Desenvolvidos em parceria com universidades, os curativos bioativos podem ser aplicados em diferentes situações clínicas, desde queimaduras até infartos do miocárdio
Uma série de estudos coordenados pela pesquisadora doutora Katherine Athayde Teixeira de Carvalho, do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, está desenvolvendo diferentes tipos de curativos bioativos. Os curativos bioativos são aqueles que têm propriedades biológicas e terapêuticas, veiculando células, outros produtos celulares ou fármacos.
O primeiro estudo dessa linha foi realizado em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e buscou desenvolver um curativo que auxilie na recuperação de queimados. “Para melhorar a qualidade da cicatrização em queimaduras profundas de segundo grau, desenvolvemos um novo tratamento em modelo pré-clínico, usando membranas nanoestruturadas à base de celulose contendo fármacos antifúngicos e antimicrobianos, semeadas com células-tronco mesenquimais”, esclarece.
Nos testes feitos com ratos, o curativo promoveu uma redução de 40% a 60% nas inflamações agudas e uma diminuição de 96% na área lesionada, aumentando a proliferação e deposição de colágeno. Após 30 dias, a área lesionada apresentou recuperação completa.
Em um segundo estudo, os cientistas desenvolveram um curativo bioativo com células dopaminérgicas capazes de produzir a dopamina. Os pacientes com doença de Parkinson apresentam redução desse neurotransmissor, e é essa redução que é responsável pelos sintomas motores e não motores provocados pela doença.
Em outra pesquisa, que contou com a parceria da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), os pesquisadores investigaram a ação dos curativos bioativos de celulose, semeados com células-tronco no tratamento pós-infarto do miocárdio. Os testes envolveram 45 ratos que tiveram um infarto induzido. Por meio de uma cirurgia minimamente invasiva, as membranas foram aplicadas no coração infartado dos ratos. Após uma semana, os animais passaram por ecocardiograma para avaliar o resultado da aplicação dos curativos, e o que se observou foi que a membrana aplicada conteve a dilatação do coração, uma condição comum e grave que acontece após o infarto. “O nosso curativo manteve o coração na sua forma elíptica, proporcionando uma importante ação antirremodelagem negativa”, salienta a pesquisadora.
A cientista ressalta ainda que as células-tronco utilizadas são as mesenquimais, de origem de cordões umbilicais e tecido adiposo, que não causam qualquer rejeição. Esses tecidos, assim como a placenta humana, são normalmente descartados, compondo o lixo hospitalar.
Há ainda estudos que envolvem o desenvolvimento de curativos bioativos a partir da membrana amniótica de placenta. Nesse caso, as células originais são retiradas da membrana, e esta é semeada com células-tronco do tecido adiposo para regenerar o tecido ósseo.
As pesquisas foram publicadas em importantes revistas científicas, como a Cells, o International Journal of Nanomedicine, a Membranes e a Tissue Calcification (Springer-Nature).
De acordo com a pesquisadora, um dos próximos passos da pesquisa será buscar as patentes dos processos utilizados para desenvolver os curativos, com o objetivo de, futuramente, produzir e comercializar as membranas como produtos e bioprocessos, contribuindo para o desenvolvimento de tratamentos mais eficientes em diferentes situações clínicas. Além disso, “com a introdução da tecnologia 3D no Instituto de Pesquisa, por meio de bioimpressoras, novos curativos bioativos estão sendo prospectados”, revela.
Todos os projetos desenvolvidos pela equipe foram aprovados na Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (CEP) e Comitê de Experimentação e Uso de Animais (CEUA).
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