Acompanhamento com pediatra é fundamental para garantir o pleno desenvolvimento das crianças

Menos de 10% dos mais de 40 mil pediatras brasileiros atuam no Sistema Único de Saúde

O Brasil conta hoje com uma população de cerca de 60 milhões de crianças e adolescentes com idade entre 0 e 18 anos. Cuidar da saúde de crianças requer um olhar especializado, que contemple as dimensões da promoção, prevenção, diagnósticos precoces e tratamentos assertivos. O profissional capacitado para esse cuidado atento é o pediatra. Mas no Brasil, a grande maioria das crianças e adolescentes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) não é acompanhada por esses especialistas. Isso ocorre porque, na rede pública, não há a obrigatoriedade da presença do pediatra na atenção primária, composta pelas unidades básicas de saúde espalhadas por todo o país.

“O Brasil tem hoje cerca de 40 mil pediatras. É a área com o maior número de médicos especialistas. Porém, menos de 10% desses profissionais estão atuando no SUS”, revela o diretor-técnico do Hospital Pequeno Príncipe, Donizetti Dimer Giamberardino Filho.

O Ministério da Saúde recomenda que, nos dois primeiros anos de vida, uma criança passe por nove consultas com o pediatra para acompanhamento do seu crescimento e desenvolvimento, sendo sete consultas no primeiro ano e duas no segundo ano de vida. Considerando dados de 2019, essa recomendação equivaleria a mais de 40 milhões de consultas. Contudo, no mesmo ano, no SUS foram realizados pouco mais de 1,3 milhão de consultas com pediatras.

“Toda criança tem direito a ser assistida por um pediatra. Não é possível que as crianças de famílias que podem contratar um plano de saúde tenham acesso a um pediatra, e as crianças do SUS não. Isso é uma desigualdade insustentável, pois o olhar especializado de um pediatra pode verdadeiramente mudar a história de vida de uma criança”, defende. A queda nos índices de cobertura vacinal e os diagnósticos tardios, que muitas comprometem a vida da criança, são algumas das consequências da falta de acompanhamento com um profissional especializado.

Formação

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), existem no Brasil hoje mais de 270 programas de residência em pediatria. O programa do Hospital Pequeno Príncipe é um deles e está entre os mais concorridos do país. Criado na década de 1970, já formou mais de dois mil pediatras de todas as regiões do Brasil, que muitas vezes, após a formação, voltam para seus estados de origem, qualificando a assistência local.

São cerca de 18,8 pediatras para cada grupo de cem mil habitantes no Brasil, considerado um número adequado. Entretanto, a distribuição desses profissionais pelo país é desigual. Há uma grande concentração de pediatras nos estados mais desenvolvidos e nas capitais. Dados de 2022 demonstravam que 55% dos pediatras estão na Região Sudeste. Já a Região Norte, por exemplo, conta com apenas 4% dos pediatras.

Além de formar profissionais qualificados para atuar em todo o Brasil por meio do seu programa de residência, o Hospital Pequeno Príncipe mantém um programa de educação continuada para médicos e profissionais de saúde, o Multiplica PP, que disponibiliza cursos on-line em diversas áreas da pediatria. Lançado em 2022, o programa já capacitou mais de mil profissionais.

A tecnologia tem sido outra ferramenta que o Pequeno Príncipe está utilizando para qualificar a assistência a meninos e meninas do Brasil. Por meio da telemedicina, os pediatras do Pequeno Príncipe atuam na atenção primária em alguns municípios, auxiliando os profissionais presentes nas unidades básicas de saúde e nas unidades de pronto atendimento a qualificar os diagnósticos, permitindo uma assistência mais resolutiva. Nas unidades de pronto atendimento (UPAs) de Curitiba, por exemplo, a atuação conjunta dos pediatras do Hospital e médicos presentes nas unidades reduziu em mais de 50% a necessidade de internamento hospitalar. “O olhar do pediatra na primeira assistência permite a realização de diagnósticos e tratamentos precoces, evitando o agravamento de diversos quadros e, consequentemente, reduzindo a necessidade de internamento”, explica Giamberardino Filho.

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