Campanha expõe subfinanciamento e crise brasileira dos hospitais filantrópicos

No Pequeno Príncipe, déficit na assistência chegou a R$ 52 milhões em 2021, sem considerar os recursos captados; cancelamento de consultas e cirurgias devido à COVID-19 e falta de reajuste da tabela do SUS estão entre as causas

Ano após ano, as dificuldades financeiras enfrentadas pelos hospitais filantrópicos e Santas Casas se agravam no Brasil. Responsáveis por 70% de todos os atendimentos de alta complexidade realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no país, essas instituições viram sua situação financeira ficar ainda mais comprometida com a pandemia e a volta da inflação. Nos últimos seis anos, 315 hospitais filantrópicos fecharam as portas, reduzindo sete mil leitos do SUS. Na pediatria, foram mais de nove mil leitos fechados.

No Pequeno Príncipe, maior hospital exclusivamente pediátrico do Brasil, a situação não é diferente. Em 2021, o déficit financeiro na assistência deu um salto importante, passando de uma média histórica de R$ 30 milhões por ano para R$ 52 milhões – sem considerar os recursos captados –, ou seja, um crescimento de cerca de 70%. “É um cenário muito preocupante, que temos conseguido enfrentar com o apoio da sociedade”, explica o diretor-corporativo do Complexo Pequeno Príncipe, José Álvaro da Silva Carneiro. 

Em função dessa realidade que se repete em todas as instituições que atendem pacientes pelo SUS, a Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB) e a Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa) lançaram a campanha nacional “Chega de Silêncio – gestores e profissionais de saúde rompem o silêncio para expor a crise da maior rede hospitalar do SUS”.

O movimento tem como objetivo apresentar o tamanho dos desafios que as instituições de saúde enfrentam na relação com o SUS, sem receber os recursos financeiros necessários para suprir os custos dos serviços prestados. A CMB destaca que, se não houver políticas imediatas, consistentes, de subsistência para esses hospitais, dificilmente suas portas se manterão abertas.

Para que não ocorra a desassistência da população, as Santas Casas e hospitais filantrópicos requerem a alocação de recursos na ordem de R$ 17,2 bilhões, anualmente, em caráter de urgência, como única alternativa de aceitação das obrigações trabalhistas decorrentes do Projeto de Lei 2.564/20, que institui o piso salarial nacional para enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e parteiras, assim como para a imprescindível adequação ao equilíbrio econômico e financeiro no relacionamento com o SUS.

A relação dos hospitais com o SUS é crescentemente deficitária e acumula um endividamento de mais de R$ 20 bilhões, o que também provocou o sucateamento das estruturas físicas e tecnológicas, cenário que foi agravado durante a pandemia da COVID-19. A aquisição de materiais e medicamentos com preços elevadíssimos, além da inflação, acarretam enormes custos às instituições.

No Paraná, a Femipa reúne 71 Santas Casas e hospitais filantrópicos. Juntos, ofertam ao SUS 11.899 leitos, sendo 1.178 de unidade de terapia intensiva (UTI). Para se ter ideia da representatividade desse número, no estado, estão disponíveis ao SUS 13.725 leitos de internamento e 2.205 de UTI.

Apoio da sociedade
Para o Pequeno Príncipe, o apoio de empresas e cidadãos tem sido fundamental para enfrentar esse cenário desfavorável. “Com o apoio de empresas e cidadãos, conseguimos manter nosso parque tecnológico e nossa estrutura atualizados, garantimos a capacitação continuada das nossas equipes, desenvolvemos ações de humanização. Somadas, essas iniciativas se traduzem em excelência no atendimento, que gera mais oportunidades de vida e saúde”, enfatiza a diretora-executiva do Hospital, Ety Cristina Forte Carneiro.

Existem diversas maneiras de apoiar o Pequeno Príncipe. Se você ou sua empresa tiver interesse em contribuir, entre em contato pelo e-mail carolina.fossati@hpp.org.br.

Confira alguns fatos sobre o cenário da saúde no Brasil:
• Desde 1994, a tabela do SUS teve, em média, 93,77% de reajuste, enquanto o gás de cozinha foi reajustado em 2.415,94%, o INPC foi 636,07% e o salário mínimo foi 1.597,79%.
• O déficit financeiro decorrente dos atendimentos pelo SUS é de R$ 10,9 bilhões por ano.
• No Brasil, Santas Casas e hospitais filantrópicos disponibilizam 195 mil leitos, sendo 26 mil de UTI.
• Entre 2010 e 2019, foram fechados 15.944 leitos pediátricos, sendo 13.800 deles disponibilizados ao SUS.
• Os filantrópicos são responsáveis por 70% dos procedimentos de alta complexidade realizados por meio do SUS.
• Santas Casas e hospitais filantrópicos fazem cinco milhões de internamentos, 1,7 milhão de cirurgias e 280 milhões de atendimentos ao ano.
• Nos últimos seis anos, 315 hospitais filantrópicos fecharam as portas, reduzindo sete mil leitos do SUS. Na pediatria, foram mais de nove mil leitos fechados.
• Mais de três milhões de brasileiros, com vínculo de trabalho direto e/ou indireto, dependem economicamente dos filantrópicos.

Clique abaixo e conheça a realidade dos hospitais filantrópicos no Brasil.

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