Mais de 70% das crianças e adolescentes que recebem acompanhamento escolar no Pequeno Príncipe frequentam escolas públicas

Em 2023, cerca de 1,8 mil pacientes de 3 a 19 anos foram beneficiados com as iniciativas de educação realizadas no Hospital

Um levantamento inédito feito pela equipe do Setor de Educação e Cultura do Hospital Pequeno Príncipe revelou que 72% das crianças e dos adolescentes que receberam acompanhamento escolar em 2023 estão matriculados em escolas públicas. O dado reforça a importância da oferta desse tipo de atendimento oferecido durante a hospitalização, pois, além de ser um direito estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é uma prática fundamental para manter o vínculo com a escola, evitando evasão ou dificuldade na retomada da rotina após a alta.

No ano, foram atendidos 1.809 crianças e adolescentes de 3 a 19 anos. Desses, 56%, ou seja, 1.008 crianças, estavam matriculados na educação infantil e no ensino fundamental I, período que compreende das séries iniciais até o 5.º ano. Os outros 44%, isto é, 801 pacientes, estavam matriculados no ensino fundamental II, no ensino médio ou na educação de jovens e adultos (EJA), etapas do ensino que englobam alunos a partir do 6.º ano. 

Outro dado relevante: 52 crianças e adolescentes estavam fora da escola. Segundo o coordenador do setor, Claudio Teixeira, há basicamente três motivos que explicam essa situação. O primeiro está relacionado à condição de saúde da criança, que muitas vezes não permite. O segundo motivo é que, às vezes, a criança poderia frequentar, mas a família se sente mais segura deixando-a em casa. E o terceiro é que muitas escolas não têm suporte para receber crianças com determinadas condições de saúde.  

“A Lei 13.716, de 2018, assegura o atendimento educacional a todos os alunos da educação básica internados para tratamento de saúde em regime hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado. Muitas famílias e até escolas desconhecem essa lei e a obrigação do Estado de fornecer atendimento pedagógico domiciliar (APD). Ou seja, mesmo que a criança não tenha condições de ir até a escola, ela tem direito de receber atendimento pedagógico na sua casa. Na maior parte das vezes, no entanto, é a nossa equipe que alerta o familiar e até a escola sobre esse direito”, revela.

O estudo mostrou também a abrangência do atendimento do próprio Hospital: os pacientes atendidos pelos professores vieram de 19 estados do Brasil. Duas crianças eram provenientes do Paraguai; e uma, da Guiana Inglesa.

Primeira Infância

Outro dado importante revelado pelo levantamento é que 25% das crianças atendidas têm até 6 anos e, portanto, estão na Primeira Infância. Estudos de neurociência já demonstraram que é nessa fase mágica da vida que o desenvolvimento cerebral acontece de forma mais acelerada, moldando o cérebro a partir das interações que a criança vivencia. Isso não significa que uma criança nessa idade precise ser alfabetizada ou que ela deva aprender a fazer contas, por exemplo. Mas o estímulo que os professores proporcionam por meio de jogos, brincadeiras, contação de histórias, entre outras atividades, é fundamental para apoiar o desenvolvimento num momento tão desafiador como o período de hospitalização. “Precisamos preservar a essência da criança, que é a curiosidade, a sua vontade de aprender. E podemos fazer isso de muitas maneiras, mesmo durante um internamento. A educação no ambiente hospitalar tem também uma dimensão de preservar a saúde mental da criançada”, esclarece Teixeira.

Segundo o economista James Heckman, vencedor do Nobel de Economia de 2000, o apoio a crianças vulneráveis na Primeira Infância proporciona, em longo prazo, inclusive retorno econômico para a sociedade, pois essa criança se tornará um adulto mais produtivo e saudável física e mentalmente. De acordo com Heckman, para cada dólar investido na Primeira Infância, o ganho pode chegar a US$ 7.

Aulas no Hospital

O Hospital Pequeno Príncipe foi um dos pioneiros na oferta de acompanhamento escolar para crianças hospitalizadas, iniciando essa prática na década de 1980, a partir da mobilização das equipes do Serviço Social. Em 2002, o Setor de Educação e Cultura foi formalmente criado e hoje conta com sete professoras da rede municipal de ensino, seis professores e uma pedagoga da rede estadual de ensino e cinco educadores contratados pelo próprio Hospital.

Diariamente, as equipes percorrem os postos de internação verificando quais crianças e adolescentes chegaram. O primeiro contato tem o objetivo de conquistar a confiança da família e do paciente, descobrir os principais interesses e apresentar um hospital muito diferente, onde há espaço para aprender, brincar e divertir-se.

Num segundo momento, os professores entram em contato com a escola de origem da criança para entender quais conteúdos estão sendo trabalhados em sala de aula. Essa informação, somada a uma escuta amorosa da criança e do adolescente, é um dos insumos para que os professores organizem as atividades que serão propostas. “Nem sempre a criança estará disposta fisicamente para receber a nossa intervenção, e nós respeitamos isso. Mas quando ela se sente bem, pode contar conosco para aprender e tornar essa etapa da sua vida mais suave”, enfatiza o coordenador. 

A mágica do aprendizado

Laura Freitas Santana entrou no Hospital Pequeno Príncipe quando estava prestes a completar 5 anos. Ela foi diagnosticada com neuroblastoma, um tipo de câncer bastante agressivo. O quadro era grave, pois a doença já estava num estágio avançado.

Por causa do tratamento, a garota ficou afastada da escola por mais de um ano. “Mas ela não ficou para trás em nenhum momento. Com o auxílio da professora Ana, ela aprendeu a ler no Hospital. E também esclarecia dúvidas em contas de matemática. A Laura ama estudar”, realça a mãe, Ariane Freitas.

Depois de quase dois anos de tratamento, hoje Laura está em remissão do câncer e frequenta a escola regularmente na sua cidade, no interior do Paraná. “As chances de cura eram mínimas, mas a gente venceu. Graças a todo o apoio, pela competência de todos os médicos, das enfermeiras, da professora, dos psicólogos – todos formam uma rede de apoio muito grande. Vencemos não somente por causa de um colaborador, mas por vários, já que todos aqui são muito competentes. A Laura é o nosso milagre.”

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