Por que 18 de maio?
No dia 18 de maio de 1973, uma menina de 8 anos foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada no Espírito Santo. Seu corpo apareceu seis dias depois carbonizado e os seus agressores, jovens de classe média alta, nunca foram punidos. A data ficou instituída como o “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes” a partir da aprovação da Lei Federal nº. 9.970/2000. O “Caso Araceli”, como ficou conhecido, ocorreu há quase 40 anos, mas, infelizmente, situações absurdas como essa ainda se repetem.
Pequeno Príncipe chama atenção para o papel de cada um no combate à violência infantojuvenil
Há 10 anos, o Hospital Pequeno Príncipe, referência no atendimento infantojuvenil de vítimas de violência sexual e maus-tratos em Curitiba e na região metropolitana, promove a Campanha Pra Toda Vida – A violência não pode marcar o futuro das crianças e adolescentes, alertando a comunidade para a importância de cuidar e proteger os meninos e meninas, e denunciar qualquer suspeita de violência. Em 18 de maio, Dia Nacional de Enfrentamento à Violência contra Crianças e Adolescentes, a discussão sobre esse tema ganha força, já que os números são cada vez mais alarmantes.
Para marcar a data, o Hospital fez um ato de conscientização junto aos pais e profissionais nesta quarta-feira, dia 18. Foram distribuídos balões em três cores que incentivam a importância de cuidar (azul), proteger (amarelo) e denunciar (preto). Além disso, ao longo do dia, serão distribuídos cerca de 2 mil flyers sobre o tema para a população que passa pelo Pequeno Príncipe.
Casos dobram em 10 anos
Durante esses 10 anos, a quantidade de casos de suspeita de violência atendidos na instituição cresceu quase 50%. Somente de 2014 para 2015, houve um aumento de 42 ocorrências, passando de 373 para 415 casos. Quase metade desse total refere-se à violência sexual. Para a psicóloga do Hospital Pequeno Príncipe, Daniela Prestes, a hipótese é de que cresceu o número de denúncias. “Há mais de 10 anos, tínhamos uma subnotificação dos casos de abuso sexual. Antes o número era muito maior de notificação de violência física, pois acredito que se falava menos das questões da sexualidade com relação aos menores”, ressalta a especialista.
Ainda de acordo com a psicóloga, a maior divulgação do assunto na mídia, a discussão nas escolas e a veiculação do tema na comunidade contribui para que as pessoas conheçam mais sobre o assunto e denunciem. Somente em 2015, o Disque-Denúncia Nacional registrou mais de 80 mil ligações. “É importante estimular a denúncia e expor que ela pode ser anônima. Se observamos que um adulto não está dando conta de zelar pelos direitos de uma criança ou adolescente, cabe a qualquer cidadão resguardar aquele menino ou menina. O adulto precisa ser o porta-voz”, destaca a psicóloga. Os casos de agressão podem ser informados anonimamente ao Disque-Denúncia Nacional (100), Disque-Denúncia Estadual (181) ou a Prefeitura de Curitiba (156).
Dados preocupantes
Mais de 60% dos casos de violência atendidos no Hospital Pequeno Príncipe acontecem em ambiente intrafamiliar, ou seja, são praticados pelos pais, avós, tios, entre outros membros da família. Os dados são reforçados pela Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, que registrou quase 90% dos casos com essa característica. “Esse tipo de violência pode atingir qualquer classe, cultura e religião. Além disso, o público acredita que quem é próximo da vítima, não faria algo tão maldoso dessa forma e a suspeita é amenizada”, pontua Daniela.
Os agressores são, em grande parte, homens e as vítimas, meninas. Cerca de 70% está na fase da primeira infância, ou seja, tem entre 0 a 6 anos. O dado é chocante, já que quanto mais precoce em termos de idade, mais afetado o indivíduo é. Segundo a psicóloga, as crianças vitimadas podem ser prejudicadas no desenvolvimento motor, intelectual e psíquico. “Por isso, o Hospital tem um trabalho multiprofissional com o intuito de atender as crianças e adolescentes o quando antes, para amenizar as sequelas e melhorar a qualidade de vida do indivíduo”, finaliza.
Sobre a Campanha Pra Toda Vida
O Hospital Pequeno Príncipe é referência no atendimento de casos de suspeita de violência desde a década de 1970, quando os profissionais iniciaram o atendimento diferenciado às crianças que chegavam à instituição com lesões incompatíveis com as histórias relatadas por seus responsáveis. Desde então, a instituição desenvolve ações de mobilização e conscientização sobre o tema.
Essas atividades foram formalizadas como parte da Campanha Pra Toda Vida – A violência não pode marcar o futuro das crianças e adolescentes. Pode meio dela, desde 2006, é realizada a mobilização da sociedade, feita a distribuição de cartilhas para profissionais das áreas da saúde e da educação, e organizadas campanhas para estimular a denúncia. Tudo para contribuir com a redução dos casos de maus-tratos registrados no Brasil.