Serviço de Transplante de Medula Óssea completa 10 anos

No período, foram realizados 303 transplantes em 280 pacientes, consolidando o serviço como um dos maiores do Brasil a atender pelo SUS

Enzo Eliseu chegou ao Hospital Pequeno Príncipe em 2015 com apenas dois meses de vida, pesando menos de 2 quilos. Apesar da pouca idade, o menino já travava uma longa batalha pela vida. Nascido em Belém do Pará, havia sido encaminhado para atendimento em um hospital de São Paulo. Porém, com o diagnóstico de uma doença rara, foi encaminhado para o Pequeno Príncipe em busca do único tratamento que poderia restaurar a sua saúde: um transplante de medula óssea (TMO). “Os médicos nos disseram que não havia tempo para encontrar um doador 100% compatível. Então, eu mesma fui a doadora, com 50% de compatibilidade”, conta a mãe, Marcilene Oliveira Silva. O transplante foi um sucesso e o menino, hoje com 5 anos, conseguiu superar a grave desnutrição que ameaçava a sua vida, bem como a doença rara. “O Enzo só está aqui porque a equipe do Pequeno Príncipe se doou integralmente a ele. Eles são anjos na nossa vida”, declara ela, emocionada.


O transplante de Enzo é um dos 303 procedimentos realizados nestes 10 anos do Serviço de TMO do Pequeno Príncipe. “Nesse período, nos tornamos um dos maiores centros de transplante pediátrico da América Latina, principalmente na área de transplantes alogênicos (quando as células transplantadas vêm de outro doador)”, destaca o médico que implantou o serviço, Eurípides Ferreira.

“Quando o doutor Eurípides começou a sonhar e desenhar um setor de oncologia, ainda no início da década de 1960, ele foi um visionário. Sempre foi um homem à frente do seu tempo, com uma capacidade muito grande de traçar objetivos e metas, e realizá-los. Com uma equipe dedicada, fizemos uma história de evolução de proteção e cuidado na assistência, com excelência técnico-científica, e cuidado humanizado, que culminou com a implantação do Serviço de Transplante de Medula Óssea”, ressalta a diretora executiva do Pequeno Príncipe, Ety Cristina Forte Carneiro.

Desafios 
Encontrar um doador compatível é um dos grandes desafios para realizar um transplante de medula óssea. Segundo a médica-chefe do serviço, Carmem Maria Sales Bonfim, como a população brasileira é altamente miscigenada, as chances de encontrar um doador 100% compatível na família é de apenas 25%. “No Pequeno Príncipe temos uma pessoa exclusivamente dedicada a essa busca. Esta coordenadora pode identificar rapidamente as chances que um determinado paciente tem para encontrar um doador nos bancos nacionais ou internacionais. Se esta chance for pequena ou a disponibilidade do doador não for imediata, temos experiência para prosseguir com outros tipos de doadores como, por exemplo, doadores haploidênticos (quando a compatibilidade não é de 100%) identificados dentro da própria família”, explica a médica.

Doenças raras
Outros dois grandes diferenciais, segundo a médica, são o atendimento a crianças de baixa idade e a pacientes com doenças raras. Este foi o caso do pequeno Henry. O garoto nasceu com a mesma doença rara do irmão e, como havia chances de ele ter o mesmo diagnóstico, sua mãe, Kelly Akemi Bueno, foi acompanhada durante toda a gravidez. A família foi integrada a um projeto de pesquisa do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, que investiga as doenças raras e é coordenado pela médica e pesquisadora Carolina Prando. Com isso, o diagnóstico do garoto foi fechado no seu primeiro dia de vida e imediatamente ele começou a receber os cuidados necessários.

Ao completar dois meses, Henry foi submetido ao transplante de medula óssea e está tendo a oportunidade de crescer e se desenvolver de forma saudável. “O meu filho mais velho também fez um TMO aos 3 anos, mas como o diagnóstico dele foi tardio, ficou com muitas sequelas. O diagnóstico precoce, que foi possível por meio da pesquisa, e a excelência da equipe do Serviço de Transplante de Medula Óssea, fizeram toda a diferença na vida do meu filho mais novo”, afirma a mãe. De todos os transplantes realizados nestes 10 anos, 26% foram em crianças com idade abaixo de 3 anos.

Equipe multidisciplinar
O fato de ser um hospital que oferece 32 especialidades e conta com equipes multidisciplinares também é determinante para o sucesso do Serviço de Transplante de Medula Óssea do Pequeno Príncipe. “O atendimento é realizado por médicos com formação em transplante pediátrico, que contam com o suporte diário de profissionais de outras especialidades, como infectologistas, intensivistas, nefrologistas, cardiologistas, neurologistas, endocrinologistas, dermatologistas e hemoterapeuta. A equipe multidisciplinar completa-se com psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, fisioterapeutas, dentistas e farmacêuticos. O serviço também atua em parceria com as unidades de terapia intensiva do Pequeno Príncipe, o Laboratório Genômico e o Instituto de Pesquisa, por exemplo. Esse trabalho em equipe garante um atendimento de excelência e faz toda a diferença no tratamento dos pacientes e nos resultados dos transplantes”, avalia a médica.

Planos futuros
Implantado em abril de 2011, inicialmente com três leitos, o Serviço de Transplante de Medula Óssea do Pequeno Príncipe foi ampliado em 2016, passando para dez leitos. Agora, o objetivo é inaugurar mais dois leitos. “Com esta nova ampliação, acreditamos que poderemos transplantar mais dez pacientes por ano”, planeja Carmem. Em 2020, mesmo com a pandemia do coronavírus (COVID-19), o serviço realizou 61 transplantes, o que equivale a 12% do total de transplantes de medula óssea pediátricos realizados no Brasil.

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