“O ano de 2020 foi um dos mais desafiadores da nossa centenária história. Enfrentar a pandemia exigiu planejamento, maturidade profissional e resiliência.”
COMPLEXO PEQUENO PRÍNCIPE
A importância (e a urgência) de um olhar abrangente
Poucas reuniões anuais da Organização Mundial da Saúde (OMS) foram tão importantes quanto a de 2020, realizada em plena pandemia. Muitas das análises apresentadas na ocasião – parte delas reunida no relatório “Saúde: uma escolha política – Agir agora, juntos” – concluíram que a COVID-19 evidenciou a importância de encarar a saúde de modo multissetorial.
É exatamente assim que pensa e atua o Complexo Pequeno Príncipe. Há 101 anos, logo depois de outra pandemia que matou milhões de pessoas no Brasil, a da gripe espanhola, a instituição nasceu com uma missão multidirecional: proteger a criança e o adolescente por meio da assistência, do ensino, da pesquisa em saúde e da mobilização social, fortalecendo o núcleo familiar. Hoje, esses vetores se traduzem num tripé: o Hospital Pequeno Príncipe, o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe e a Faculdades Pequeno Príncipe.
Tal configuração favorece que o Complexo mantenha olhos voltados tanto para o agora quanto para o futuro, como recomenda o relatório da OMS. E poucas vezes isso se mostrou tão crucial quanto em 2020. Iniciativas de longo prazo (como apostas em startup e inauguração do Escritório de Inovação) cruzaram-se com exigências de curtíssimo prazo para lidar com a gravidade da COVID-19.
São muitas as lições a serem tiradas deste período. A principal, talvez, seja aquela sugerida no título do relatório da OMS: é preciso fazer as escolhas certas e agir conjuntamente – o que, no caso do Complexo, significa apoiar e buscar apoio na sociedade e no setor público para garantir a plenitude da saúde, dos direitos e da vida de crianças e adolescentes.
O Complexo em tempos de COVID-19
No início da pandemia, a perspectiva era a de que, após dois anos com as contas positivas, o Complexo teria grandes perdas em 2020, na previsão do Conselho Superior. O resultado, porém, surpreendeu. O Hospital de fato registrou déficit, mas o Complexo fechou no azul.
Por que a previsão era sombria?
Temia-se uma queda acentuada no número de procedimentos eletivos, o que se confirmou: o total de atendimentos ambulatoriais caiu 44%; o de cirurgias, 40%; e o de internações, 43%. As receitas de convênios tiveram um recuo de cerca de 20%, e a receita geral encolheu 6%.
Como, então, o Complexo conseguiu um resultado positivo?
Cinco motivos podem ser destacados:
1. Manutenção dos procedimentos de alta complexidade: os mais bem remunerados, como os transplantes, ficaram em patamares parecidos com os de anos anteriores;
2. Nova política de pagamentos do Sistema Único de Saúde (SUS): foi uma medida emergencial do governo, que usou como parâmetro a média de custos de 2019. As despesas operacionais não diminuíram na mesma proporção que o número de procedimentos, mas a decisão ajudou a melhorar o resultado;
3. Certeza, muito cedo, de que a epidemia seria grave: várias instâncias do Complexo mantêm contato próximo com instituições de saúde do exterior e receberam informações precisas sobre o que acontecia nos países que sofreram primeiro os efeitos da COVID-19. Assim, no início de 2020 o Complexo já se preparava para uma crise sanitária de proporções históricas. Em fevereiro, semanas antes de o Brasil declarar estado de emergência, comprou um volume muito maior que o usual de equipamentos de proteção individual (EPIs) e material para assepsia. Em junho, ampliou os estoques de agulhas e seringas, muito antes da explosão da demanda e consequente disparada dos preços provocada pelo preparo para a vacinação em nível mundial. Em nenhum momento faltaram máscaras, luvas, álcool em gel nem qualquer outro material ou medicamento;
4. Campanha de captação: foi lançada uma estratégia para arrecadar recursos extras para o enfrentamento da COVID-19. A iniciativa conseguiu levantar cerca de R$ 10 milhões, essenciais para aliviar as perdas financeiras;
5. Monitoramento contínuo: o Observatório COVID-19 do Pequeno Príncipe concentra todas as informações do Hospital relacionadas ao combate à pandemia, permitindo prever cenários e gerando um repositório de informações relevantes inclusive em 2021.
Olhando para o futuro
Escritório de Inovação
Concebido com apoio do físico-químico Sérgio Mascarenhas, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e do Grupo de Negócios Tecnológicos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Escritório de Inovação foi lançado pelo Pequeno Príncipe com a missão de ser um catalisador de ideias inovadoras em todas as unidades do Complexo. É o reconhecimento institucional da necessidade de buscar o que há de melhor para o tratamento pediátrico.
Seu primeiro grande projeto é a validação, para uso pediátrico, do Brain4Care, equipamento que mede pressão intracraniana sem recorrer a procedimentos invasivos. É a primeira vez no mundo que o equipamento é utilizado em bebês, crianças e jovens.
