Crescimento dos casos de COVID-19 e alta nos preços de medicamentos marcam o primeiro semestre

Número de crianças contaminadas foi 30% superior ao total registrado em 2021; medicamentos tiveram aumento de até 120%

O primeiro semestre de 2022 impôs um cenário desafiador para os hospitais brasileiros. No Pequeno Príncipe, maior hospital exclusivamente pediátrico do Brasil, houve uma explosão no número de casos de COVID-19; as doenças sazonais também voltaram com força entre a população infantojuvenil, superlotando o Pronto-Atendimento. E para fechar a equação, os medicamentos e insumos tiveram reajustes de até 120%. “É um cenário que torna a operação extremamente desafiadora, especialmente porque estes desafios se somam aos vividos nos dois anos anteriores, provocados pela pandemia”, explica o diretor-corporativo do Complexo Pequeno Príncipe, José Álvaro da Silva Carneiro.

COVID-19
As campanhas de vacinação contra a COVID-19 para adultos avançaram no Brasil em 2021, reduzindo significativamente o número de contaminações e especialmente o de óbitos. Para as crianças, no entanto, a vacinação só começou em 17 de janeiro de 2022. E essa demora, associada ao surgimento da variante ômicron, foi o principal motivo que levou a uma explosão de casos entre as crianças no início deste ano. Considerando os atendimentos realizados no Hospital Pequeno Príncipe, o número de casos positivos no primeiro semestre de 2022 foi 30% superior ao total de casos registrados nos 12 meses de 2021. São 1.682 casos em um semestre contra 1.295 no ano anterior inteiro. O número de internados também chama a atenção: somente no primeiro semestre, 267 crianças necessitaram de internamento, 9% a mais do que nos 12 meses do ano passado.

O pico de contaminações aconteceu nos dois primeiros meses do ano, com 67% dos casos positivos. Após esse período, foi possível perceber uma redução importante nos casos, que, segundo os especialistas, foi provocada pelo avanço da vacinação entre as crianças de 5 a 11 anos. “No final do semestre pudemos ver que a maioria das crianças contaminadas estavam na faixa etária inferior a 5 anos, para a qual as vacinas ainda não estavam liberadas”, observa o médico infectologista e vice-diretor-técnico do Pequeno Príncipe, Victor Horácio de Souza Costa Junior.

Aumento no preço dos medicamentos
O primeiro semestre também foi marcado pelo aumento expressivo no preço dos medicamentos. Segundo o diretor-administrativo-financeiro do Hospital, André Teixeira, problemas na cadeia mundial de produção, provocados pela guerra na Ucrânia, pelo aumento da demanda e pela escassez de matérias-primas, levaram a indústria a aumentar os preços em até 120%. “Durante a pandemia, aumentamos os estoques para evitar desabastecimento. No decorrer do ano passado, conseguimos normalizar nossos estoques para melhorar o fluxo de caixa. Mas neste momento, diante da crise mundial no setor, estamos tendo que aumentar os estoques novamente, para evitar a falta dos produtos”, destaca.

Entre os insumos e medicamentos que tiveram seus preços afetados estão soros, anestésicos, imunoglobulinas, antifúngicos, contrastes, cateteres e outros. “São medicamentos e insumos básicos, utilizados em grande escala no dia a dia de um hospital do nosso porte”, complementa.

O diretor informa ainda que, embora o número de colaboradores infectados com o coronavírus tenha diminuído, os afastamentos estão ocorrendo, somando-se a esse quadro os casos de saúde mental, o que gera a necessidade de contratações adicionais e aumenta os custos da folha de pagamento. Somente no primeiro semestre, o total de afastamentos entre os colaboradores por COVID-19 foi equivalente a 7.849 dias.

“Hoje o nosso faturamento está similar ao de 2019, mas deveria estar cerca de 30% superior para fazermos frente ao aumento nos custos e a inflação no período”, ressalta.

Apoio imprescindível
A diretora-executiva do Hospital Pequeno Príncipe, Ety Cristina Forte Carneiro, reforça a importância do apoio continuado de empresas e cidadãos para enfrentar esse cenário desafiador. “É por meio do apoio continuado que conseguimos fazer investimentos e promover avanços consistentes nos nossos indicadores, dando contribuições significativas para a meta global de redução da mortalidade infantil, que é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Hoje temos programas de apoio que registram taxas de reinvestimento superiores a 70%. Há empresas que estão conosco há mais de dez anos”, salienta. “Juntos, conseguiremos superar mais esse momento desafiador na nossa centenária história, para continuar oferecendo saúde e direitos aos nossos meninos e meninas.”

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