Hospital Pequeno Príncipe: em 100 anos, uma revolução no cuidado à saúde de crianças e adolescentes

Da redução da mortalidade infantil à construção de um modelo de atendimento baseado em direitos, instituição inova para apoiar e proteger a infância

A semente do maior hospital pediátrico do Brasil – o Pequeno Príncipe – foi plantada quando um grupo de mulheres que participava do Grêmio das Violetas trouxe para Curitiba a Cruz Vermelha. Foi por meio desta organização que se criou, em 1919, o Instituto de Higiene Infantil e Puericultura, que oferecia atendimento médico gratuito às famílias que não tinham condições de pagar por este serviço.

Olhar para a saúde das crianças no início do século XX era urgente, pois a mortalidade infantil era alarmante. Na primeira semana de janeiro de 1917, ano em que foi fundada a Cruz Vermelha Paranaense, nasceram 37 bebês em Curitiba e morreram 39 pessoas; destas, 30 eram crianças. No mês seguinte, nasceram 22 bebês e morreram 23 pessoas; destas, 19 eram crianças. “Quase cem anos após a inauguração do que foi o nosso embrião, em 2017, Curitiba registrou um dos menores índices de mortalidade infantil do Brasil: 8,3 óbitos a cada mil nascimentos. No Paraná, o índice foi de 8,9, colocando o estado entre os três melhores resultados do país. Podemos afirmar, com muita humildade e também muita certeza, que contribuímos significativamente para a construção dessa nova realidade”, diz a diretora executiva do Pequeno Príncipe, Ety Cristina Forte Carneiro.

Ao consolidar o atendimento ambulatorial às crianças, o Grêmio das Violetas e a Cruz Vermelha logo perceberam que era preciso avançar para o atendimento hospitalar. Após uma série de campanhas de arrecadação, em dezembro de 1922 foi lançada a pedra fundamental do Hospital de Crianças, que foi inaugurado em 1930.

No início do século XX, a oferta de mingaus, sopas e leite de vaca não esterilizado no lugar do leite materno contribuía para que as crianças desenvolvessem infecções gastrointestinais, principal causa da mortalidade infantil na época. Hoje a realidade é muito diferente. “Especialistas são unânimes em dizer que, abaixo de um dígito, o índice de mortalidade infantil precisa do apoio hospitalar para continuar caindo. Nossas crianças não morrem mais de diarreia. Elas enfrentam problemas como malformações cardíacas, doenças raras e neoplasias, situações nas quais o diagnóstico precoce e o tratamento altamente especializado são fundamentais para um bom desfecho”, explica Ety.

Duas décadas após a inauguração do Hospital, a instituição já apresentava uma postura de atenção e cuidado integral dos pacientes. No relatório referente ao decênio 1940-1949, o então diretor Haroldo Beltrão escreve: “O Hospital de Crianças não tem se contentado em ministrar a seus pacientes ambiente higiênico, utensílios adequados ou aparelhagem própria à terapêutica para investigação científica. O que tem procurado manter como característica é uma organização clínica que assegure proteção ampla, pronta e eficaz em qualquer doença que possa ameaçar a vida ou a saúde de uma criança”.

Se no início esta vocação esbarrava em limitações de diversas naturezas – desde restrições financeiras e de estrutura física, passando ainda pelos limites do conhecimento médico e científico neste período –, hoje o Pequeno Príncipe desfruta de um amplo apoio da sociedade para enfrentar seus desafios. “A grande riqueza do Hospital é concentrar em uma única instituição mais de 30 especialidades de saúde, com atuação multiprofissional. Somos referência para atendimento em doenças raras e complexas e cumprimos um papel extremamente relevante no sistema público e privado de saúde. Esse aspecto tem reconhecimento da sociedade e explica o apoio que recebemos”, ressalta o diretor técnico do Pequeno Príncipe, Donizetti Dimer Giamberardino Filho.

Já nos anos 2000, a criação da Faculdades Pequeno Príncipe e do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe consolida o olhar sistêmico da instituição e a vocação para a educação e a pesquisa, reforçando a busca contínua por inovação.

Pioneirismo

Entender que a criança era merecedora de cuidados de saúde direcionados para a sua fase de desenvolvimento e mobilizar a sociedade para garantir esse atendimento fez do Pequeno Príncipe uma instituição pioneira na luta pela garantia de direitos da infância. Somente uma década após a inauguração do Hospital de Crianças, a proteção à infância se tornou política pública pela primeira vez no país, com o Decreto-Lei nº 2.024, que criou o Departamento Nacional da Criança. E foi preciso esperar ainda o ano de 1947 para a criação do Departamento da Criança do Estado do Paraná, pelo então governador Moysés Lupion.

Esse pioneirismo acompanha a instituição em sua jornada. Na década de 1980, o Pequeno Príncipe trouxe a família para dentro do Hospital, garantindo à criança o direito de permanecer acompanhada durante toda a internação. No Brasil, esse direito passou a ser garantido em lei em 1990, com o Estatuto da Criança e do Adolescente.

O mesmo aconteceu com o acesso à educação. Desde 1987, a instituição mantém um programa de acompanhamento escolar para as crianças internadas, permitindo que elas mantenham o vínculo com a escola durante todo o tratamento. “Nós nascemos para apoiar o desenvolvimento de uma infância saudável. Ao longo dos anos, entendemos que saúde e demais direitos andam de mãos dadas. Alimentação, educação, cultura, convivência familiar, respeito e amor compõem um conjunto indissolúvel para garantir uma infância saudável. É para isso que trabalhamos estes 100 anos e nos comprometemos a continuar pelos próximos 100”, define Ety.

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