Pequeno Príncipe qualifica atendimento de crianças em UPAs e UBSs

Curitiba, Paranaguá e Iguape já contam com o conhecimento dos pediatras do Hospital para oferecer atendimentos mais resolutivos

O atendimento de crianças e adolescentes nas unidades básicas de saúde (UBSs, também chamadas de postos de saúde) e nas unidades de pronto atendimento (UPAs), mantidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em cidades de todo o Brasil, nem sempre é realizado por pediatras. Esses pontos de atendimento são classificados como atenção primária dentro da estrutura do SUS, e não há exigência de oferta de um profissional especializado. Na grande maioria dessas unidades, o atendimento é feito por médicos generalistas ou outros profissionais da saúde, como enfermeiros, que prestam o primeiro atendimento e indicam o tratamento, ou encaminham os pacientes para especialistas, ou ainda, em casos mais graves, encaminham os pacientes para unidades de média e alta complexidade, como o Hospital Pequeno Príncipe.

A ausência de um pediatra já no primeiro atendimento muitas vezes atrasa o diagnóstico e/ou o início de um tratamento eficaz. No Pequeno Príncipe, é comum chegarem crianças com quadros agravados, que relatam ter passado por várias consultas nos postos de saúde de suas cidades sem que o atendimento recebido fosse resolutivo, especialmente em crianças com queixas crônicas. Para contribuir com a qualificação do atendimento nessas unidades que compõem a atenção primária, o Hospital Pequeno Príncipe estruturou um programa de telepediatria que já está beneficiando crianças e adolescentes em três municípios: Curitiba (PR), Paranaguá (PR) e Iguape (SP).

Modelos de atuação

O programa funciona da seguinte forma: o município que observa demanda pediátrica represada ou de mais complexidade em unidades de referência contrata a telepediatria do Pequeno Príncipe. Conforme a demanda de cada cidade, o Hospital disponibiliza pediatras que fazem o atendimento remoto dos pacientes, intermediado por profissionais de enfermagem presentes nas unidades (teleinterconsultas) ou que discutem os casos com os profissionais médicos generalistas que atuam nessas unidades (teleconsultoria). Nos dois modelos de atuação, a iniciativa já apresenta importantes resultados.

Isis Rocha Teixeira, de Paranaguá, é uma das crianças beneficiadas com o programa. Em setembro de 2022, quando estava com 6 meses de idade, sua mãe, Rosane Teixeira Rocha, notou o surgimento de pelos pubianos na bebê. A pediatra particular que acompanhava a criança orientou a família a procurar um endocrinologista pediátrico. Como as unidades de saúde da cidade não dispõem do especialista, a mãe recorreu à única unidade do SUS na cidade que oferecia pediatria. A médica solicitou exames de imagem e laboratoriais e, ao ver os resultados, percebeu a gravidade do quadro.

Isis foi então encaminhada para a UBS que contava com o programa de telepediatria do Pequeno Príncipe. Na consulta remota, a especialista do Hospital recomendou o internamento imediato da menina, que foi transferida para Curitiba no mesmo dia. Dois meses após a suspeita da mãe, o aprofundamento da investigação pelo Pequeno Príncipe confirmou a gravidade: era um câncer de córtex adrenal. Cinco dias depois de ser internada, Isis passou por uma cirurgia e retirou um tumor de 3,5 centímetros, considerado grande para a idade dela. A retirada do tumor foi completa, e a criança não precisou de quimioterapia, mas a paciente continua em acompanhamento no Pequeno Príncipe.

A família também passou por aconselhamento genético no Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, que desenvolve uma pesquisa relacionada a esse tipo de câncer há 17 anos. “Este é um tipo de câncer muito agressivo, com alta taxa de mortalidade em crianças. O tumor não responde bem ao tratamento quimioterápico, e a cirurgia é o tratamento que traz os melhores resultados de cura, mas precisa ser feita precocemente. Quanto menor o tumor, maiores as chances de vida do paciente”, afirma o médico e cientista Bonald Cavalcante de Figueiredo, coordenador da pesquisa.

“O atendimento pediátrico exige muito conhecimento especializado para oferecer ao paciente e à família a melhor estratégia de cuidado, tendo em vista que o paciente, pela idade, não consegue expressar o que sente e, dependendo do contexto, ocorre de o adulto que acompanha ter dificuldades de fornecer as informações. Com essa iniciativa, que disponibiliza especialistas em crianças, nós reduzimos as vulnerabilidades, democratizamos o acesso e qualificamos a assistência. O atendimento de um pediatra qualificado é um divisor de águas e pode mudar verdadeiramente a história de uma criança”, defende a médica responsável pela telepediatria no Pequeno Príncipe, Rafaela Wagner.

Paciente Isis, acompanhada dos pais

Municípios participantes

O primeiro município a fechar parceria com o Pequeno Príncipe foi Iguape (SP). Lá os atendimentos são direcionados a crianças de 0 a 18 anos com perfis de mais complexidade, com queixas crônicas, comorbidades e puericultura de alto risco. Os médicos do Pequeno Príncipe fazem consultas remotas, intermediadas por enfermeiros presentes nas unidades, utilizando o TytoCare (veja mais abaixo) e orientam o tratamento.

Em Paranaguá, no litoral do Paraná, também são realizadas teleinterconsultas intermediadas por enfermeiros com uso do TytoCare. O atendimento está disponível para crianças de todas as idades, mas o foco é a Primeira Infância (0 a 6 anos). O projeto iniciou em duas UBSs de localidades mais afastadas do município, foi ampliado para três e está em análise a proposta de inclusão de mais duas unidades no modelo.

Em Curitiba, o projeto faz parte da estratégia da Secretaria Municipal da Saúde para consolidar a teleconsultoria de especialidades on-line nas UPAs. “É a saúde 4.1 avançando cada vez mais em soluções tecnológicas que impactam no atendimento em nossos serviços. Os médicos das UPAs podem tirar dúvidas e discutir casos clínicos com especialistas, muitas vezes resolvendo a situação na própria unidade, sem a necessidade de encaminhar o paciente para internações”, explica a secretária municipal da Saúde, Beatriz Battistella.

O projeto-piloto foi implantado na UPA Tatuquara. Os médicos da unidade discutiam os casos de crianças que estavam em observação na UPA com os pediatras do Pequeno Príncipe, os quais indicavam os exames a serem solicitados e observavam a evolução do caso para definir se seria necessário o internamento ou se a criança poderia ser liberada para tratamento em casa. Ao todo 50% dos casos analisados na teleconsultoria foram resolvidos na própria UPA, sem a necessidade de encaminhar o paciente para hospitalização.

Gradualmente, o projeto foi sendo ampliado e hoje está implantado nas nove UPAs de Curitiba. Inicialmente, a parceria previa apenas a discussão dos casos entre os médicos. Com a evolução e sucesso do projeto, foi criado um sistema para atender às demandas de especialidades de forma híbrida, ampliando o número de consultorias.

Sobre o TytoCare
O TytoCare é uma tecnologia israelense que foi trazida ao Brasil pelo Pequeno Príncipe. É um pequeno aparelho portátil que possibilita ao médico verificar sinais do paciente mesmo a distância. Com o equipamento, pode-se medir a temperatura, aferir a frequência cardíaca, fazer ausculta do coração, pulmões e região abdominal, além de gerar imagens da garganta, do ouvido e da pele. O dispositivo é acompanhado de um aplicativo que orienta a pessoa que está executando o exame, bem como transmite os dados em tempo real para uma plataforma que é acessada pelos médicos do Pequeno Príncipe.

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