Daniela Prestes: a psicologia que acolhe e transforma caminhos

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Daniela Prestes: a psicologia que acolhe e transforma caminhos

“O Hospital tem 105 anos, e eu estou aqui há 35 — um terço da sua história. Tive a oportunidade de acompanhar mudanças, crescimento, conquistas e participar de programas que se tornaram referência. Sinto gratidão."
19/08/2025
Daniela Prestes
A psicóloga Daniela Prestes iniciou no Hospital como estagiária e construiu uma jornada de conquistas e histórias. (Foto: Complexo Pequeno Príncipe/Thiana Perusso)

A trajetória da psicóloga Daniela Prestes é tecida por escolhas corajosas, encontros marcantes e amor profundo pela vida em sua forma mais delicada: a infância. Desde os 16 anos, quando buscava compreender seu caminho profissional, descobriu na psicologia uma paixão que unia sua curiosidade científica com a sensibilidade pelo ser humano. No Hospital Pequeno Príncipe, onde iniciou como estagiária e construiu uma carreira que já soma 35 anos, Daniela encontrou sua verdadeira vocação. Para ela, acolher as crianças e suas famílias, integrar equipes e ajudar a transformar dor em possibilidade de crescimento é o que a move. Com seu olhar atento e sistemático, atuou em programas pioneiros, fortaleceu redes de proteção, consolidou áreas de referência e pôde fazer a diferença na vida de quem a cruzou.

Escolhas e descobertas

“Fiz o vestibular aos 16 anos, porque achava que deveria decidir logo. Sempre me interessei pela área de saúde, especialmente biologia, genética, citologia e doenças, mas sabia que algumas áreas não eram para mim. Medicina sempre me atraiu, pois tinha um bisavô médico que veio de Roma, de uma família nobre, e a medicina era muito valorizada na minha família. A ideia de um ‘sacerdócio’ da medicina me fascinava, mas também me assustava: parecia exigir uma dedicação total, o que não combinava com meu perfil sistemático e metódico. Acabei me apaixonando pela psicologia durante esse processo.”

Primeiros passos no Pequeno Príncipe

“Durante a faculdade de Psicologia, na PUCPR, escolhi um estágio no Hospital Pequeno Príncipe, sob supervisão da Tatiana Forte. Nem sabia direito como seria a psicologia hospitalar, mas confiava na supervisora e decidi aprender com ela. O estágio foi valioso e me saí bem: ganhei o Prêmio Marcelino Champagnat no final do curso. No último estágio, a Tatiana me contratou. Foi um marco na minha carreira. Afinal, em 1991 comecei a trabalhar na instituição e já se foram 35 anos. A Tatiana foi fundamental na minha trajetória, me deu uma oportunidade desde o começo, e sou muito grata a ela por isso.”

A magia do trabalho em equipe

“Quando cheguei, me impressionou a integração entre profissionais: médicos, enfermeiros, assistentes sociais, fisioterapeutas, todos trabalhando juntos pelo paciente e pela família. A psicologia hospitalar exigia essa abordagem integrada, e eu me senti muito à vontade. A infância me fascina. Observar um bebê recém-nascido e perceber seu desenvolvimento em um ano é incrível. É ali, na primeira infância, que o sujeito se constitui. A adolescência muitas vezes resgata o que não foi constituído na infância. Na psicologia hospitalar, observo o impacto do adoecimento e da hospitalização no desenvolvimento psíquico da criança. Minha função é intervir quando possível, amenizando o sofrimento e favorecendo processos saudáveis de constituição psíquica, além de manter os laços com a família e a equipe.”

Expansão de áreas e desafios

“Entrei na nefrologia, depois comecei a atender pacientes da ortopedia, inicialmente de forma esporádica. Com o tempo, fui me envolvendo mais, criando um saber-fazer específico. Na ortopedia, aprendi com os médicos, que têm uma visão de reabilitação: mesmo crianças com paralisia cerebral grave recebem cuidados para facilitar a vida diária. Fui me envolvendo organicamente com a equipe, criando vínculo e me identificando com o estilo de trabalho. Com o tempo, assumi também a clínica médica e a pediatria 1 e 2. Além disso, assumi o ambulatório de mielomeningocele e, mais tarde, o implante coclear, pois para credenciar o centro o Ministério da Saúde exigia otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, assistente social e psicólogo.”

Família Participante: uma iniciativa pioneira

“No começo, não havia o programa Família Participante, só visitas. Junto com a Tatiana e a Dolores, eu e mais um grupo pequeno idealizamos e batizamos o programa. Fazíamos tudo manualmente, registrando as interações das mães com as crianças, levando materiais de um lado para o outro. Foram experiências que marcaram profundamente minha trajetória.”

Violência e atuação na ortopedia

“Na ortopedia, vivi uma experiência marcante quando o Dr. Edilson Forlin, recém-retornado dos Estados Unidos, comentou sobre como lá os profissionais já consideram a possibilidade de maus-tratos ao analisar lesões. Isso nos fez repensar nosso olhar e teve grande impacto na forma como avaliávamos alguns pacientes. Comecei a atuar com crianças suspeitas de maus-tratos físicos por volta de 1992/1993, em um contexto em que praticamente não existiam outros serviços dedicados. Por conta desse trabalho, participamos da formação da rede de proteção, que começou a se consolidar por volta de 2002, e o Hospital teve papel fundamental nesse processo. Em 2006, foi criado o Ambulatório Proteger para o atendimento ambulatorial, enquanto eu permaneci nos casos internados até 2021. Essa experiência me permitiu perceber que o trabalho vai além da clínica: envolve gestão, organização, escrita de protocolos e sistematização do atendimento.”

