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Mariana Faucz Munhoz da Cunha: medicina, família e propósito se entrelaçam
A trajetória de Mariana Faucz Munhoz da Cunha é marcada por inspirações familiares, desafios pessoais e encontros transformadores. Vinda de uma família de médicos e filha de um pediatra que se tornou seu maior exemplo, ela encontrou na medicina um propósito que vai além da cura, unindo o cuidado integral e humanizado. Seu encantamento pelo Serviço de Nefrologia do Hospital Pequeno Príncipe guiou sua escolha pela nefropediatria – especialidade na qual coordena o Programa de Transplante Renal atualmente. Ao entrar na instituição em 2000 como residente, não imaginava que, além de transformar vidas, também teria a própria vida transformada. Ao longo dos anos, momentos desafiadores e conquistas emocionantes, como a adoção de um filho, simbolizam a união de sua trajetória pessoal e profissional.
Inspiração familiar
“Nasci em Curitiba, onde a minha família também nasceu e cresceu. Tenho vários médicos na família. Meu pai, que é pediatra, é minha maior inspiração e exemplo na medicina, especialmente em termos de ética e conduta. Sempre quis ser uma médica parecida com ele, sem dúvida. Além disso, tenho um tio e uma prima ortopedista, o Cunha e a Ana Laura, que também trabalham no Pequeno Príncipe. Meu avô era dermatologista – e, dos oito filhos dele, quatro se tornaram médicos. No início, até pensei em cursar Psicologia. No entanto, meu pai sugeriu que eu considerasse psiquiatria. Quando perguntei o que precisava fazer para seguir essa carreira, ele explicou que precisaria cursar Medicina. Ao entrar na universidade de Medicina, percebi que não queria mais psiquiatria. Curiosamente, também não queria pediatria, principalmente porque meu pai sempre dizia que a vida de pediatra era difícil.”
Encontro de propósito
“No sexto ano da faculdade, conheci o Hospital Pequeno Príncipe de maneira inesperada. Estava visitando uma senhora e o filho dela que fazia diálise na Fundação de Criança Renal, e ela mencionou que o Serviço de Nefrologia do Hospital Pequeno Príncipe precisava de mais médicos. Como já tinha interesse nessa área, fui conhecer a especialidade da instituição, e foi ali que decidi fazer pediatria, com o objetivo de me especializar em nefrologia pediátrica. Todo o meu caminho na medicina foi traçado para alcançar essa especialidade, que sempre esteve presente na minha trajetória.”
Trajetória no Pequeno Príncipe
“Minha experiência prática em pediatria começou na Emergência do Pequeno Príncipe, onde fiz seis meses de estágio voluntário. Como ainda não havia residência em nefrologia pediátrica no Hospital, fui para São Paulo cursar a especialização. No entanto, durante meu segundo ano de residência (R2), abriu uma vaga no Pequeno Príncipe. Fui a segunda residente dessa especialidade no Hospital, ingressando em 2000. Foi aqui que diversas oportunidades surgiram. Passei pelo tratamento conservador, pelo Setor de Hemodiálise e, há 13 anos, estou no Programa de Transplante Renal.”
Caminho do recomeço
“Em 2004, recebi o diagnóstico de câncer de ovário. Passei por cirurgia, na qual retirei o útero e os dois ovários, seguida de seis meses de quimioterapia. Durante todo o tratamento, fui acolhida pela equipe do Hospital, que me ofereceu todo apoio necessário para facilitar a minha recuperação. Em períodos de maior fragilidade, fui realocada para funções mais leves, até estar apta a retornar à hemodiálise. Lidar com a doença foi difícil, especialmente por significar que eu não poderia engravidar, mas o apoio que recebi foi fundamental para enfrentar esse período.”
Encontros que transformam
“Foi no Pequeno Príncipe que conheci meu marido, um endocrinologista pediátrico que esteve ao meu lado durante o câncer. Começamos a namorar em 2004 e, em 2006, tivemos o privilégio de conhecer um bebê internado no Hospital, que era de um abrigo. Ele tinha apenas 45 dias quando o vi pela primeira vez, completamente careca, e imediatamente senti uma conexão. Lembro que dias antes eu havia sonhado com um menino chamado Pedro – o nome do meu pai e o que escolhemos para um filho, caso o adotássemos – e muito parecido com ele. Ele ficou internado por algumas semanas enquanto os processos legais de adoção avançavam. Foi um período de muita ansiedade e espera, mas, finalmente, nove meses depois, em 2007, conseguimos adotá-lo. Ele tinha quase 10 meses de vida. A adoção foi um presente que o Pequeno Príncipe me deu, junto com meu marido. Esses encontros marcaram minha história pessoal, pois foi o lugar onde minha família começou.”
