda
Com 30 anos de carreira e mais de 2.500 cirurgias realizadas apenas na última década, o neurocirurgião Adriano Maeda impactou milhares de vidas. (Foto: Complexo Pequeno Príncipe/Thiana Perusso)

Dizem que a medicina é feita de técnica, mas quem a vive de verdade sabe: é feita, acima de tudo, de cuidado e presença. Para o neurocirurgião Adriano Maeda, ela também é uma vocação, construída desde a infância, inspirada pelo exemplo do pai pediatra. A escolha pela neurocirurgia pediátrica surgiu não só pelo desafio técnico da especialidade, mas principalmente pelo vínculo profundo que se forma com as crianças e suas famílias ao longo dos anos. No Hospital Pequeno Príncipe, ele encontrou seu verdadeiro lugar — um ambiente que vai além do conceito tradicional de hospital. Ali, convive com uma equipe que compartilha a mesma essência: o desejo genuíno de cuidar. Com 30 anos de carreira e mais de 2.500 cirurgias realizadas apenas na última década, ele acumula histórias marcantes em uma área que exige atenção constante, empatia e sensibilidade.

Medicina sempre presente

“Nasci em Pato Branco, interior do Paraná, e vim para Curitiba em 1989, para fazer o terceirão. Entrei na PUC em 1990 e me formei em janeiro de 1996. A medicina sempre fez parte da minha vida, pois meu pai é médico pediatra, e desde criança eu o acompanhava. Aquilo me marcou. Durante a faculdade, pensei em várias áreas: anestesia, ginecologia… mas foi no final do curso que a neurocirurgia me chamou. Sempre achei que era uma especialidade desafiadora e muito específica. O que mais me atraiu foi o tipo de vínculo que ela proporciona. São pacientes com quem a gente convive por muito tempo.”

Pequeno Príncipe: o encaixe perfeito 

“Entrei na residência de neurocirurgia na Santa Casa em 1996. Já no segundo ano, a gente vinha para o Pequeno Príncipe fazer estágio em neurocirurgia pediátrica. Era diferente de tudo. Gostava muito de vir para cá. Gostava das crianças, do jeito delas, da energia. Me identificava demais com o ambiente. Em 2000, fiz um fellowship aqui mesmo, e esse contato foi só se intensificando. A neurocirurgia pediátrica virou meu caminho. Depois da residência, trabalhei em outro hospital, mas nunca perdi o vínculo com o Pequeno Príncipe. Em 2013, quando o Dr. Paulo Carbone faleceu — ele que foi meu chefe, meu mentor —, eu assumi a chefia da neurocirurgia pediátrica. Desde então, me dedico exclusivamente às crianças. Hoje eu não atendo mais adultos — só os meus pacientes que cresceram. No consultório particular, eu acompanho esses ‘meus adultos’, que um dia passaram por mim como crianças. É uma relação que atravessa o tempo.”

O desafio da neurocirurgia

“A neurocirurgia, independentemente do caso, é sempre desafiadora. Não existe caso simples. O paciente neurológico exige atenção constante, porque a evolução pode ser muito grave e de forma muito rápida. Todo dia, é como se a gente matasse um leão. Mas, ao mesmo tempo, é uma especialidade muito compensadora, porque as crianças, a longo prazo, melhoram muito. Às vezes, existe um preconceito em relação à criança com doença neurológica, como se ela fosse ficar ‘daquele jeito para sempre’. Mas a criança é um ser em desenvolvimento. Mesmo doente, se a gente investe, corre atrás, ela melhora — e melhora bastante. E, claro, tudo isso só é possível se a gente envolve a família no processo. Isso faz toda a diferença.”

“O que eu mais gosto na minha profissão é cuidar. Acho que o médico é, essencialmente, um cuidador. Amo o contato com as crianças, pois sinto uma paixão por elas. Na minha prática, aprendi a envolver a família, pois o cuidado com a criança precisa ser estendido aos pais.”

Cuidado como vocação

“O que eu mais gosto na minha profissão é cuidar. Acho que o médico é, essencialmente, um cuidador. Amo o contato com as crianças, pois sinto uma paixão por elas. A criança é um ser honesto, talvez o mais honesto que existe. E elas respondem aos tratamentos de uma maneira surpreendente. Na minha prática, aprendi a envolver a família, pois o cuidado com a criança precisa ser estendido aos pais. Quando a criança adoece — principalmente nos casos neurológicos que trato, a família adoece junto. A doença se espalha emocionalmente. Essas são situações muito delicadas, em que o impacto social, financeiro e até relacional é profundo. Muitas vezes, se a família não estiver estruturada, o núcleo se quebra. Por isso, é fundamental dar suporte aos pais. Sem isso, o tratamento não evolui.”

