Atendimento ao SUS gera déficit financeiro de 43% no Pequeno Príncipe

Levantamento mostra que, a cada R$ 100 gastos no atendimento de pacientes pelo Sistema Único de Saúde, instituição recebe R$ 56,90

O Hospital Pequeno Príncipe dedica boa parte da sua capacidade de atendimento aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Filantrópico, desde a sua fundação, em 1919, o Pequeno Príncipe não mede esforços para oferecer a melhor assistência possível a todas as crianças, independentemente da sua condição socioeconômica. A opção por essa modalidade de atendimento, portanto, é uma escolha institucional pautada na compaixão e na crença de que todas as crianças têm o direito a um atendimento qualificado, que lhes permita ter qualidade de vida e saúde para se desenvolverem de forma plena. Porém, esse atendimento gera muitos desafios do ponto de vista financeiro, pois os valores de remuneração do SUS são bastante defasados. Em 2023, a cada R$ 100 gastos com pacientes do Sistema Único de Saúde, o Hospital recebeu R$ 56,90, o que representa um déficit de 43%.

Por uma consulta com um médico especializado, por exemplo, a tabela do SUS prevê pagamento de R$ 10. Para um eletrocardiograma, o valor da tabela é de R$ 5,15, e para uma tomografia de crânio a remuneração prevista é de R$ 97,44. Os valores são bem diferentes dos praticados em hospitais pediátricos particulares, onde a consulta com profissional especializado chega a custar R$ 600, e a tomografia de crânio, cerca de R$ 950.

Além da falta de reajuste, a tabela do SUS foi elaborada com base na medicina praticada na década de 1980, quando essa política pública foi desenhada. Ainda que sejam feitas incorporações de novos medicamentos e procedimentos no rol do SUS todos os anos, o ritmo dessas atualizações não acompanha a evolução da medicina, que está cada vez mais precisa, porém mais cara. Um exemplo é o teste de exoma, um dos exames genéticos mais completos existentes hoje, fundamental para a definição de alguns diagnósticos de doenças raras e de tipos de câncer. O exoma consta do rol do SUS desde 2019, mas ainda não há valor atribuído, ou seja, na prática, não ocorre o pagamento por ele.  

Essa defasagem da composição e dos valores da tabela do Sistema Único de Saúde – somada à elevação dos custos da saúde no período pós-pandemia e à crise do sistema suplementar (planos de saúde), que tem aumentado o número de glosas (faturamentos não recebidos ou recusados) e estendido o tempo de pagamento aos hospitais prestadores de serviços – intensificou o desafio financeiro do Pequeno Príncipe. O déficit da assistência em 2023 foi de aproximadamente R$ 71 milhões.

Para fazer frente a esses desafios, a instituição conta com o apoio fundamental da sociedade. Em 2023, por exemplo, a utilização de recursos captados representou cerca de 20% do total das receitas, minimizando desempenho negativo. Veja, nos gráficos abaixo, a composição das receitas versus os atendimentos realizados pelo Hospital.

Uma história de superação

No dia 3 de abril de 2023, o Pequeno Príncipe recebeu um paciente de 25 dias de vida, encaminhado por um município da Região Norte do Brasil. O caso era urgente e gravíssimo, pois o bebê nasceu com diversas malformações, entre elas a mielomeningocele, hidrocefalia e onfalocele (defeito na formação da parede abdominal, que deixa o intestino exposto). O quadro se agravava ainda com problemas cardíacos, alterações na suprarrenal e luxação de quadril.

Era necessária uma equipe multiprofissional e completa para ajudar o bebê a sobreviver. No Pequeno Príncipe, ele foi acompanhado por médico intensivista, pediatra, cardiologista, endocrinologista, urologista, nefrologista, ortopedista, geneticista, cirurgião pediátrico, neurocirurgião, neurologista, nutrólogo, paliativista, gastroenterologista, hepatologista, oftalmologista e equipe de fonoaudiologia, fisioterapia e enfermagem.

Durante o internamento, foi submetido a três procedimentos cirúrgicos, dois deles de alta complexidade para corrigir as malformações, além de fazer diversos exames de raio-X, ecografia, ecocardiografia, encefalograma, ressonância magnética, tomografia, colograma, exames genéticos de cariótipos e exoma, e muitos exames laboratoriais. Recebeu diversos tipos de antibióticos e sedativos para ajudar no controle da dor, entre outras classes de medicamentos, necessários para a estabilidade clínica.

Foram 209 dias de permanência em UTI Neonatal e UTI Cirúrgica e outros dez em enfermaria. A alta finalmente chegou no dia 26 de dezembro, e a família enfim pôde levar seu bebê para casa – um verdadeiro presente de Natal.

“Para nós, é uma grande alegria devolver as crianças para suas famílias, na melhor condição possível, garantindo qualidade de vida. Isso nos motiva. Mas precisamos do apoio da sociedade para manter viável esse tipo de atendimento”, reforça o diretor-corporativo do Complexo Pequeno Príncipe, José Álvaro da Silva Carneiro.

Por todo esse tratamento, que envolveu quase sete meses de internamento em UTI, o Pequeno Príncipe recebeu do SUS cerca de R$ 56 mil, o que equivale a R$ 270 por dia. Em hospitais filantrópicos e particulares, o custo da diária em UTI varia de R$ 4 mil a R$ 12 mil, o que significa um valor total de tratamento de R$ 800 mil a R$ 1,2 milhão.

Veja mais

Em 2023, Pequeno Príncipe atendeu 745 crianças e adolescentes vítimas de violência

Nas últimas duas décadas, de 2003 a 2023, foram atendidos mais de nove mil meninos e meninas; violência sexual predomina entre os atendimentos


Doadores podem deixar bens para o Pequeno Príncipe por meio do testamento

Essa é mais uma forma de contribuir com a causa da saúde infantojuvenil, apoiando o direito à vida de meninos e meninas de todo o Brasil


Outras edições