Paciente de 2 anos de idade vence o coronavírus enquanto se recupera de transplante

Maioria das crianças e dos adolescentes tratados de COVID-19 apresenta boa evolução

Vicente acabou de completar 2 anos. A festa, com direito a balões, bolo e um animado “Parabéns a Você”, foi compartilhada apenas com os pais e um grupo pequeno de médicas e profissionais da enfermagem, em um quarto de UTI do Hospital Pequeno Príncipe. Além de comemorar o aniversário, Vicente tinha mais um grande motivo para festejar: ele enfrentou e venceu o coronavírus ao mesmo tempo em que se recupera de um transplante de medula óssea. 

“Desde os três meses de idade, o Vicente teve muitas infecções, com diversas internações. Em outubro do ano passado, chegamos ao Pequeno Príncipe e foi então que fizeram o diagnóstico de uma doença rara (Síndrome Linfoproliferativa de herança ligada ao cromossomo X tipo 2), cujo melhor tratamento possível é o transplante de medula óssea”, conta a mãe Tatiana Pezzarolo.

Logo que o diagnóstico foi fechado, com indicação do transplante, teve início a busca por doadores compatíveis no banco mundial de medulas. Foram encontrados dois doadores 100% compatíveis na Europa. Porém, a doação foi suspensa porque ambos estavam se recuperando da COVID-19. “Como o Vicente já estava muito debilitado, optamos pela doação da medula do próprio pai, 50% compatível”, explica Tatiana. Poucos dias depois de vencer a COVID-19, o pequeno guerreiro pode também comemorar a pega da medula. Agora, ele aguarda a completa recuperação para voltar para casa.

Vicente é um dos 11 pacientes atendidos no Hospital com quadro confirmado de COVID-19. O primeiro caso suspeito da doença na instituição foi registrado no dia 4 de março. Desde então, foram investigados mais de 150 crianças e adolescentes. Os casos confirmados tinham, em média, 5 anos, sendo que o mais novo tinha apenas cinco meses, e o mais velho, 16 anos. 

Segundo o médico infectologista Victor Horácio de Souza Costa Junior, dos 11 casos confirmados, quatro tinham outras doenças associadas. “Assim como tem sido com os adultos, os dois pacientes que ficaram em estado grave tinham outras comorbidades”, observa. 

Um paciente com uma doença neurológica progressiva grave, infelizmente, foi a óbito. Outro, com mielomeningocele, desenvolveu a Síndrome Inflamatória Multissistêmica e ficou em estado gravíssimo, com comprometimento renal e cardíaco. Depois de 45 dias internado em UTI, ele teve alta em 31 de maio.

A Síndrome Inflamatória Multissistêmica tem sido relatada por médicos da Europa e dos Estados Unidos. Publicações britânicas recentes falam em oito casos, incluindo uma morte. Nestes pacientes, foi observada febre e inflamações em diversos órgãos, como o coração, sistemas gastrointestinal, renal, hematológico, dermatológico e neurológico. Os sintomas respiratórios não estavam presentes em todos os casos. Nos Estados Unidos, já foram relatados mais de 100 casos semelhantes. A Sociedade Brasileira de Pediatria emitiu um alerta aos pediatras brasileiros sobre o assunto.

Alerta
O médico infectologista faz um importante alerta aos pais e cuidadores de crianças. Assim como em todas as outras doenças, ele enfatiza que o diagnóstico precoce faz muita diferença na condução do tratamento e nas chances de cura da COVID-19 em crianças. “Temos visto muitos meninos e meninas chegarem com quadros respiratórios e outras situações já graves, porque os pais tentaram resolver o problema em casa, medicando esses pacientes por conta. Isso mascara os sintomas e pode agravar os casos”, orienta Costa Junior. 

No Hospital Pequeno Príncipe foram criados fluxos de atendimento que separam os pacientes com suspeita de COVID-19 dos demais, garantindo assim a segurança das crianças e dos adolescentes atendidos na instituição e de seus familiares. 

Assista à reportagem da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), afiliada da Rede Globo, sobre a história do Vicente.

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