Crescimento da equipe e coordenação da Psicologia

“Quando entrei no Hospital, éramos cerca de quatro ou cinco psicólogos, e aos poucos o número foi aumentando. Em 2007, assumi a coordenação do Serviço de Psicologia, o que me permitiu ver a instituição de uma forma mais ampla e amadurecer como profissional. Com a criação da Faculdades Pequeno Príncipe, passamos a receber acadêmicos e pós-graduandos, além de ministrar cursos nas férias.  Aprendi muito com as pessoas que orientei, porque ensinar é também uma forma de aprender. Durante minha trajetória, participei de várias comissões e também desenvolvi grupos operativos para residentes R1 e R2, trabalhando aspectos emocionais e psicológicos, essenciais devido à carga emocional da medicina.”

Compromisso com áreas de referência

“Continuo atendendo na ortopedia porque acredito na importância do vínculo que construí com a equipe. Eles me têm como referência e sabem que podem contar comigo. Esse trabalho é longevo, assim como minha atuação na otorrinolaringologia e no implante coclear, áreas em que continuo sendo a psicóloga responsável desde 2010. É uma atuação que envolve pacientes auditivos e outros encaminhamentos da otorrinolaringologia, consolidando um trabalho de referência dentro do Hospital.”

Histórias que marcam

“Ao longo dos anos, encontrei muitas histórias que me impactaram. Organizando papéis e fotos antigas, me deparei com lembranças de pacientes que acompanhei por longos períodos. Um caso recente foi com uma adolescente que precisava de cirurgia da coluna. A família cuidava dela como se fosse ainda criança, tinha uma proteção intensa, o que gerava dependência e insegurança. Com o tempo, a menina cresceu, foi morar sozinha em Curitiba, começou a faculdade e voltou para me visitar. Foi emocionante ver que o cuidado que oferecemos durante a cirurgia e hospitalização ajudou a mobilizar sua segurança interna. Ela conseguiu desenvolver autonomia e seguir sua vida com confiança. São lembranças que não se medem, mas que revelam o poder do acolhimento, da presença e da intervenção cuidadosa no desenvolvimento emocional de uma criança ou adolescente.”

Hospital que cresce junto

“Ao longo dos anos, percebi uma evolução em tudo. Quando cheguei, a estrutura física era semelhante, mas não igual. Com o tempo, o Hospital cresceu fisicamente, expandiu leitos e passou a atender mais pacientes, o que naturalmente exigiu mais profissionais. O Serviço de Psicologia também evoluiu consideravelmente. Hoje, somos reconhecidos como um serviço de excelência. Na psicologia hospitalar, o atendimento não é feito em série. Cada paciente exige atenção individual, cuidado personalizado. Por isso, buscamos equilíbrio: hoje temos um número adequado de psicólogos para oferecer um serviço completo, eficiente e humano. A evolução que percebo não é apenas física ou tecnológica, é no atendimento, na articulação de equipe, na valorização do paciente e da família, e na consolidação de um serviço que respeita a subjetividade de cada criança e adolescente.”

Valorização da psicologia

“O que mais gosto na minha profissão é a parte clínica: o atendimento aos pacientes, o contato com familiares e as discussões com a equipe. A psicologia hospitalar, especialmente aqui, me proporcionou vivenciar experiências muito diferentes e enriquecedoras. É tanta coisa que vivenciei nesses 35 anos… são muitas histórias. E eu penso que isso é a riqueza da psicologia hospitalar: o serviço auxilia no diagnóstico e tratamento, mas também constrói laços com outras especialidades. Participamos da humanização, do serviço social, da fisioterapia, do Comitê de Ética e Pesquisa. Sempre buscamos estar presentes, ouvindo e colaborando. O Hospital nos dá possibilidades únicas. O olhar da gestão valoriza a psicologia: no centro de ensino, no voluntariado, no RH, vemos psicólogos atuando e contribuindo. Essa valorização nos motiva a fazer jus ao reconhecimento e ao espaço que nos é dado.”

Para além do Hospital

“Gosto de atividades que tragam movimento e alegria. Atendo na clínica, faço atividade física como musculação, corrida, pilates, luta e dança. Sou agitada e gosto de desafios. Não consigo com monotonia, prefiro ‘um friozinho na barriga’. Adoro viajar e estar com a família. Minha família preza por vínculos fortes, e sempre nos encontramos, viajamos juntos, cultivamos essa conexão, que considero muito valiosa.”

“O Hospital tem 105 anos, e eu estou aqui há 35 — um terço da sua história. Tive a oportunidade de acompanhar mudanças, crescimento, conquistas e participar de programas que se tornaram referência. Sinto gratidão por ter vivido tudo isso, construído laços e aprendido tanto junto com a instituição.”

Um terço da história do Hospital

“O Hospital representa uma parte muito significativa da minha história. Grande parte do que conquistei profissionalmente foi possível porque tive oportunidades e pessoas que acreditaram em mim, como a Tatiana, que fez essa aposta inicial. As interações que estabeleci, os laços que criei e meu próprio trabalho configuram quem eu sou. A instituição também me ensinou lições de vida: sobre o que valorizo, sobre o que importa na vida. Houve muitas pessoas importantes que me apoiaram ao longo da trajetória. Cada um deles contribuiu para que eu pudesse galgar espaços e desenvolver meu trabalho com dedicação e segurança. O Hospital tem 105 anos, e eu estou aqui há 35 — um terço da sua história. Tive a oportunidade de acompanhar mudanças, crescimento, conquistas e participar de programas que se tornaram referência. Sinto gratidão por ter vivido tudo isso, construído laços e aprendido tanto junto com esta instituição.”

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