O papel da família

“Nesses anos todos de neurocirurgia, aprendi a respeitar muito os pais, mas principalmente as mães. As mulheres têm uma percepção que os homens não têm. A relação entre mãe e filho é visceral, é uma conexão profunda. Cada ser humano é único, mas as mães, em especial, têm um papel muito grande no tratamento. Sempre digo que o tratamento envolve um time, e os pais fazem parte desse time. Digo a eles: ‘Preciso de vocês comigo.’ E acolher vai muito além de estender a mão. Eu abraço os pais. Quando opero uma criança, enquanto ela está sendo anestesiada, tiro uns minutos para sentar com os pais e conversar. Quando alguém tem um filho, a perspectiva de vida muda. O amor por um filho é incondicional. Não importa o que aconteça, esse amor não passa. Ele é inexplicável.”

Entre vitórias e perdas

“Neste ano, completo 30 anos de formado. E já estou numa fase em que começo a dar alta para pacientes que acompanhei desde muito pequenos. Às vezes, lá no ambulatório, eles chegam aos 18 anos e é hora de se despedir. Nesses momentos, vejo a gratidão dos pais, das mães, das famílias. Nós, médicos, claro que temos casos que não esquecemos. Mas não esquecemos das perdas, pois perder um paciente é algo que marca profundamente. As pessoas acham que a dor é só da família, mas não é. Para nós também é muito difícil. Quem trabalha com criança sabe: é preciso uma entrega verdadeira, um envolvimento profundo. Quem fica aqui dentro, cuidando delas, não está aqui só porque quer — está porque consegue. E nem todo mundo consegue. Evito citar nomes, porque seria injusto destacar um só. Mas te digo: a vida do médico é feita de vitórias, é feita de cuidado — mas também é feita de perdas. E essas perdas nos transformam. Às vezes, penso que nós, médicos, temos duas versões: aquela que as pessoas imaginam e aquela que realmente somos. Me sinto muito privilegiado pelas mães dos meus pacientes, pois recebo muito carinho delas, e acredito que isso vem do vínculo que se constrói por meio do cuidado.”

Médico que chama pelo nome

“Meus residentes me disseram algo que nunca esqueci: ‘Dr. Maeda, quando a gente trabalha muito tempo em pronto-socorro, a gente endurece. Mas quando a gente vem aqui pro Pequeno Príncipe, a gente volta a ser gente.’ E é verdade. Em muitos hospitais com alto volume, os pacientes viram a doença que têm: ‘Como está aquela fratura?’, ‘como está aquele trauma?’. Aqui, não. Aqui, a gente chama pelo nome. O João é o João. A Maria é a Maria. Porque a criança não é a doença — ela está doente, mas ela é uma pessoa. Lembro o nome das mães, dos pais. Sei que a Nádia é mãe do Lourenço. Que a Débora é mãe da Vitória. Que a Michelle é mãe do Igor. Isso parece pequeno, mas não é. Isso é respeito. É o mínimo que podemos oferecer em uma relação de cuidado. Meu pai sempre foi um exemplo de respeito e cuidado para mim. Outro dia, uma mãe me perguntou por que eu vinha ao Hospital até no sábado e domingo. Eu disse: ‘Venho dar um oi, ver se está tudo bem. Passo cinco minutos e vou embora com o coração em paz.’”

Foco no que importa

“Hoje, fora do Hospital, meu papel é cuidar da minha filha e de mim. Durante muito tempo, lutei contra o peso. Hoje, integrei o exercício físico à minha rotina. Faço minha academia, vou para o consultório, atendo as crianças, faço ambulatório, opero… e sigo vivendo essa jornada com mais equilíbrio. Hoje, meu modo de vida é conviver com as pessoas que eu amo. A vida é curta demais para desperdiçar com o que não importa. Quero estar perto da minha família, dos meus pais, que já estão mais velhos e precisam de mais atenção. Quero crescer, cuidar da minha filha, cuidar dos meus pacientes, estar com quem me ama. Sempre digo aos pais que doença em filho não é castigo — é oportunidade de reflexão. Quando somos mais novos, damos valor de mais para coisas que não têm tanta importância.”

Pertencimento, cuidado e gratidão

“O Pequeno Príncipe faz parte da minha vida desde antes mesmo de eu ser médico. Se eu pudesse definir o que ele representa para mim com uma só palavra, seria casa. Nós, médicos que trabalhamos aqui de forma tão intensa, muitas vezes passamos mais tempo neste Hospital do que nas nossas próprias casas. E isso cria um sentimento muito forte de pertencimento. Além disso, existe uma identidade coletiva em torno do cuidado com a criança, que é algo muito marcante em todos os profissionais — da equipe da limpeza até a alta direção. Esse sentimento de estar em casa só é superado, para mim, pelo contato com as crianças, que é o que eu mais gosto. Na minha especialidade, esse contato se prolonga por anos. É uma vida inteira acompanhando pacientes e suas famílias. Enfim, o conjunto é muito bom. E é isso que faz do Pequeno Príncipe um lugar especial.”

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