Estudo indicou ainda a importância do diagnóstico precoce de glicogenose para evitar danos no cérebro
A doença do armazenamento do glicogênio (DAG) é uma enfermidade rara e hereditária, causada por defeito no metabolismo de enzimas responsáveis pela síntese ou decomposição do glicogênio. Uma pesquisa coordenada pela neurocientista Mara Lúcia Cordeiro, do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, descobriu novas mutações genéticas e indicou a importância do diagnóstico precoce da doença, a fim de evitar danos irreparáveis no cérebro e no desenvolvimento da criança.
Existem mais de dez tipos de DAGs, também chamadas de glicogenoses. Mundialmente, a doença afeta um a cada cem mil nascidos vivos. Esse distúrbio provoca o acúmulo anormal de glicogênio em diferentes órgãos, principalmente no fígado e nos músculos. O glicogênio é uma reserva de energia produzida e armazenada pelo corpo com a transformação dos carboidratos ingeridos em glicose.
Diagnóstico e sintomas
O diagnóstico da doença pode ser clínico, por meio de exames físicos e associações com outras ocorrências; enzimático, a partir de biópsia hepática e dosagem de enzimas; e com a aplicação de teste genético molecular. Quando a mutação está presente, é possível realizar ainda o diagnóstico pré-natal em pacientes de risco.
Entre os problemas causados pela DAG estão a hepatomegalia (fígado aumentado), além desintomas de intolerância ao jejum, hipoglicemia (baixo açúcar no sangue), osteopenia e/ou osteoporose (alterações de estruturas ósseas), nefromegalia (rins aumentados) e disfunção de neutrófilos (células de defesa) e de plaquetas.
O principal sintoma ocasionado pelo distúrbio é a hipoglicemia, que pode resultar em graves consequências, como convulsões e danos cerebrais, que podem provocar atrasos no desenvolvimento, dificuldades físicas e de aprendizado e, em casos raros, levar à morte.
Descobertas do estudo
A pesquisa desenvolvida pelo Instituto avaliou os aspectos genéticos, cerebrais, estruturais e neurológicos de pacientes pediátricos com glicogenoses hepáticas. Participaram do estudo 12 crianças e adolescentes, com idades de 2 a 17 anos, que têm a doença, atendidos no Ambulatório de Neuropediatria do Hospital Pequeno Príncipe.
De acordo com a cientista responsável, a pesquisa descobriu seis novas mutações genéticas ainda não descritas na literatura científica, um resultado que pode contribuir para outros relatos de casos no Brasil.
Além disso, a investigação comprovou os efeitos negativos da glicogenose no cérebro. “Até o momento, o foco era o fígado e os rins. Nosso estudo demonstrou que, quando existe um atraso no diagnóstico e tratamento da doença, danos irreparáveis podem ocorrer no cérebro”, explica a neurocientista. O estudo apontou ainda que o principal impacto da DAG parece estar relacionado ao controle metabólico inadequado, especialmente da hipoglicemia.
Nas próximas etapas do trabalho, os pesquisadores irão avaliar o impacto da doença nos aspectos cognitivos, neurocomportamentais e na família. Segundo os especialistas, o estudo vai contribuir com a literatura científica internacional sobre a DAG, que ainda é escassa em todo o mundo.
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