Pesquisa define protocolo para o diagnóstico precoce do câncer de córtex adrenal

Estudo também mostra a relação entre aspectos ambientais e a incidência desse tipo de câncer nas regiões Sul e Sudeste do Brasil

Uma das primeiras pesquisas desenvolvidas no Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe é a que estuda a relação entre a mutação do gene TP53 e o câncer, sobretudo o de córtex adrenal. O Paraná é o estado que apresenta a maior incidência mundial desse tipo de câncer, fato que despertou a curiosidade dos pesquisadores.

Desenvolvida em várias etapas, a pesquisa de base populacional foi iniciada em 2005, e a cada nova fase o grupo de pesquisadores avança no entendimento dessa mutação associada a outras variantes genéticas e epigenéticas. Em artigo publicado no Cancers Journal no último mês de novembro (CANCERS, Costa e colaboradores, 2019 – clique aqui), os pesquisadores demonstram a eficiência de um protocolo mais simples e mais barato de acompanhamento das crianças que apresentam a mutação.

Na primeira etapa da pesquisa, em 2005, o protocolo estabelecia que as crianças com mutação passassem por exames periódicos de imagem e de sangue para identificar precocemente o câncer de córtex adrenal, caso ele se manifestasse, ou ainda outros tipos de câncer, bem menos frequentes, associados à mutação. “Com isso, nós fizemos diagnósticos pré-clínicos e encontramos tumores com menos de um centímetro”, conta o pesquisador que lidera o estudo, Bonald Cavalcante de Figueiredo.

O novo protocolo estabelece que as famílias dos meninos e meninas que apesentam a mutação passem por três sessões de treinamento, depois do aconselhamento genético, para que sejam capazes de identificar precocemente o surgimento dos primeiros sinais do câncer. “Com esse protocolo, reduzimos a exposição das crianças aos exames e passamos a identificar tumores com cerca de dois centímetros. Com esse tamanho também é possível curar a criança por meio da cirurgia”, explica o cientista.

Sul e Sudeste do Brasil 

O artigo foi elaborado a partir de dados coletados em cerca de 100 mil exames de DNA feitos em recém-nascidos no Paraná, Santa Catarina e região metropolitana de Campinas (São Paulo). Desde o início da pesquisa, foram realizados cerca de 350 mil testes, incluindo 50 mil no Paraguai.

A pesquisa também identificou que a mutação do gene TP53 estava presente em mais de 80% dos casos de câncer de córtex adrenal nas três populações pesquisadas (Paraná, Santa Catarina e região metropolitana de Campinas). “Isso significa que há frequências parecidas nas regiões próximas, que abrangem municípios do Sul do Rio de Janeiro, Sul de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e parte do Mato Grosso do Sul”, detalha Figueiredo.

“O fato de não ser um problema de saúde específico de um estado nos dá força para pensar em uma política pública de saúde ampliada para as regiões Sul e Sudeste do Brasil”, defende o cientista.

Outra descoberta relatada no artigo refere-se às interferências ambientais na genética, favorecendo o aparecimento do câncer. A pesquisa descobriu que nas áreas onde foram identificadas maiores concentrações do pesticida DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) há menor incidência do câncer de córtex adrenal, já que se assemelha (~98%) a um dos medicamentos usados no combate ao câncer de córtex adrenal, o mitotano (Ibañez e colaboradores, 2019). Porém, nessas mesmas regiões, há aumento dos casos de câncer de mama entre os portadores da mutação. Da mesma forma, o câncer de mama aumenta em regiões mais industrializadas, onde vivem os portadores dessa mutação.

Vidas salvas

A detecção precoce do câncer de córtex adrenal é fundamental para salvar a vida das crianças acometidas pela doença. Isso porque esse tipo de câncer não responde bem ao tratamento quimioterápico em estágios avançados. Com a descoberta precoce, o tumor é retirado cirurgicamente, possibilitando a cura. 

Desde o início da pesquisa até hoje, todas as crianças que aderiram ao acompanhamento foram diagnosticadas precocemente, fizeram a retirada cirúrgica e foram curadas, podendo ter melhor qualidade de vida, bem como crescer e se desenvolver plenamente.

Incidência

Por ano, nascem no Paraná cerca de 155 mil crianças. Desse total, 14 irão desenvolver o câncer de córtex adrenal até completar 12 anos. Como analogia, desse total nascem também por ano cerca de nove crianças com fenilcetonúria e 12 com fibrose cística, duas doenças pesquisadas no teste obrigatório do pezinho. 

Veja mais

Hospital Pequeno Príncipe: em 100 anos, uma revolução no cuidado à saúde de crianças e adolescentes

Da redução da mortalidade infantil à construção de um modelo de atendimento baseado em direitos, instituição inova para apoiar e proteger a infância


Gala Pequeno Príncipe reúne apoiadores em Nova York

Edição de 2019 arrecadou mais de US$ 1,1 milhão, que serão investidos na aquisição de medicamentos de alto custo e em projetos de pesquisa


“Sou grata ao Pequeno Príncipe por ter me ensinado o que é empatia”

Thaís Toledo, de 22 anos, relembra o longo tratamento feito no Hospital, bem como as amizades e os ensinamentos que surgiram dessa experiência


Outras edições



©2024 . Complexo Pequeno Príncipe . Todos os direitos reservados