Em meio à pandemia, Pequeno Príncipe capacita hospitais brasileiros para o uso racional de antibióticos

Entre as instituições beneficiadas com o projeto está o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), o maior hospital da América Latina

Um projeto do Hospital Pequeno Príncipe está levando a outras quatro instituições de saúde brasileiras (veja no box) seu modelo de controle de antimicrobianos. Estudo realizado em 2014 pelo macroeconomista inglês Jim O’Neill, encomendado pelo primeiro ministro da Inglaterra, estima que, se nada for feito para frear a resistência aos antibióticos, no ano de 2050, aproximadamente 10 milhões de pessoas irão morrer por questões atribuídas à resistência aos antimicrobianos. Além da perda de vidas, a economia também sofrerá com uma redução no PIB mundial entre 2% e 3,5% em relação ao que seria observado nesse mesmo ano.

A resistência aos antimicrobianos ocorre por vários fatores, como o uso excessivo dos medicamentos, prescrições equivocadas, doses inadequadas, uso dos antibióticos fora da área de saúde, poucas ações de controle, entre outras. “Nós corremos o risco de perder o efeito de um grande aliado na promoção da saúde, que são os antibióticos”, alerta o médico pediatra coordenador do projeto, Fábio Motta.  A expectativa de estudiosos desse assunto é que este cenário possa vir a se agravar com a atual pandemia do coronavírus (COVID-19). 

O modelo desenvolvido pelo Pequeno Príncipe, mais conhecido como Stewardship de Antimicrobianos, concentra diversas ações desse gerenciamento na figura do farmacêutico clínico. Atualmente, em grande parte dos hospitais, esse controle fica sob a responsabilidade do médico. Porém, na maioria dos cenários de saúde, o médico não consegue o tempo suficiente para se dedicar a esse processo, não dando conta de toda a demanda existente por trás do gerenciamento de antimicrobianos. 

Considerando todas as novas demandas geradas nos hospitais para a maioria dos infectologistas devido à pandemia, atender ao apelo para controle e gerenciamento dos antimicrobianos ficou ainda mais desafiador. A ideia central desse projeto é desenvolver a expertise do farmacêutico clínico para auxiliar o médico no controle desses medicamentos, transformando o profissional farmacêutico no seu principal aliado no combate à resistência a esses fármacos. O farmacêutico clínico, nesse modelo de atuação, é responsável por toda a articulação com os demais integrantes da equipe de assistência, como o médico infectologista, o microbiologista e a equipe de enfermagem.

Com a presença de um farmacêutico clínico especializado em abordagem de doenças infecciosas, todo o processo de controle de antimicrobianos ganha robustez e o médico infectologista, responsável pelo programa, ganha um grande aliado e gerenciador que ficará responsável pela coleta, organização e análise dos dados gerenciados, mudando assim a perspectiva do controle de antimicrobianos nas instituições envolvidas no projeto.

“Por meio desta iniciativa, o Pequeno Príncipe oferece para a comunidade da saúde a sua experiência de mais de dez anos em controle de antimicrobianos. Nosso modelo encontra-se maduro o bastante para ser compartilhado com parceiros que enfrentam este grande desafio de combate ao avanço da resistência aos antimicrobianos”, explica Motta.

A diretora executiva do Pequeno Príncipe, Ety Cristina Forte Carneiro, ressalta que um dos princípios da instituição é a disseminação do conhecimento. “Este projeto é um exemplo de como a integração entre a assistência, o ensino e a pesquisa geram conhecimento capaz de impactar diretamente na sociedade e de contribuir para modelos de gestão mais sustentáveis e responsáveis com o futuro da saúde”, afirma.

Resultados
Um dos principais resultados deste modelo de gerenciamento no Pequeno Príncipe foi a redução de dias de uso de antibióticos. Em 2019, por exemplo, houve uma diminuição de 690 dias de uso do antibiótico vancomicina na UTI Neonatal. O medicamento meropenem teve uma redução de 452 dias de uso na mesma Unidade de Terapia Intensiva.

No ano, os farmacêuticos clínicos fizeram cerca de 4 mil intervenções nos atendimentos e, destas, 63% delas estavam relacionadas à farmacoterapia, como a adequação e o acerto de dosagem, os exames laboratoriais e o uso desnecessário do medicamento.

Conhecimento compartilhado
Os hospitais que participam do projeto são:
– Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (São Paulo/SP)
– Hospital Universitário de Sergipe (Aracaju/SE)
– Hospital Ministro Costa Cavalcanti (Foz do Iguaçu/PR)
– Hospital do Trabalhador (Curitiba/PR)

A cooperação do Hospital Pequeno Príncipe com os quatro hospitais que integram o projeto teve início no último mês de fevereiro e se estenderá até fevereiro de 2021. A iniciativa conta com subsídio financeiro da companhia farmacêutica Pfizer, por meio de uma linha que apoia projetos independentes de melhoria de qualidade hospitalar.

Durante o período de duração do projeto, o Pequeno Príncipe capacitará dois farmacêuticos clínicos de cada um dos hospitais e fará o acompanhamento semanal das ações. A capacitação dos profissionais começou em março de 2020, quando os farmacêuticos tiveram a oportunidade de participar de uma imersão de três dias no maior hospital pediátrico do Brasil.  

Entre as atividades que já estão sendo realizadas, estão a elaboração de protocolos, o acompanhamento por videoconferência da implantação das ações baseadas no modelo do Hospital, reuniões científicas semanais para discussão dos casos clínicos, seleção e alinhamento de indicadores, e a construção da epidemiologia local dos problemas relacionados a antibióticos.

A expectativa é gerar indicadores de farmacoeconomia e, assim, contribuir de forma efetiva para a redução do uso de antimicrobianos nos hospitais que participam do projeto.

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