Objetivo é ampliar o atendimento para outras especialidades, evitando a mortalidade de crianças e adolescentes provocada por complicações trazidas pelo coronavírus a médio e longo prazo
A infecção pelo coronavírus tem se mostrado extremamente desafiadora para a medicina. Além da fase aguda, que leva os pacientes a necessitarem de internação, os médicos já sabem que uma porcentagem significativa desses pacientes desenvolve doenças crônicas; ou seja, sequelas que afetam órgãos como o coração, os rins, os pulmões, o fígado e o cérebro. Nesses casos, fazer a identificação precoce do comprometimento de qualquer um desses órgãos faz a diferença na vida do paciente. O Hospital Pequeno Príncipe planeja criar um ambulatório de acompanhamento multidisciplinar a essas crianças e adolescentes. O serviço partirá de uma experiência exitosa que está em funcionamento desde agosto de 2020: o ambulatório de acompanhamento cardiológico.
Segundo a médica eletrofisiologista e cardiologista pediátrica responsável pelo projeto, Lânia Fátima Romanzin Xavier, ainda na fase aguda os pacientes são submetidos a exames de sangue, eletrocardiograma, holter e ecocardiograma. Conforme o resultado desses exames, é possível descobrir o acometimento do coração pelo vírus e, consequentemente, otimizar a terapia ainda na fase aguda. Na sequência, o paciente é encaminhado para o seguimento ambulatorial. Atualmente, 26 pacientes estão em acompanhamento. De acordo com a médica, é importante que seja realizada essa investigação ampliada na fase aguda da infecção pelo coronavírus, com o intuito de documentar o envolvimento de órgãos-alvos, direcionando o seguimento necessário pós-COVID-19.
“No ambulatório de cardiologia, nós avaliamos vários pontos”, explica Lânia. O primeiro é que os pacientes podem desenvolver uma alteração cardíaca chamada de miocardiopatia dilatada, que é decorrente de um processo inflamatório que acomete o músculo do coração na fase aguda da COVID-19. Neste caso, o coração pode evoluir para insuficiência cardíaca. O tratamento direcionado e o seguimento clínico especializado são fundamentais no prognóstico desses pacientes. O segundo ponto é descobrir o grau de envolvimento cardíaco para orientar a necessidade de intervenções terapêuticas precoces. Isso porque alguns pacientes são completamente assintomáticos do ponto de vista cardíaco, mas, a médio e longo prazo, a inflamação que afetou o músculo do coração na fase aguda pode ocasionar uma cicatriz e ser o foco de uma arritmia cardíaca no período tardio. Já há relatos na literatura de situações como essa em adultos.
Esta avaliação cardiológica também determina se o paciente está apto a voltar às suas atividades físicas de forma normal, pois a criança tem uma atividade física tão intensa que muitas vezes se compara a de um atleta. “Estamos em uma constante curva de aprendizado na COVID-19, e que a luz da sabedoria nos oriente para fazermos o melhor por nossos pacientes”, enfatiza a médica.
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