Pesquisa busca desenvolver novo tratamento para Alzheimer

Aprovado pela Finep em quinto lugar entre os 204 inscritos, projeto receberá financiamento de R$ 10,3 milhões

A luta contra a doença de Alzheimer, uma das condições neurodegenerativas mais devastadoras e complexas, ganhou um importante aliado com a aprovação de um projeto inovador no campo da neurociência. O Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, por meio de um estudo conduzido pela pesquisadora, neurologista e pediatra Katherine Athayde Teixeira de Carvalho, obteve a aprovação de um financiamento de R$ 10,3 milhões pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para desenvolver uma nova abordagem terapêutica para essa doença. O projeto intitulado “Desenvolvimento de nanomedicamento de microRNAs (miRNAs) oriundos de precursoras neuronais para a doença de Alzheimer” foi um dos selecionados na recente chamada pública da Finep, ficando em quinto lugar entre os 204 inscritos.

Esse projeto, que é parte das iniciativas do Grupo de Pesquisa Terapias Avançadas e Biotecnologia Celular na Medicina Regenerativa, do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, em colaboração com a Faculdades Pequeno Príncipe, é uma promessa significativa para avançar no tratamento da doença de Alzheimer. A pesquisadora Katherine menciona que o objetivo principal é ir além do tratamento paliativo dos sintomas, oferecendo uma abordagem que possa atuar na gênese da doença para regenerar ou restaurar as funções cerebrais perdidas, combatendo efetivamente a progressão da doença.

Uma nova esperança

A doença de Alzheimer é caracterizada pela perda progressiva de memória e outras funções cognitivas, impactando drasticamente a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares. Até o momento, as terapias disponíveis focam principalmente no alívio dos sintomas, sem deter o avanço da neurodegeneração. Nesse contexto, a pesquisa surge como uma esperança para mudar esse panorama, utilizando uma abordagem baseada na epigenética por meio dos miRNAs.

O Alzheimer, que afeta predominantemente pessoas acima de 65 anos, é o tipo mais comum de demência no mundo, representando cerca de 70% dos casos. Estima-se que aproximadamente 50 milhões de pessoas vivam com a doença, um número que deve crescer nos próximos anos devido ao envelhecimento populacional. No Brasil, a enfermidade atinge 1,2 milhão de pessoas, com cem mil novos casos diagnosticados anualmente.

A essência do projeto está no desenvolvimento de um nanomedicamento que utiliza miRNAs derivados de células precursoras neuronais humanas e que será veiculado com o auxílio de nanoestruturas. Esses miRNAs desempenham um papel crucial na regulação da expressão gênica e têm o potencial de influenciar diretamente os processos patológicos envolvidos na doença de Alzheimer, como a deposição de placas beta-amiloides, a formação de emaranhados neurofibrilares e a inflamação neuronal.

A despeito do potencial terapêutico dos miRNAs, a aplicação clínica enfrenta vários desafios. Um dos principais obstáculos é a entrega específica e eficiente desses miRNAs ao cérebro, em razão da presença da barreira hematoencefálica (BHE), que protege o sistema nervoso central e restringe a passagem de muitas moléculas. Para superar essa barreira, o projeto aposta na nanotecnologia, desenvolvendo vetores de entrega que possam transportar os miRNAs diretamente para as células afetadas pela doença.

A pesquisadora destaca a importância de uma abordagem inovadora que utiliza a nanotecnologia não apenas para garantir a entrega precisa dos miRNAs ao cérebro, mas também para maximizar a eficácia e minimizar os efeitos colaterais do tratamento. “A terapêutica com miRNAs das precursoras neuronais humanas permite que atuemos diretamente na causa subjacente da doença, tendo como auxílio as nanoestruturas que podem atravessar a barreira hematoencefálica e entregar o tratamento exatamente onde ele é necessário”, salienta Katherine.

A associação de miRNAs e nanotecnologia representa um avanço significativo em relação aos tratamentos atuais: terapia avançada a partir de biológicos, pois os medicamentos atuais são limitados a retardar a progressão dos sintomas. “Com uma abordagem focada na regeneração neuronal e na prevenção dos processos patológicos que levam à neurodegeneração, impedindo a formação das placas e dos emaranhados neurofibrilares, o projeto oferece uma nova esperança para milhões de pacientes em todo o mundo”, enfatiza a cientista.

Impactos futuros

Com financiamento de R$ 10,3 milhões da Finep, o projeto será desenvolvido ao longo de 36 meses. Os recursos serão utilizados para cobrir os custos de pesquisa, desenvolvimento e produção, bem como garantir a infraestrutura necessária para os ensaios pré-clínicos e a preparação para futuros ensaios clínicos.

A visão em longo prazo do projeto é ambiciosa: além de criar um tratamento inovador para a doença de Alzheimer, a expectativa é abrir portas para novas abordagens terapêuticas em outras doenças neurodegenerativas. “Estamos desenvolvendo uma plataforma que pode ser adaptada para outras condições, onde a perda neuronal é a gênese, como para doença de Parkinson. Nosso objetivo é oferecer terapias avançadas e inovadoras para todos, garantindo que estas estejam disponíveis pelo SUS”, diz Katherine.

A colaboração entre o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), representada pela professora Elenara Teixeira Lemos-Senna, é fundamental para o sucesso do projeto, combinando expertises em neurociências e nanotecnologia.

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