Pesquisa busca desenvolver método mais preciso para diagnóstico, prognóstico e acompanhamento de tumores do sistema nervoso central

O tumor do SNC tem uma incidência maior em crianças com até 10 anos e representa 30% das mortes por câncer infantojuvenil no Brasil

O câncer é uma das principais causas de óbito entre crianças e adolescentes no mundo. No Brasil, representa a segunda causa de mortalidade na faixa etária de 1 a 19 anos. Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), para cada ano do triênio 2023 a 2025 são esperados 7.930 novos casos da doença no país.

Entre os diversos tipos de câncer infantojuvenil, os tumores do sistema nervoso central (SNC) provocam 30% de todas as mortes e afetam, na maioria das vezes, crianças menores de 10 anos. Esses tumores se desenvolvem no cérebro ou na medula espinhal e podem surgir a partir de mais de cem tipos diferentes de células.

Atualmente, por meio da medicina de precisão, é possível conhecer detalhadamente o tumor, analisando seu perfil genômico e epigenômico para identificar mutações específicas, alterações e biomarcadores que estão associados ao seu crescimento e progressão. Esse conhecimento permite prever com mais assertividade a resposta que o paciente alcançará com tratamento. Também possibilita ao médico direcionar o tratamento para as alterações moleculares identificadas, ou seja, recorrer às terapias-alvo, que são mais eficazes e menos tóxicas do que os tratamentos tradicionais.

Na corrida que médicos e pacientes travam para controlar e vencer o câncer, a medicina de precisão permite ainda o monitoramento em tempo real da resposta do paciente ao tratamento. Dessa forma, é possível identificar precocemente os pacientes que não estão apresentando resposta satisfatória ou que apresentam maior risco de desenvolver resistência e recorrência tumoral. Com essa informação, os médicos podem mudar o tratamento e avançar em direção à cura, ganhando um tempo que é precioso nessa corrida.

Inovação

Atualmente, a forma mais comum de aprofundar-se no conhecimento sobre as especificidades do tumor é a realização de uma biópsia. Esse exame permite a coleta de um pequeno pedaço do tumor para a análise de suas células. Essa coleta, no entanto, é bastante invasiva e normalmente é feita em centro cirúrgico. O projeto desenvolvido no Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe propõe um novo método para conhecer a fundo as características dos tumores do SNC, utilizando para isso a análise molecular em amostras de biópsias líquidas. A biópsia líquida pode ser realizada a partir da coleta de fluidos corpóreos como o sangue e o liquor, portanto, muito menos invasiva.

Em pacientes pediátricos com tumores do SNC, essa técnica surge como uma nova estratégia de detecção precoce do câncer (diagnóstico), de predição da evolução do tumor e da resposta ao tratamento (prognóstico), bem como da escolha e monitoramento terapêutico (tratamento).

Como a pesquisa será feita

Para desenhar esse novo método de análise, a pesquisadora doutora Luciane Cavalli, que coordena a pesquisa, explica que será realizado um estudo retrospectivo em amostras de pacientes com tumores do SNC para determinar as alterações moleculares tumorais identificadas no momento do diagnóstico, associadas à resposta ao tratamento e ao desfecho clínico.

Num segundo momento, os cientistas buscarão identificar a presença das alterações moleculares tumorais em amostras de biópsias líquidas feitas antes do início do tratamento.

Por fim, buscarão determinar quais alterações moleculares encontradas em amostras de biópsias líquidas de pacientes com tumores do SNC devem ser consideradas para o monitoramento do tratamento.

“Essas análises apresentarão um impacto significativo na aplicação da medicina de precisão no tratamento de tumores pediátricos do SNC. Especificamente, o uso de biópsias líquidas permitirá prever com precisão e de forma menos invasiva como os pacientes responderão ao tratamento, além de acompanhar sua evolução ao longo do tempo”, destaca Luciane.

Segundo ela, esse novo método possibilitará a tomada de decisões clínicas informadas em intervalos regulares e contínuos. “Além disso, essa abordagem inovadora auxiliará na identificação de alvos terapêuticos específicos para crianças e adolescentes com tumores do SNC, o que, por sua vez, levará ao desenvolvimento de terapias mais eficazes e personalizadas para esse grupo de pacientes”, enfatiza.

Veja mais

Mais de 70% das crianças e adolescentes que recebem acompanhamento escolar no Pequeno Príncipe frequentam escolas públicas

Em 2023, cerca de 1,8 mil pacientes de 3 a 19 anos foram beneficiados com as iniciativas de educação realizadas no Hospital


Exames moleculares mudam a trajetória de tratamentos e aumentam as chances de cura

Com o apoio da sociedade, o Pequeno Príncipe oferece esses exames para pacientes atendidos pelo SUS


Outras edições