Conexão com as crianças
“O que mais encanta na profissão é a relação com as crianças e o impacto que o tratamento tem na vida delas. Transplantar uma criança pequena e ver como isso transforma seu crescimento e qualidade de vida é algo extraordinário. A transparência e sinceridade das crianças tornam a troca muito enriquecedora. A nefrologia pediátrica exige um olhar cuidadoso, pois a vida das crianças é frequentemente marcada por restrições. Além disso, há um vínculo único criado com as crianças e suas famílias, o que exige um trabalho em equipe muito coeso. Lidar com perdas e insucessos é desafiador, mas a união e o suporte de uma equipe multiprofissional tornam possível enfrentar essas situações difíceis e oferecer um cuidado integral e humano.”
Evolução da nefrologia no Hospital
“Ao longo dos anos, o Hospital testemunhou um crescimento significativo na equipe e na qualidade dos serviços oferecidos pela nefrologia. A maioria dos médicos da equipe foram formados dentro do próprio Hospital, o que cria um ambiente de continuidade e compromisso. É inspirador ver a evolução de cada profissional. O Hospital também se destaca pelo amplo alcance de suas modalidades de tratamento, sendo um dos poucos no Brasil a oferecer todas as formas de diálise. Então, dá muito orgulho perceber esse crescimento.”
Os desafios da nefrologia
“Ser nefrologista exige um olhar diferente sobre a prática médica. Não se trata apenas de curar, mas de acompanhar a progressão de uma doença ao longo de toda a vida do paciente. Um exemplo marcante foi uma conversa com a mãe de uma criança em hemodiálise, que desabafou: ‘Eu vejo os pais das crianças saindo do centro cirúrgico, abraçando e agradecendo aos médicos. Mas eu não tenho vontade de agradecer.’ Essa fala reflete a complexidade da nefrologia, onde o cuidado contínuo nem sempre resulta em uma solução definitiva. Cada etapa é cercada de incertezas, como a necessidade de comunicar à família que um transplante pode durar um dia ou 20 anos, exigindo um acolhimento e uma comunicação especial para criar vínculos duradouros. Então, quando uma família retorna para agradecer, mesmo em meio às dificuldades, faz tudo valer a pena.”
Histórias que marcam
“Muitos pacientes deixam marcas profundas, como José Lucas, um jovem que chegou ao Hospital aos 10 anos, vindo do Rio de Janeiro. Com uma condição urológica, ele enfrentou longos períodos de internação. Ele sempre foi muito carismático e querido por todos. Durante seu tratamento, eu comecei a namorar, e ele protagonizou momentos divertidos, como cantar ‘Com Quem Será?’ em uma das visitas. Mas esse laço perdurou. Anos depois, quando ele se formou, fez questão de convidar para a celebração. Hoje, ele ainda envia mensagens cheias de carinho, começando com: ‘Oi, meu amor!’ Há também histórias mais difíceis, como a do primeiro paciente que atendi em consultório e veio a falecer após meu último contato com ele. Segundo a mãe, estava me esperando para se despedir. Entre risos, superações e despedidas, essas ensinam e transformam.”
Autocuidado e transformação pessoal
“Nos últimos anos, tenho aprendido a importância do autocuidado. É algo que fui incorporando com o tempo, e hoje dedico bastante atenção a mim mesma. Quando defendi meu mestrado, decidi celebrar comprando um piano – um instrumento que eu tocava na adolescência e voltei a fazer aulas. Além disso, sou uma pessoa caseira, adoro estar ao ar livre, pratico ioga, corro e procuro ler. Em 2022, concluí uma pós-graduação em cuidados paliativos, e isso transformou minha visão sobre a relação com pacientes e famílias. Aprendi que meu papel é ajudar durante a trajetória de cada paciente, seja ela qual for. Por isso, não vejo fracassos, mas sim histórias – algumas mais curtas, outras mais difíceis. Essa nova perspectiva como paliativista também fez muita diferença na minha atuação como nefrologista.”
“[….] Só por ter me dado meu marido e meu filho, já teria valido a pena. Mas vai muito além disso: quantas pessoas conheci, quantas histórias vivi aqui. Acho que é sobre isso. Sobre a troca, sobre o impacto que a gente tem na vida dos outros.”
Importância do Hospital
“Trabalhar aqui é como fazer parte da família, e, como em qualquer família, há momentos de harmonia e outros nem tanto, né? Mas não consigo me imaginar longe do Pequeno Príncipe, pois faz parte da minha vida. No dia 1.º de fevereiro, completo 25 anos aqui e fiquei pensando na minha história com o Hospital. Quando penso no Pequeno Príncipe, lembro imediatamente do Alexandre e do Pedro, sabe? Então, mesmo que o Hospital fosse um lugar ruim (o que não é), só por ter me dado meu marido e meu filho, já teria valido a pena. Mas vai muito além disso: quantas pessoas conheci, quantas histórias vivi aqui. Acho que é sobre isso. Sobre a troca, sobre o impacto que a gente tem na vida dos outros.”