Alergias alimentares e doenças eosinofílicas: avanços e desafios

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Alergias alimentares e doenças eosinofílicas: especialistas discutem avanços e desafios em encontro internacional

Profissionais do Brasil, Reino Unido e Estados Unidos debateram avanços no diagnóstico, tratamento e qualidade de vida de crianças
24/05/2025
O evento foi coordenado pelo gastroenterologista Mário César Vieira e contou com a participação de nomes de referência mundial em saúde pediátrica e imunologia.

Durante o International Meeting on Food Allergy and Eosinophilic Gastrointestinal Disorders, realizado dentro da programação do Criança 2025, especialistas do Reino Unido, Estados Unidos e Brasil se reuniram para discutir os mais recentes avanços no diagnóstico, tratamento e manejo de alergias alimentares e doenças gastrointestinais eosinofílicas. O evento foi coordenado pelo gastroenterologista Mário César Vieira e contou com a participação de nomes de referência mundial em saúde pediátrica e imunologia.

“Nós aproveitamos um congresso dessa importância, com expectativa de um público muito grande, para fazer o nosso Encontro Internacional de Alergia Alimentar e Doenças Eosinofílicas Gastrointestinais. Os temas são muito específicos de especialistas da área de gastroenterologia, de alergia imunológica e de nutrição pediátrica. Por isso, nós fizemos como um evento pré-congresso e tivemos o privilégio de contar com um público muito além da expectativa que tínhamos. Nós esperávamos cerca de 80 inscritos. Mas chegou um momento no qual a na sala que tinha mais de 160 pessoas, de 15 estados brasileiros”, destacou Vieira.

A programação contou com a presença de três especialistas renomados, com vasta experiência clínica, inúmeras publicações e uma didática envolvente. Moderadores de instituições como a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a Santa Casa de Porto Alegre (no Rio Grande do Sul), a Universidade de São Paulo (USP), o Hospital Israelita Albert Einstein, a Santa Casa de São Paulo e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) conduziram as discussões ao longo do dia. O engajamento foi tão intenso que os participantes permaneciam atentos, com os olhos fixos nas apresentações, participando ativamente das discussões e demonstrando grande interesse pelo tema.

O professor Adam Fox, do Guy’s & St Thomas’ Hospitals (Reino Unido), alertou sobre o aumento expressivo de alergias alimentares, especialmente em crianças com até 4 anos. Ele destacou que diagnósticos imprecisos ainda são comuns, levando a restrições alimentares desnecessárias e riscos nutricionais.

Fox defendeu o uso de métodos confiáveis para o diagnóstico, como testes cutâneos, IgE sérico e o “food challenge” (teste de provocação alimentar), e apresentou os avanços da imunoterapia oral (OIT) como abordagem promissora para dessensibilizar pacientes alérgicos, principalmente em casos de alergia a leite e ovo.

Nutrição infantil

A nutricionista pediátrica Rosan Meyer, da University of Winchester, abordou os impactos das alergias alimentares no crescimento infantil. Dados mostram que até 10% das crianças alérgicas apresentam baixa estatura, em razão de inflamações persistentes e má absorção de nutrientes como cálcio, ferro, iodo e vitamina D.

Ela também apontou o aumento da obesidade em crianças alérgicas em países desenvolvidos, devido ao consumo excessivo de alimentos ultraprocessados. Como solução, defendeu dietas diversificadas, naturais e ricas em alimentos frescos, que favorecem o equilíbrio do microbioma intestinal e contribuem para a prevenção de novas alergias.

A introdução alimentar em bebês diagnosticados com alergia foi outro tema central de uma das aulas de Rosan. De acordo com diretrizes internacionais, o processo deve ocorrer entre 4 e 6 meses de idade, com sinais claros de prontidão e sempre sob supervisão profissional. O aleitamento materno deve ser mantido, e o processo deve ser conduzido de forma individualizada, respeitando o desenvolvimento da criança. Entender a realidade de cada país é importante.

Doenças eosinofílicas gastrointestinais

A professora Mirna Chehade, da Icahn School of Medicine, no Mount Sinai Hospital, localizado em Nova York, nos Estados Unidos, abordou as doenças eosinofílicas gastrointestinais (EGIDs), com foco na esofagite eosinofílica (EoE). Ela explicou que, apesar de pouco conhecida, a EoE é uma doença inflamatória crônica do esôfago com prevalência crescente e sintomas que variam de dor abdominal a obstruções severas.

Mirna ressaltou o uso da tecnologia reference score, uma escala endoscópica que permite avaliar com maior precisão a gravidade da inflamação esofágica, substituindo métodos convencionais. Para um diagnóstico assertivo, são necessárias seis biópsias entre as regiões proximal e distal do esôfago.

Nos casos infantis, o diagnóstico precoce é essencial. A especialista defendeu um tratamento de longo prazo que pode incluir restrições alimentares ou medicamentos, com os corticosteroides apresentando 65% de eficácia em estudos recentes. A meta é minimizar os sintomas, preservar o crescimento, normalizar o aspecto endoscópico e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Restrição alimentar

A especialista Rosan Meyer também compartilhou a evolução das estratégias de restrição alimentar na EoE. Enquanto nos anos 1990 seis alimentos eram eliminados da dieta, estudos recentes mostram que a exclusão de dois alimentos (como leite + soja ou leite + glúten) pode levar à remissão em 43% dos casos. A eliminação de apenas o leite de vaca apresentou ainda melhores resultados: 51% de remissão.

As dietas podem reduzir a necessidade de endoscopias frequentes, algo relevante em países com acesso limitado a exames, como o Reino Unido. No entanto, ela alertou para os impactos sociais dessas restrições na infância, como dificuldades de convivência em festas, escolas e restaurantes. Por isso, reforçou a importância de equipes multiprofissionais que incluam nutricionistas, médicos, psicólogos e o apoio da família.

Futuro da imunoterapia

Encerrando o curso pré-congresso de gastrologia, o professor Adam Fox apresentou terapias inovadoras para alergias e EoE. Uma das principais dificuldades no uso de medicamentos em crianças é a forma de administração. Como alternativa, Fox apresentou doses precisas de alérgenos em pó, que podem ser misturadas aos alimentos ou à pasta de dente, facilitando a adesão ao tratamento e eliminando a necessidade de restrições antes ou depois do uso.

Embora os estudos ainda estejam em fase inicial, especialmente com alérgenos como amendoim, os resultados são promissores. Para Fox, essas tecnologias representam uma nova era de tratamentos mais acessíveis, eficazes e adaptados à rotina infantil. “É um futuro brilhante para as pessoas com alergias”, concluiu.

A professora Mirna Chehade encerrou sua participação reforçando a necessidade de compartilhar dados entre países para entender as variações na prevalência e no manejo das doenças eosinofílicas. Segundo ela, o Brasil tem feito avanços significativos e possui grande potencial para contribuir com estudos multicêntricos e estratégias regionais mais eficazes.

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