Total de atendimentos no ano chegou a 554. Campanha Pra Toda Vida alerta a sociedade para a importância da denúncia
Uma estatística triste. A cada ano, o Hospital Pequeno Príncipe recebe centenas de crianças e adolescentes vítimas de todos os tipos de violência: sexual, física, psicológica, negligência ou autoagressão. Em 2020, foram 554 atendimentos, sendo que a violência sexual foi a predominante, com 362 crianças vítimas, o que corresponde a 65,3% do total de casos. Ao todo, 103 crianças necessitaram de internação para se recuperar das lesões sofridas ou para serem retiradas da convivência da família, até que os órgãos de defesa da infância tomassem as medidas protetivas cabíveis. “São números estarrecedores, que ressaltam a importância de a sociedade estar atenta, ouvir os pedidos de socorro desses meninos e meninas e denunciar sempre, pois a denúncia pode salvar vidas”, enfatiza a diretora executiva do Hospital, Ety Cristina Forte Carneiro.
Para sensibilizar a sociedade sobre a importância da denúncia, o Pequeno Príncipe mantém, desde 2006, a Campanha Pra Toda Vida – A Violência não Pode Marcar o Futuro das Crianças e Adolescentes. Por meio de manuais voltados a profissionais de saúde e da educação, livros sobre autoproteção voltados ao público infantojuvenil e mobilização da comunidade por meio de vídeos, posts em redes sociais e outros materiais, a campanha busca dar visibilidade ao tema, seja ajudando os profissionais a identificar os sinais de violência, seja incentivando as pessoas a fazer denúncias. “As crianças pedem socorro e nem sempre seu pedido de ajuda é acolhido. O menino Henry Borel é um exemplo. Ele contou às pessoas que amava o que estava acontecendo, mas não foi ouvido. Precisamos acolher essas crianças e salvá-las desse círculo de violência, que se intensificou com a pandemia”, defende Ety.
Especialistas são unânimes em dizer que a necessidade de ficar mais tempo em casa, trazida pela pandemia da COVID-19, agravou os casos de violência contra as crianças. “Historicamente, em cerca de 80% dos casos de violência, o agressor é alguém da própria família ou conhecido da família. Em tempos de pandemia, a convivência com esses agressores está aumentada. Se somarmos isso ao fato de as pessoas estarem mais estressadas, menos tolerantes, com diversos problemas sociais e ainda sem a escola, que é um lugar de proteção das crianças, elas, sem dúvida, estão muito mais vulneráveis”, analisa a psicóloga do Pequeno Príncipe, Daniela Prestes.
Perfil das vítimas
Segundo relatório de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma a cada duas crianças – ou seja, um bilhão de meninos e meninas – sofre algum tipo de violência no mundo a cada ano. A Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, que mantém o Disque 100, contabilizou 95.252 denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes em 2020 no Brasil. No Pequeno Príncipe, foram 554 crianças atendidas. A maioria das vítimas, 67,5% do total, era meninas. De todos os meninos e meninas atendidos, 167 apresentavam lesões aparentes. Enquanto em 2019 duas crianças foram retiradas da família e encaminhadas a abrigos, em 2020 o número passou para oito.
A mãe foi a principal suspeita da agressão em 132 casos, seguida do pai, em 120 casos, e do padrasto, em 55 casos. É também a mãe a principal responsável pela busca de atendimento médico, o que ocorreu em 78% dos casos. O pai vem em segundo lugar, com 8%, seguido dos avós, com 4%.
Nos casos de violência sexual, as menores crianças vítimas desse tipo de violação foram três meninas e um menino com 10 meses de idade. Em três dos quatro casos, o pai foi o principal suspeito. Em 81% dos casos, a violência foi cometida por alguém com vínculo familiar com a criança.
Veja, ouça, denuncie
A Campanha Pra Toda Vida de 2021 tem como tema um chamado ainda mais forte para a sociedade no engajamento de proteção às crianças e aos adolescentes. “‘Veja, ouça, denuncie’ é um apelo à sociedade, é um pedido para que todos fiquem de olhos abertos, atentos aos pedidos de socorro das crianças e em ação, denunciando os casos suspeitos de violência. A denúncia pode ser feita ligando de forma anônima para o Disque 100 (nacional), 181 (Paraná) ou 156 (Curitiba). Esse é um gesto que tem o poder de salvar vidas”, ressalta Ety.
Iniciativas se adaptam às regras de distanciamento social impostas pela pandemia e migram para o ambiente virtual
Pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) foram priorizados. Estão sendo oferecidas consultas em 13 especialidades