Cientistas estão desenvolvendo gel bucal para tratar mucosites

Principal reação adversa da quimioterapia, a mucosite oral causa intensa dor e pode ser porta de entrada para outras infecções

Um projeto desenvolvido por cientistas do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e com a Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar) está desenvolvendo um gel bucal à base de uma planta para tratar a mucosite oral, principal efeito adverso do tratamento quimioterápico antineoplásico. “A mucosite forma grandes feridas na boca, provocando intensa dor. Essas feridas podem facilitar a entrada de microrganismos patogênicos e o desenvolvimento de infecções secundárias no organismo dos pacientes, que normalmente já se encontram debilitados pelo tratamento quimioterápico”, esclarece a pesquisadora Daniele Maria Ferreira.

A matéria-prima utilizada para a produção do gel é o ganoderma, um cogumelo medicinal originário da China, que por lá é utilizado para tratar diversas doenças, inclusive o câncer. “Do ganoderma extraímos um composto chamado betaglucana, que tem ação anti-inflamatória, antioxidante e que ativa o sistema imunológico. Com estas características, a betaglucana contribui no processo de cicatrização das feridas”, explica a pesquisadora Fhernanda Ribeiro Smiderle.

Segundo ela, esse cogumelo produz uma quantidade tão grande de betaglucana que se transforma em gel. Depois de preparar o gel, serão feitos testes em células para avaliar qual a melhor concentração do produto para promover a regeneração celular. E é nesse ponto da pesquisa que entra a colaboração da Universidade Federal do Delta do Parnaíba. “Eles vão trabalhar colocando esse composto em uma base em gel para ajustar a concentração do princípio ativo e permitir melhor aderência do produto na boca do paciente”, frisa Fhernanda.

O cientista e dentista Cleber Machado de Souza, que também integra a pesquisa, menciona que atualmente os pacientes com mucosite encontram melhora com um tratamento envolvendo a aplicação de laser. Porém esse tratamento depende da presença de um profissional qualificado e do deslocamento até um consultório odontológico. “Com o gel que estamos desenvolvendo, o paciente poderá fazer a aplicação em casa, aumentando o acesso a um tratamento efetivo e proporcionando mais conforto aos pacientes”, avalia. Cleber lembra também que nem todos os hospitais que ofertam tratamento quimioterápico contam com um consultório odontológico para apoiar os pacientes, agravando ainda mais o problema.

A cientista Daniele realça que as pesquisas com o ganoderma em gel abrem portas para outros tipos de produtos, como solução oral ou até mesmo apresentações inovadoras como sorvetes ou balas à base de gelatina, que são mais bem aceitos por crianças. A previsão é de que os testes sejam concluídos até o final de 2024.

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