Aposta na telemedicina – ampliação e melhoria do acesso à saúde
A parceria firmada entre o Hospital Pequeno Príncipe, Sabará Hospital Infantil e Instituto Pensi (Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil) nasce para fortalecer a pediatria e se inicia com a aceleração da startup Tuinda. Sua primeira solução tecnológica se encaixa com perfeição às necessidades decorrentes da pandemia. Trata-se do TytoCare, plataforma e dispositivo que transmite dados precisos de saúde, desenvolvido em Israel e já em uso no exterior.
No Hospital Pequeno Príncipe e no Instituto Pensi, estão sendo desenvolvidas pesquisas clínicas para validar o dispositivo, que deverá ser disponibilizado ao público, para uso doméstico e profissional, ao longo de 2021, após a conclusão dos estudos.
A medicina a distância muitas vezes utiliza plataformas vulneráveis, que não oferecem segurança de dados aos pacientes ou não possibilitam troca precisa de informações, como os aplicativos de conversa e as ligações telefônicas. O TytoCare torna os diagnósticos a distância mais assertivos e seguros. Qualquer pessoa pode operar o aparelho, que é capaz de aferir a temperatura; monitorar a frequência cardíaca; recolher imagens em alta definição da garganta e do ouvido; e captar sons do abdômen. Os dados são então enviados ao médico, que faz o diagnóstico com imagens do exame físico e informações confiáveis.
Parcerias multiplicadoras
O Inter Americano, tradicional curso de inglês de Curitiba, e muito atuante na divulgação da cultura americana no Paraná, decidiu encerrar seu ensino tradicional de inglês na cidade. A associação sem fins lucrativos procurou o Pequeno Príncipe para repassar seu patrimônio e seu legado. Essa transferência dá e amplia ao patrimônio do Inter a continuidade de sua finalidade social, agora com projetos voltados a saúde, educação e pesquisa. As três sedes do Inter serão reestruturadas, e seus espaços oferecerão acolhida para atividades de apoio a essas dimensões, permitindo também que o Hospital amplie as atividades de assistência na sua sede principal.
Compromisso com a sustentabilidade
Ações locais, compromisso global
Os ícones acima representam alguns dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – uma série de metas sociais, econômicas e ambientais que os países da ONU se comprometeram a atingir até 2030. Os símbolos estão presentes ao longo deste relatório, assinalando o comprometimento do Complexo Pequeno Príncipe com esse instrumento de mobilização global.
O comprometimento faz parte da adesão do Complexo, em 2019, ao Pacto Global, uma iniciativa das Nações Unidas em que empresas e instituições se engajam em torno de dez princípios ligados a direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. Os participantes obrigam-se a cumprir os dez princípios e a seguir a Agenda 2030 da ONU – a plataforma em que se baseiam os ODS.
Geração de resíduos e consumo
O ano de 2020 foi atípico também do ponto de vista ambiental. O número de atendimentos no Hospital caiu cerca de 40%, mas a geração de resíduos e o consumo de água e energia não recuaram na mesma proporção. Interaja com o menu próximo do gráfico para saber os detalhes.
O Projeto Energia Solar: Prática Sustentável instalou um sistema fotovoltaico no jardim do antigo prédio do Hospital de Crianças César Pernetta. Assim, foi possível dar acesso a energia elétrica para os pacientes e acompanhantes que esperam no pátio externo do Hospital, bem como realizar um trabalho de educação ambiental. A geração mensal é de aproximadamente 450 kWh por mês.
O recuo no consumo foi influenciado por dois principais fatores: a redução no número de atendimentos e a falta de água na região de Curitiba, que obrigou todo o município a passar por rodízio. A gestão ambiental do Hospital fez campanhas de conscientização com dicas para diminuir o uso interno. Em razão das ações de combate à COVID-19, a quantidade de roupas lavadas no Hospital em 2020 foi superior à dos anos anteriores.
A produção maior de resíduos foi influenciada pela intensificação das ações de higienização, mas também por uma pausa na compostagem (ver o item Resíduo compostado).
O aumento de 16,6% deve-se à adoção mais frequente de práticas de higienização, em razão da pandemia. Um exemplo é o maior descarte de embalagens de álcool e outros saneantes, classificados como resíduos químicos.
A compostagem foi suspensa durante parte do ano, em razão de ajustes na metodologia de tratamento do resíduo e dificuldades decorrentes da pandemia. Um dos projetos dessa área fez o Hospital Pequeno Príncipe ganhar, pela segunda vez, o Prêmio Amigo do Meio Ambiente, iniciativa por meio da qual a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo reconhece ações ambientalmente sustentáveis de organizações integradas ao SUS. O projeto premiado foi o Compostar, em que o Pequeno Príncipe produz chá orgânico. As plantas (como capim-limão, erva-cidreira, hortelã e camomila) são adubadas com compostagem de resíduos gerados no refeitório do próprio Hospital. A produção é destinada ao consumo de pacientes e colaboradores.
Programa Carbono Neutro
O Programa Carbono Neutro visa reduzir e compensar a geração de gases de efeito estufa pelo Complexo Pequeno Príncipe. O primeiro passo foi elaborar o inventário de gases de efeito estufa da organização. Realizado em 2017 e revisado em 2020, ele mostra uma emissão total de 2.955,98 toneladas de CO2 pelo Hospital.
Agora, estão sendo estudadas iniciativas para, de um lado, cortar emissões (a partir da melhoria da matriz energética e da redução no uso de gases anestésicos) e, de outro, compensá-las junto a possíveis parceiros.