Maior e mais completo hospital pediátrico do Brasil também registra uma taxa de letalidade por sepse de 6%, significativamente menor do que a média brasileira
Um conjunto de estratégias adotado pelo Pequeno Príncipe, maior e mais completo hospital pediátrico do Brasil, está mantendo zerada a mortalidade por pneumonias complicadas na instituição nos últimos anos. Depois da pandemia, o Hospital registrou um aumento de quatro vezes no número de ocorrências desse tipo de pneumonia, que provoca derrame pleural, necessitando de intervenção cirúrgica em cerca de 50% dos casos.
Segundo o Instituto Latino-Americano de Sepse (ILAS), no ano passado, no Brasil, as infecções no pulmão deram origem a mais de 40% dos casos de sepse registrados no país. Combater a sepse, portanto, é fundamental para alcançar melhores desfechos clínicos, tanto nos casos de pneumonia quanto nas demais infecções que acometem as crianças e os adolescentes atendidos na instituição. De acordo com o Ministério da Saúde, o país registra cerca de 42 mil casos de sepse em crianças anualmente, das quais oito mil não resistem, resultando numa taxa de letalidade 20%. Já no Pequeno Príncipe, esse índice vem mantendo-se na casa dos 6% há quatro anos, indicador que se compara aos alcançados pelos melhores hospitais do mundo.
Esses resultados, que demonstram o compromisso da instituição com a qualidade e a segurança do paciente, têm sido creditados a um conjunto de estratégias de cuidado centrado no paciente. Além do Programa de Stewardship de Antimicrobianos bem consolidado, que já foi inclusive replicado para outros 15 hospitais brasileiros, a instituição conta com várias linhas de cuidado, entre elas a da Sepse e das Pneumonias Complicadas. Possui ainda um serviço de unitarização de doses de medicamentos que contribui para segurança e precisão dos tratamentos, iniciativas de envolvimento das famílias nos momentos de checklist de segurança e práticas de orientação para uso seguro dos medicamentos no período pós-hospitalização.
“Com a atuação de uma equipe multiprofissional altamente comprometida, adotamos esse conjunto de estratégias e estamos implementando uma gestão pela perspectiva de criação de valor para os nossos pacientes e suas famílias”, ressalta o vice-diretor-técnico de Qualidade e Pesquisa Clínica, Fábio de Araújo Motta.
Programa de Stewardship de Antimicrobianos
No início do mês de outubro, a Organização das Nações Unidas (ONU) adotou a Declaração Política sobre Resistência Antimicrobiana (AMR). O documento reconhece a crescente ameaça da resistência antimicrobiana para a saúde global e para o desenvolvimento sustentável, destacando a necessidade urgente de ações coordenadas e globais para enfrentar esse desafio. Especialistas estimam que até 2050 serão registradas 39 milhões de mortes no mundo provocadas por essa condição.
No Brasil, um levantamento feito pelo Ministério da Saúde mostrou que quase 60% dos hospitais ainda não implementaram programas para gerenciar o uso dos antimicrobianos. Doses excessivas ou inadequadas desses medicamentos são responsáveis pela resistência e, consequentemente, pelo surgimento das superbactérias.
Frente a esse cenário, em 2020, o Pequeno Príncipe iniciou a replicação do seu Programa de Stewardship de Antimicrobianos em hospitais brasileiros, com o apoio da indústria farmacêutica. Quinze hospitais já foram capacitados na metodologia, que coloca o farmacêutico clínico como navegador de toda a equipe de cuidado no que tange às definições de escolha, doses e tempo de administração dos medicamentos. A articulação da equipe estimula uma avaliação mais precisa do tratamento adotado para cada paciente. O farmacêutico também é responsável por analisar e validar se a medicação está dentro do protocolo da instituição.
Os principais resultados obtidos foram a redução de dias de uso de antimicrobianos, a diminuição de custos e o controle do avanço da resistência a esses fármacos. “Ao compartilharmos a nossa experiência com outras instituições brasileiras, estamos fortalecendo todo o ecossistema da saúde, contribuindo para a preservação de muitas vidas”, enfatiza Motta.
Casos de choque séptico caem pela metade em quatro anos
Nos últimos quatro anos, os casos de choque séptico registrados no Hospital Pequeno Príncipe reduziram 50%. A implantação da Linha de Cuidado da Sepse, associada a outras iniciativas como campanhas de conscientização das equipes para atenção total aos principais sinais e sintomas da infecção, foi uma das principais medidas para alcançar esse resultado, uma vez que o choque séptico é uma evolução natural dos quadros de sepse caso ele não seja reconhecido.
Assim que um caso de sepse é identificado por meio do preenchimento de protocolo institucional, o paciente passa a ser rastreável pelo profissional da linha de cuidado. A partir dessa sinalização, é realizado o gerenciamento do paciente e seus processos de cuidado, reforçando as medidas indicadas nos protocolos institucionais para condução dos casos, garantindo o início do tratamento no tempo oportuno e a adoção das melhores práticas.
Nos últimos quatro anos de gerenciamento dessa linha de cuidado, foi registrado um aumento de cerca de 20% na taxa de adesão ao bundle de tratamento, o que indica a consolidação da cultura de qualidade e segurança do paciente. No primeiro semestre de 2024, a taxa de adesão ao bundle da sepse foi superior a 80%, e a de choque séptico superou 70%.
“Como resultado do grande esforço de todas as nossas equipes, fechamos o primeiro semestre sem nenhum óbito por sepse e com uma taxa de letalidade de choque séptico de 6%, contra uma média nacional de 20% na pediatria e que pode chegar a 50% na população adulta. O monitoramento contínuo dos indicadores indica a assertividade das nossas iniciativas, apontando as situações nas quais ainda podemos melhorar”, explica Motta.
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