No Brasil, a média de tempo de espera para realizar o procedimento corretivo pelo SUS é de quatro anos e três meses, o que pode comprometer o desenvolvimento e a vida das crianças e dos adolescentes
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2% a 4% da população mundial sofre com escoliose, uma deformidade na coluna que, dependendo do grau de curvatura e gravidade, compromete o desenvolvimento e até mesmo a vida de crianças e adolescentes. No Brasil, são mais de 1,6 milhão de pessoas com essa condição, sendo que cerca de 160 mil precisam de tratamento cirúrgico.
Nos casos mais graves de escoliose, a coluna assume o formato de C ou de S e pressiona os órgãos, afetando os sistemas cardíaco e respiratório. Nesses casos, a cirurgia é a única alternativa para garantir qualidade de vida aos meninos e meninas que enfrentam a condição. O procedimento, no entanto, é bastante complexo e exige equipes multiprofissionais altamente capacitadas, além de equipamentos e insumos adequados.
Para as crianças que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), o desafio é ainda maior. Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Coluna revelou que o tempo médio de espera no país para realizar esse procedimento pelo SUS é de quatro anos e três meses. “A espera por uma cirurgia no SUS por meses ou anos pode significar a incapacidade em graus variados e, em casos extremos, até abreviar a vida desses jovens, porque a escoliose grave deforma o tórax a ponto de impedir um padrão respiratório suficiente, além de sobrecarregar o coração. O tratamento cirúrgico no momento adequado permite a retomada de uma vida inteiramente saudável”, enfatizou o médico Robert Meves, presidente da Sociedade Brasileira da Coluna, em artigo publicado no jornal Estadão.
Mutirão no Pequeno Príncipe
O Pequeno Príncipe realiza cerca de 50 cirurgias de correção da escoliose pelo SUS por ano. No início deste mês, um mutirão viabilizou a realização de oito cirurgias em uma única semana. Duas equipes multiprofissionais compostas por cerca de dez pessoas cada uma se revezaram no Centro Cirúrgico para executar os procedimentos, que têm uma duração média de quatro horas e meia. Todos os médicos, incluindo os quatro ex-residentes da instituição que reforçaram o time, operaram voluntariamente. Ao todo, quatro empresas fornecedoras do Hospital doaram recursos para custear o transporte dos ex-residentes, a alimentação das equipes, a neuromonitorização e os insumos necessários para a realização das cirurgias.
De acordo com o chefe da equipe de coluna do Pequeno Príncipe, Luis Eduardo Munhoz da Rocha, foram escolhidos pacientes com idade entre 12 e 18 anos, com um quadro bastante grave de escoliose. Um desses pacientes é o Nicolas Gabriel Palharini Boelter, de 12 anos. Ele nasceu com mielomeningocele, uma condição que afeta o desenvolvimento da coluna vertebral. Por causa dessa situação, ele já fez várias cirurgias. O procedimento para correção da escoliose era aguardado havia mais de um ano. Com uma condição bastante grave, sua cirurgia durou cerca de 11 horas.
Desafios no Pequeno Príncipe
No Pequeno Príncipe, alguns desafios impedem a realização de um número maior de cirurgias de escoliose pelo SUS. Cerca de 40% desses procedimentos exigem neuromonitorização, um recurso que permite aos profissionais acompanhar toda a atividade fisiológica da medula durante a cirurgia, detectando possíveis alterações no exato momento em que acontecem, o que aumenta a segurança da cirurgia. Porém, o SUS não paga por esse recurso. Além disso, a remuneração que o SUS oferece aos profissionais é extremamente baixa. Por uma cirurgia que pode durar até 11 horas, como foi a de Nicolas, os honorários pagos aos profissionais são de cerca de R$ 1,1 mil.
Além desses pontos, para que o Pequeno Príncipe consiga ampliar o número de cirurgias realizadas por mês, é preciso aumentar o total de leitos de UTI, já que boa parte desses pacientes precisa desse suporte no pós-operatório. Para isso, o Hospital já elaborou um projeto que prevê a implantação de mais 28 leitos de terapia intensiva.
“O conhecimento que acumulamos em mais de cem anos de história nos habilita a focarmos nossa atuação, cada vez mais, na alta complexidade. Mas para isso precisamos sensibilizar os gestores públicos a respeito da remuneração do SUS, que ainda é muito deficitária”, explica a diretora-executiva do Hospital, Ety Cristina Forte Carneiro. Já para a ampliação da estrutura, com implantação de mais leitos de UTI, o Hospital busca apoio da sociedade, por meio de doações.
Ortopedia no Pequeno Príncipe
A ortopedia pediátrica é uma subespecialidade que inclui todas as doenças ortopédicas da infância. Além do atendimento de emergência 24 horas, o Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Pequeno Príncipe realiza consultas e cirurgias, incluindo os procedimentos de grande porte. É referência nacional na área da ortopedia pediátrica e recebe todos os dias crianças e adolescentes com patologias complexas que necessitam de cirurgias.
Atualmente, 20 médicos atuam no serviço, que conta com toda a estrutura necessária de apoio ao diagnóstico por imagem, interação com profissionais de outras áreas da medicina e suporte na reabilitação. No Centro Cirúrgico, é mantida uma das salas mais modernas do Brasil, equipada com intensificador de imagem, ar-condicionado com fluxo laminar e mesas cirúrgicas adequadas para os diferentes tipos de procedimentos.
Jantar com a participação das madrinhas marcou o lançamento do evento, programado para o dia 30 de setembro
Cerca de 500 crianças e adolescentes são atendidos anualmente na estrutura, que é custeada com o apoio da sociedade